Marcelo Henrique
Há pouco tempo, uma reflexão como essa ganharia destaque nas páginas de obras de ficção científica, diferente do que se observa nos tempos atuais, em virtude da relativização dos conceitos de concreto e abstrato que vem ocorrendo nos últimos anos. Certamente ainda causa espécie uma matéria que chame atenção para a importância do meio real em processos educativos, justamente porque a sociedade tem se virtualizado de tal maneira que já se faz possível uma não distante atualização do Mito de Platão, com a substituição de sua famosa caverna profunda e escura pelos ambientes virtuais ainda mais segregantes e alienantes que o próprio mundo intelegível poderia vislumbrar. E as crianças, cada vez mais distantes do lápis e ágeis nas extremidades das falanges, estão experimentando, ainda nas tenras idades da Primeira Infância, o universo cada vez mais introspectivo e solitário dos jogos e atividades que se desenvolvem através das telas.
Da escola, espera-se a árdua tarefa de equilibrar os mundos, intermediando as descobertas do meio real sem negar a implacável realidade do meio virtual. E nesse processo, a harmonia entre o aluno, a família e escola nunca foi tão importante. Em tempos de abundância de informação, o diálogo é o instrumento capaz de estabelecer uma moderação adequada e filtrar do infante as fake-news, bem como informações inadequadas para seu grau de maturidade. Muito visuais, as crianças absorvem com facilidade as experiências que vivenciam, por isso a importância desse trabalho conjunto em torno do aluno, com a diretriz acadêmica da escola e o suporte da família.
Um grande caso de sucesso dessa interação com o meio real, em ato conjunto entre família e escola, foi a chamada “Mostra Científica” realizada pelo Colégio Santa Madalena Sofia, unidade da Rede Damas Educacional em Maceió – AL. Segundo a supervisora pedagógica da escola, Maria Angelica Correia Baía, “Promover situações experienciais requer intencionalidades, que incluem e reconhecem os direitos de aprendizagens, identidade (pessoais, relacionais e sociais), o sentimento de pertencimento e participação que valoriza os processos e não apenas o resultado final.” Ao ser questionada sobre a mostra ser uma ferramenta intuitiva de estimular a interação da família com as práticas pedagógicas, a supervisora respondeu: “Uma tríade fortalecida entre família, criança e escola no processo educacional requer de nós uma cultura de envolvimento familiar participante, com direito de ação de reconhecimento de espaço em decisões.” E complementou: “A escola não é mais um ambiente com seus muros fechados, mas aberto para enxergar as aprendizagens como um percurso a ser trilhado junto com a criança e sua família.”.
Insta ressaltar que a “Mostra Científica” conteve trabalhos com experimentos realizados “ao vivo” e outros de natureza expositiva, todos feitos com muito capricho e muita criatividade tanto dos discentes – que apresentaram suas obras para os colegas e professores – quanto dos familiares, que se reuniram para confeccionar as peças. Em detrimento do mundo intelegível dos contextos virtuais, as crianças manusearam diversos tipos de materiais e, assim, promoveram conhecimento em plena harmonia com o meio real, locupletando os valores propostos pela Rede Damas Educacional, cujo lema se resume no brocardo latino Duc in Altum, em Português, “Avançar para águas mais profundas”. Ainda segundo a supervisora Angelica Baía, “Apesar do grande estímulo que socialmente tem ocorrido ao acesso cada vez mais antecipado a diferentes contextos tecnológicos, buscamos, em especial na primeira infância, a interação da criança com o meio real, pois desta forma acreditamos que exista engajamento dela diante dos objetivos de aprendizagens”. E finaliza: “o envolvimento ativo da criança colabora para sua formação cidadã, despertando aprendizagens que envolvem todos os seus sentidos e permite um leque de diferentes linguagens a serem incluídas em seu conhecimento.”.
Nas imagens em destaque, os grupos que simularam a erupção de um vulcão, as crianças que demonstraram a formação e comportamento da areia movediça, e o grupo de alunos que desvendou o complexo funcionamento de um formigueiro, por meio de um corte longitudinal tomado do solo para o subsolo. Trabalhos inteligentes e que movimentaram o processo de aprendizagem dos alunos e promoveram a interação entre as famílias envolvidas.
Nossas homenagens ao colégio, à supervisora, às coordenadoras Gline Costa e Livia Martins, e às professoras Patrícia Bomfim, Livia Cipola, Maria Livia Vieira, Luana Brandão e Jaqueline Araújo, que fizeram essa feira acontecer.
Marcelo Henrique