A dependência química e suas tragédias anunciadas

dependência química


Marcelo Henrique

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Uma das doenças que mais crescem no mundo é o abuso e a dependência de substâncias entorpecentes, independente de sua classificação como lícitas ou ilícitas. Não apenas as drogas, mas também o etilismo e o tabagismo ocupam importante destaque nessas tristes estatísticas que corroem a população brasileira. Índices que, embora se confundam, com os de segurança pública, jamais devem perder seu direcionamento ligado à saúde, verdadeira pasta responsável pelo cuidado e atenção aos que, artificialmente, perderam a sobriedade.

Como diz o sociólogo Hamilcar Arruda Filho, a doença do dependente químico não comove a sociedade, ao contrário. O grupo dos cidadãos ditos “de bem” encaram as pessoas dominadas pelo vício com adjetivos degradantes, sempre ligados ao descompromisso com o trabalho, atribuindo-lhes uma ideia de proposital negligência pessoal. Por isso, muitas vezes, acabam se tornando massa de manobra de grupos que, infelizmente, em várias situações, com o apoio da própria família do dependente, cuidam de “esquecê-los” dentro de verdadeiras masmorras. Tudo em nome do bem-estar da família e da sociedade.

Ocorre que são pessoas. São seres humanos que demandam tratamento específico e acolhida, sobretudo. Não é possível, simplesmente, isolar esses cidadãos e torna-los invisíveis aos olhos do homem-médio. Nesse sentido, situação ainda mais grave reside naqueles que não dispõem de uma família com condições financeiras suficientes para lhes “isolar”. E, como decorrência natural da realidade brasileira, esses são a grande maioria. Uma população de zumbis vagando pelas ruas das grandes metrópoles, sem qualquer tipo de assistência do Estado, sempre afugentando as pessoas, percebendo seus olhares de reprovação e ouvindo os mais humilhantes insultos, a todo tempo.

Com o agravamento da crise econômica, as mazelas sociais e os próprios desafios do mundo moderno, cada vez mais exigente, este grupo de pessoas não para de crescer. Além disso, cada vez mais oprimidos, muitas vezes são tratados pelos cidadãos e autoridades como próprios pares dos animais de rua, de forma progressivamente mais clara e ostensiva, sem maiores pudores, como se observava em outros tempos.

Dia desses, uma de minhas mentoradas foi brutalmente atacada, à luz do dia, no centro de São Paulo, em plena estação do metrô da Praça da Sé. Delinquentes habituais? Batedores de carteira? Não. Dependentes químicos amoitados, tentando abrigarem-se da chuva, em uma cidade cuja arquitetura se torna cada vez mais aporofóbica. A advogada fora atacada e correu sim risco de morte, ante a avidez que os indivíduos estavam em busca de algo com valor econômico, naturalmente para se prestar ao escambo macabro que lhes assola diuturnamente. E esse não é um caso isolado. Infelizmente, tem virado estatística em nosso país, cujo crescimento anuncia uma grande tragédia social que está por vir.

Eis a grande questão proposta hoje: até quando iremos fingir invisíveis essas pessoas? Iremos esperar a descontrolada proliferação desse tipo de violência? Sinceramente, espero que não.

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