No início de 2015, o engenheiro belo-horizontino Danilo Mattos, de 30 anos, se uniu a dois amigos para fundar a Nexer, startup(conceito de pequenas empresas de tecnologia e inovação) que transforma carros comuns em veículos superconectados a partir da instalação de um hardware. O sistema permite que o motorista monitore, em tempo real, dados como as condições gerais do automóvel e consumo de combustível. “Queríamos mudar a forma como as pessoas se relacionam com seus carros, criando uma espécie de assistente pessoal de direção”, explica Mattos.
Em um ano e meio, os três sócios já colocaram a Nexer em operação em todo o Sudeste do país, além de Bahia e Santa Catarina. Agora, a empresa ganhará novo impulso e melhores condições de crescimento por meio do Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed), programa de aceleração de startups do Governo mineiro conduzido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes).
A terceira rodada do programa, que já acelerou anteriormente 73 startups, sendo 53 brasileiras e 20 estrangeiras, foi oficialmente aberta na última terça-feira (14/6) e vai oferecer aceleração personalizada, mentoria e capital semente (como é chamado este primeiro investimento em empresas ou novos negócios em fase de desenvolvimento) de até R$ 80 mil a 40 startups. Entre as selecionadas, 20 são mineiras, 10 vieram de outros estados e outras 10 são estrangeiras, de países como Argentina, Chile e Estados Unidos.
A diretora geral do Seed, Silvana Braga, destaca que o aumento da procura dos empreendedores pelo programa, que recebeu número recorde de inscrições para esta rodada, mostra o potencial do estado para o desenvolvimento de empresas tecnológicas e inovadoras. “Minas Gerais é altamente impactada com o programa, pois as empresas são desenvolvidas e geram renda e empregos no estado. Além disso, muitas se estabelecem aqui mesmo após o término da aceleração. Mesmo as que não permanecem no estado levam o nome de Minas Gerais para onde forem”, afirma.
A Nexer é mais uma representante de um segmento que cresce em todo o mundo, e que encontra em Minas Gerais um ambiente altamente promissor: o de startups. Somente em Belo Horizonte, estima-se que estas empresas faturem cerca de R$ 140 milhões e gerem cerca de 800 empregos.
“Nossa ideia era resolver um problema que atingisse muitas pessoas. Percebemos que muita gente não sabe o que fazer em seus carros, além de muitas vezes não dirigirem da maneira mais adequada”, conta Mattos.
Para resolver o problema, ele e seus dois sócios criaram um hardware que, plugado ao veículo e com o auxílio de um aplicativo de celular, comunica-se com o motorista, avisa sobre o estado de saúde do carro, quais manutenções precisam ser feitas e também analisa como o condutor está dirigindo, sugerindo mudanças.
Ao ser instalado, o pequeno aparelho identifica o modelo do carro e faz o download automático de seu manual, orientando o motorista a partir daí. “Se uma luz acende no painel, nosso hardware acessa a central do carro, descobre o problema e quais sintomas o carro apresenta”, diz o engenheiro.
A startup, que é composta por uma equipe de seis pessoas, entra em uma nova etapa com a aceleração no Seed. O fundador Danilo Mattos explica que a ideia é difundir o uso do produto por meio de parcerias com seguradoras automobilísticas.
“Esperamos crescer muito com o programa, principalmente em comunicação, marketing e posicionamento de mercado, que não são nossas expertises, já que somos todos da área de Exatas”, relata. A expectativa é de, até o fim do ano, ter 15 pessoas trabalhando no negócio.
Durante a participação no programa, as startups têm ainda oportunidades de serem vistas por potenciais investidores, e, ao final da rodada, é realizado o Demoday, evento que reúne as participantes e tem como objetivo apresentá-las para o público e aproximá-las de novos clientes, parceiros e investidores.
Aceleração de ideias
“Um dos grandes diferenciais do Seed é que oferecemos um programa de aceleração personalizado para cada startup, isto é, estudamos e fazemos um diagnóstico de cada uma, procurando entender suas necessidades. Preparamos conteúdo específico para ela se acelerar neste período conosco”, explica a diretora geral do programa, Silvana Braga.
A personalização é importante, já que o programa recebe empresas em diversas fases de desenvolvimento. A plataforma Even3, por exemplo, criada pelo recifense Leandro Reinaux e seus dois sócios, é uma das aceleradas da 3ª rodada e já funciona desde janeiro de 2015, com cerca de 100 mil usuários cadastrados.
