O ministro da Fazenda, Fernando Hadadd, disse nesta segunda-feira (25) que a continuidade do Mercosul está ameaçada com a possibilidade da eleição do candidato de extrema-direita, Javier Milei, para a presidência da Argentina.
“O Mercosul está em risco sobretudo pelos eventos próximos que podem ocorrer no nosso principal parceiro comercial. Não se sabe o alcance da narrativa do candidato que lidera as pesquisas na Argentina”, alertou ao palestrar na Fundação Getulio Vargas, na capital paulista.
Notícias relacionadas:
- Haddad adverte França sobre tentativa de atrasar acordo Mercosul–UE.
- Acordo entre UE e Mercosul pode sair em 2023, diz presidente Lula.
Milei foi o candidato mais votado nas eleições primárias argentinas, em agosto, e segue como favorito segundo as pesquisas de opinião divulgadas até o momento. O candidato tem uma plataforma ultraliberal no campo da economia, em que defende até o fim do Banco Central. O candidato deu declarações também contra a continuidade do Mercosul – bloco de integração regional que reúne como membros Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além da Venezuela, que está suspensa.
União Europeia
Para fazer contraponto a essa movimentação, Haddad acredita que seja importante concretizar o acordo do bloco sul-americano com a União Europeia, que está em negociação.
“O acordo com a União Europeia seria um antídoto, inclusive, contra medidas que pudessem desorganizar a região.”
Apesar de ponderar que existem dificuldades, o ministro afirmou que acredita na possibilidade de que o acordo comercial seja assinado ainda em 2023.
“Há possibilidade de firmar um acordo com a União Europeia ainda este ano. O presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] está pessoalmente empenhado nessa tarefa de firmar o acordo. Há resistência na Europa, sobretudo da França, em relação à abertura do mercado europeu a produtos brasileiros. Mas, eu penso que há também o desejo, até porque não tem muito para onde se caminhar”, contextualizou.
Além da Europa, Haddad avalia que seja de interesse do Brasil estreitar laços com os Estados Unidos, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias que reduzam o impacto ambiental da geração de energia.
“Um acordo de cooperação com os Estados Unidos seria um coroamento de uma política multilateral importante.”
O ministro ressaltou que nesta segunda-feira participa de um encontro com 25 empresários norte-americanos, sobre esse tema, organizado pela Câmara de Comércio Americana.
Política verde
Haddad avalia que a retomada das políticas de proteção ao meio ambiente tem ajudado a abrir portas para o país no cenário internacional. “Fomos ajudados pelo trabalho que o Ministério do Meio Ambiente está fazendo, que já reduziu em 40% o desmatamento na Amazônia, em oito meses”, destacou.
Segundo ele, esses avanços acontecem apesar das estruturas de combate a crimes ambientais ainda sofrerem com o desmonte promovido pelo governo anterior: “sem as ferramentas necessárias para promover esse combate. Os órgãos de fiscalização estão muito depauperados ainda. Não foram ainda recuperados”.
Mais do que proteger os recursos naturais, Haddad disse vislumbrar que é preciso que um modelo de produção menos poluente seja o centro das políticas de desenvolvimento econômico.
“Nós queremos nos reindustrializar a partir de uma matriz energética limpa. E queremos atenção do mundo para esse processo de reindustrialização.”
Um processo que, na visão do ministro, deve atrair dinheiro de outras partes do mundo. “Nós temos condições de atrair investimentos para a produção dos chamados produtos verdes, que podem ser produzidos no Brasil. Podem ser manufaturados no Brasil. Na hora que você tiver energia limpa e terras raras, minerais estratégicos em abundância, você vai poder tanto exportar o lítio in natura, o hidrogênio, a amônia, mas você vai poder manufaturar, no Brasil, produtos que tenham baixa pegada de carbono”, exemplificou.