Marcelo Henrique
Hoje trago uma protagonista vinda do Agreste de Pernambuco, mais precisamente da pacata Bezerros, terra de lida firme na roça e das xilogravuras internacionalmente conhecidas, assinadas pelo artista J. Borges e seus aprendizes. Um daqueles lugares bem distantes dos referencias capitalistas que geralmente tomamos por conta ao pensar em uma cidade. Nossa heroína, de nome Marli, nasceu neste ambiente.
Para poder estudar, Marli frequentava a mesma sala de aula de seus irmãos, ainda que de idades diferentes. Mais um reflexo do abandono estatal com aquela região, que não é de hoje, mas ainda persiste em muita coisa. São diversas condições desfavoráveis, que se aglutinam para mitigar os objetivos dos cidadãos, os quais acabam sendo guiados mais pela resiliência do que, propriamente, por suas vontades ou vocações.
Nossa protagonista teve seu primeiro contato com a Língua Inglesa aos 18 anos. Foi amor à primeira vista; uma paixão gigantesca que lhe marcaria por toda a vida. Chegava a ser um deslumbre àquela jovem do agreste poder balbuciar o mesmo idioma das estrelas de Hollywood. Um sonho com ares de utopia, mas que havia encantado profundamente Marli. Mas, como a realidade nem sempre tem a doçura de um folhetim, a menina cresceu, casou-se, mudou para a cidade grande e conheceu a maternidade. Os sonhos agora eram outros.
Com o passar dos anos, Marli e família progrediram. A menina que nasceu no Agreste, na década balzaquiana morava na beira-mar do caribe brasileiro. Como uma grande esposa, deu ao seu marido engenheiro o suporte familiar necessário para que o mesmo alçasse voos cada mais maiores e mais prósperos. Como mãe, Marli sentia-se realizada por poder, nos tempos de hoje, dedicar-se de forma integral à família. Mas parece que nossa menina ainda queria um pouco mais.
Em uma daquelas conversas antológicas, capazes de apontar a bússola que orienta nossas vidas, Marli sentou-se com sua sogra, na varanda do apartamento e começaram a conversar sobre a vida. Nessas, mais parece que Deus faz os idosos de seu instrumento para transmitir ensinamentos para seus filhos. E, foi nesse bate-papo de nora e sogra que veio a pergunta: – Marli, você está plenamente realizada na vida? Pois nos segundos que antecederam a resposta, nossa protagonista voltou lá em Bezerros, nos seus 18 anos e lembrou do Inglês que havia ficado para trás. A resposta foi quase imediata: – eu ainda tenho sonho de ser professora de Inglês.
Naquele momento, ao invés de dissuadir a nora, fez, a sogra, o contrário. Não apenas apoiou com palavras, mas se dispôs a cuidar das responsabilidades da casa e da família, enquanto Marli poderia correr atrás de seu sonho. Era a adolescência voltando à vida adulta, com as possibilidades antes não encontradas ecoando na força de vontade e determinação de alguém que estava diante de uma oportunidade inusitada. Marli não se deixou conduzir pelo comodismo da vida confortável da qual já desfrutava. Fez daquela uma chance deixar um legado, sua marca para a posteridade.
Marli passou dias, meses, até anos estudando das seis da manhã até às 18 horas, com poucas interrupções. Contou com a ajuda não apenas de sua sogra, mas também de toda a família, que acabou aderindo ao sonho de nossa menina. Nesse ritmo, nossa protagonista retomou seus estudos e fez cursos nacionais e internacionais de Inglês. Foi muito esforço, muita luta e transpiração. Hoje, a Prof. Marli é a English Teacher de um dos maiores grupos educacionais do mundo, tendo a nobre missão de levar às crianças as primeiras palavras da Língua Inglesa, retornando às suas mãos, o poder encantado de despertar o mesmo encantamento que lhe inebriou aos 18 anos.