Voluntariado se fortalece no Brasil e amplia a capacidade de organização do terceiro setor

Cleudes Francisca de Souza – Crédito: Divulgação Casa Aura .


Trabalho promove transformação nas dimensões social, comunitária e pessoal

7,3 milhões de brasileiros dedicaram parte do seu tempo ao trabalho voluntário em 2022, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos recortes gênero, idade e escolaridade, a taxa de realização da tarefa é, respectivamente, maior entre as mulheres (4,9%), entre as pessoas de 50 anos ou mais (4,8%), e entre aquelas com ensino superior completo (6,9%). Os dados evidenciam o fortalecimento de uma prática importante para o dia a dia de organizações não governamentais e um poderoso instrumento de transformação social e desenvolvimento comunitário.

“O voluntariado é um braço valioso em nossa instituição desde a sua fundação, em 1998. Ele contribui para a fluidez dos nossos acolhimentos e a promoção de momentos que fazem da Casa de Apoio Aura um lugar especial de amor e compaixão para as famílias e seus assistidos. Temos voluntários que atuam em diversas frentes, com escala de trabalho definida, como conselheiros na área de gestão; em atividades do brincar; na promoção do bem-estar por meio de práticas de reiki, yoga, dia da beleza, assistência espiritual e apresentações musicais; em eventos para os acolhidos; e como anfitriões de visitantes. Contamos ainda com voluntários artesãos que ministram oficinas para a autonomia e o aprendizado dos acolhidos e seus acompanhantes, e um grupo que auxilia em nosso bazar desde a triagem, organização, divulgação à venda de produtos”, declara Cleudes Francisca de Souza, que integra o comitê gestor da Casa de Apoio Aura.

Raphael Lugo Sanches é voluntário da Aura desde maio de 2024 e ensina práticas de yoga (posturas, meditação e respiração consciente) para as crianças, seus acompanhantes e funcionários da casa. “Acredito que através das ferramentas do yoga as pessoas atendidas adquirem autoconhecimento, bem-estar físico e psicológico”, afirma.

Para Juliana Venancio Andrade, que acompanhou a construção da sede da Aura da janela do apartamento dos seus pais e se tornou voluntária da casa em 2018, sua formação em psicologia se encaixou perfeitamente nas atividades na brinquedoteca. “Eu tenho prazer em estar e brincar com as crianças. Sempre trabalhei com essa faixa etária, o que me fez adquirir habilidades interpessoais, como paciência, ser resoluta e ao mesmo tempo carinhosa, ter energia, estabelecer limites e regras, e o mais importante, saber observar, ouvir e entender a necessidade de cada um, ser prestativa”, descreve.

Além do impacto social e do desenvolvimento de habilidades e competências, como mencionaram Raphael e Juliana, o trabalho voluntário traz modificações profundas em quem assume a missão. “Aprendi que doando um pouquinho do nosso tempo é possível fazer uma grande diferença na vida das pessoas. O trabalho voluntário nos transforma em pessoas melhores e mais empáticas. É sempre marcante quando uma mãe, criança e funcionário demonstram que estão felizes com aquele momento que compartilhamos”, diz Raphael Lugo Sanches.

“Ser voluntário é uma experiência transformadora que proporciona aprendizados valiosos. Ao entrar em contato com as diferentes realidades desenvolvemos uma maior capacidade de nos colocar no lugar do outro e de compreender suas dificuldades. Sentimos gratidão ao ajudar o outro, percebemos o quanto temos e aprendemos a valorizar as pequenas coisas. O envolvimento emocional nos renova, nos torna mais conscientes e nos conecta verdadeiramente com o outro. A cada dia que chego e vejo um rostinho conhecido ou novo, meu coração se enche de alegria. Que o amor seja sempre o bem maior que possamos oferecer a alguém”, relata Juliana Venancio Andrade.

Cleudes Francisca de Souza destaca que ser voluntário é assumir um compromisso com a causa e desempenhar suas tarefas com responsabilidade, ética e transparência. Ela conta que um dos setores da Aura conta exclusivamente com o suporte dos voluntários: “Trata-se de oficinas que capacitam as famílias para a geração de renda e economia solidária. Durante o processo de adoecimento e tratamento, um dos responsáveis pela criança ou pelo adolescente precisa se dedicar inteiramente aos cuidados, se desligando de suas atividades profissionais. As oficinas abrem possibilidades de atividades alternativas que podem minimizar a redução de renda das famílias, além de contribuir para o bem-estar e dignificar a vida dos participantes”, revela.

Desafios e capacitação de voluntários

Em vista de um papel fundamental para ampliar a capacidade de organização das ONGs e ajudar no cumprimento de suas missões, o principal desafio é encontrar voluntários engajados com a causa, com disponibilidade de tempo e dispostos a executar o trabalho de acordo com as necessidades da instituição, como esclarece Cleudes. “Apesar de muitas pessoas terem o desejo de servir em atividades de voluntariado, a disponibilidade é sempre um obstáculo. A maior demanda de voluntários é em horário comercial, durante a semana, quando acolhemos um maior número de crianças. A frequência é outro desafio, porque o voluntariado requer compromisso e engajamento com a causa e, muitas vezes, as ausências afetam a realização de atividades planejadas”.

Cleudes Souza acrescenta que durante a entrevista com os candidatos ao voluntariado procura-se identificar e conjugar suas habilidades e competências com as necessidades da Casa Aura e o perfil da vaga. “Depois da seleção, o voluntário passa por um treinamento para conhecer o funcionamento da Aura, a identidade organizacional e os princípios do código de ética e conduta. Em seguida, o indivíduo é encaminhado para o setor de trabalho no qual será acompanhado de perto pelo coordenador; nesta etapa ele recebe informações e orientações específicas para exercer as tarefas”, informa.

Como ser um voluntário

Na Casa de Apoio Aura, as vagas para voluntários são divulgadas em seus canais oficiais. “Muitos voluntários chegam por indicação da rede “Amigos da Casa Aura” e em visitas espontâneas, e ficam encantados com o trabalho que realizamos”, expressa Cleudes Francisca de Souza.

“Sou vizinho da Casa Aura e fiquei curioso em saber mais sobre o trabalho desenvolvido ali. No site, vi a possibilidade de contribuir como voluntário e logo me senti atraído pela ideia”, expõe Raphael Lugo Sanches.

“Sempre tive vontade de fazer trabalho voluntário.  Assim que descobri sobre a Casa Aura, senti que seria ali. Marquei um horário para uma entrevista e aqui estou até hoje”, comemora Juliana Venancio Andrade.

“Estamos sempre disponíveis a receber pessoas interessadas no voluntariado observando as necessidades em nossos processos. Atualmente temos vagas para oficinas de capacitação e o bazar. Como diz o presidente do conselho da Casa de Apoio Aura, Paulo Pacheco de Medeiros Neto, ‘aqui exercemos a nossa cidadania com muito amor’, finaliza Cleudes.

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