Greve dos Aeronautas: o caos como meio de pressão, mais uma vez

Aeronautas


Marcelo Henrique

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Estamos diante de um dos períodos de maior deslocamento de pessoas do ano. Em especial após anos difíceis pelas medidas de isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus, as festas de 2022 são um momento de “alforria” para muitos. São milhares de turistas, em geral beneficiários de remarcações e da compra de pacotes de viagem para esta época tão emblemática. Dentro desse contexto de lotação dos aeroportos, aeronautas – pilotos e comissários – engendraram uma paralisação escalonada, desde segunda (19), reivindicando reajustes salariais.

A greve, que é coordenada pelo sindicato que representa a categoria, consiste na pausa completa nas atividades laborais compreendidas no período entre 6 e 8 horas da manhã, nos principais aeroportos do país. Parece pouco, mas é o suficiente para estabelecer o caos nos terminais aeroportuários afetados e, também, nos que se encontram nas proximidades, haja vista os remanejamentos de voos que tem ocorrido. E vale destacar que o formato da paralização, bem como seus horários foram unilateralmente decididos pela entidade de representação classista, em nítida demonstração da equivocada complacência estatal, em claro prejuízo da população.

Assim como o episódio da greve dos caminhoneiros, em passado próximo, a gestão do país deflagra sua flacidez institucional, estando absolutamente rendida, nas mãos de determinadas classes profissionais. E essa dependência – quase orgânica – é elemento evidente da subserviência de um Estado engessado pelas artimanhas políticas e pouco compromissado com a população. Naquela paralização, poucos dias foram suficientes para que o desabastecimento imperasse, os preços disparassem e as autoridades cedessem, concedendo isenções e benefícios impensados em tempos de normalidade. O exemplo foi bom.

Os aeronautas estão seguindo exatamente a mesma cartilha. Instituir um estado de caos que não pode ser controlado pelas autoridades, o que impõe concessões para que as coisas voltem ao normal e a população não saia ainda mais prejudicada. E o que era para ser uma questão de natureza nitidamente privada, torna-se algo público, com a conta, mais uma vez paga por nós contribuintes. Afinal, para fazer frente às reivindicações da categoria, as empresas aéreas terão que desembolsar altas quantias, o que, definitivamente, não estava nos planos dos dirigentes do setor.

Mas, calma! Estamos no Brasil. Sob a desculpa de que o preço das passagens é flutuante e  determinado pelo mercado (oferta x procura), os bilhetes já experimentam forte alta. E quanto ao restante, também já está tudo em ordem. Por meio de uma medida provisória, o governo zerou as alíquotas de PIS e COFINS do setor aéreo para os próximos anos, em uma renúncia fiscal de R$ 1,5 bilhão. A greve daqui a pouco acaba. Trocando em miúdos, todos nós vamos pagar essa conta, até mesmo aqueles que muito sonham andar de avião, mas por ser uma realidade tão distante, jamais poderão realizar.

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