Disponível para organização de eventos científicos, como congressos, simpósios e seminários, a ferramenta online congrega diversas funcionalidades tanto para o organizador – que pode receber inscrições pelo site, submeter trabalhos científicos, distribuir materiais para a banca avaliadora, enviar certificados, fazer planilhas financeiras, entre outras funções – quanto para o participante, que pode ter acesso a diversos materiais, gerar certificados etc.
“Já realizamos mais de 300 eventos pela plataforma. Agora, participando do Seed, esperamos conseguir lançar um aplicativo no futuro. Neste momento, estamos focados na tradução da plataforma para o inglês e o espanhol, já que muitos eventos são internacionais”, explica Reinaux.
Segundo ele, a vinda para Minas Gerais não foi por acaso, uma vez que 50% do mercado de eventos técnico-científicos estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul do país. “Queremos nos consolidar no país, estamos muito empolgados por poder fazer parte do Seed e estar em Minas Gerais”, comemora.
Educação em foco
Uma tendência crescente entre as startups é o investimento em ensino a distância e em soluções adaptativas, como a gamificação (aplicação de técnicas de jogos para o engajamento em diversos contextos), para trabalhar a educação em geral ou auxiliar professores na gestão das aulas.
É o caso da Dágora, plataforma criada por quatro mineiros em Santa Rita do Sapucaí e que agora recebe aceleração do Seed. “Nossa ideia é oferecer uma plataforma que seja um ponto de encontro para quem quer aprender e quem quer ensinar”, resume um dos fundadores, Marcos Vinícius David, de 27 anos.
Hoje, o sistema funciona unindo financiamento coletivo e Educação a Distância (EaD), mas o objetivo é ser uma plataforma decrowdlearning (ensino colaborativo), com diversas funcionalidades agregadas. “Temos apenas seis meses de empresa, então por enquanto oferecemos conteúdo na área de tecnologia. Porém, estamos abrindo espaço para 51 áreas de conhecimento para oferecer uma infraestrutura gratuita de ensino e aprendizagem”, diz.
Já o americano de Chicago, Justin Murray, 37 anos, busca, junto aos dois sócios, desenvolver ainda mais a RealLife English, plataforma comunitária de aprendizagem em inglês, que busca conectar estudantes do idioma e pessoas que falam a língua em conversações reais por meio de vídeo chat. “Funciona na forma de encontros rápidos, de três minutos, entre pessoas do mundo todo. Se você for bem, pode estender a conversa”, conta Murray.
O americano, que era professor de inglês, teve a ideia ao perceber, com seus colegas e hoje sócios, também professores, que o sistema de ensino da língua estrangeira deveria ser mais social e dinâmico para ser efetivo. “Temos um ano e meio desde o lançamento e já pudemos perceber que teremos uma excelente estrutura de aceleração e mentoria no Seed, pois o senso de ecossistema aqui é muito forte. Estamos prontos para decolar com a ajuda do programa”, espera.
Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (SEED)
Sob condução da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), o Seed tem como objetivo incentivar o empreendedorismo e transformar Minas Gerais em um polo tecnológico, por meio de ideias inovadoras. O programa tem alcance internacional e busca atrair empresas de todo o mundo para o ambiente do estado, estabelecendo um ecossistema de integração, troca de experiências e geração de resultados.
Considerado pela Bloomberg Foundation um dos grandes projetos de inovação do setor público no mundo, o programa tem como diferencial a não exigência de CNPJ ou participação do Governo no negócio criado pelas startups.
Na nova gestão e rodada do programa, foram feitas algumas mudanças, como, por exemplo, o diferencial na política de concessão dos recursos: o sistema de verba permite que o incentivo financeiro (de até R$ 80 mil) seja concedido por antecipação, deixando de ser por reembolso. Além disso, a contrapartida exigida, que antes era de 10%, passa a ser de apenas 5% nesta edição.
Outra mudança foi no local do programa, que agora funciona no espaço CentoeQuatro, na região central de Belo Horizonte. O novo Seed tem 618 m² de área ao todo, e seu design foi pensado e baseado no conceito industrial: os materiais, acabamento e design dos mobiliários buscam remeter ao universo da indústria de forma moderna e descontraída, tornando o espaço decoworking inspirador para os empreendedores.