Na festa do adeus, ícones brasileiros encerram os Jogos Olímpicos no Maracanã



Os olhos sorriam porque a boca precisava gritar. Depois de 19 dias de competições, a Olimpíada do Rio terminou em clima de alto-astral, na noite deste domingo, no estádio do Maracanã, com muita dança, música e espírito de carnaval. Depois de uma irretocável festa de abertura, a cerimônia de encerramento tentou aplacar a saudade já instalada na cidade com a valorização do espírito carioca, ou seja, aquele que, mesmo diante de adversidades, sabe manter o entusiasmo.

Figura emblemática na abertura, o aviador Santos Dumont surgiu novamente na festa deste domingo (para desespero dos norte-americanos que não o aceitam como Pai da Aviação), agora na contagem regressiva de dois momentos: o início da cerimônia e o fim da Olimpíada.

Criador do relógio de pulso, Santos Dumont foi recebido pelo chorinho Odeon, de Ernesto Nazareh. As boas-vindas foram completadas por uma enorme imagem do Pão de Açúcar, desenhada no palco que, por sua vez, trazia as famosas curvas do calçadão de Copacabana. Natureza e ocupação urbana – outra referência da abertura, reafirmada no encerramento: a necessidade de se manter um adequado equilíbrio.

Para evitar um didatismo chato, o assunto foi tratado à base de música, com Martinho da Vila homenageando grandes compositores (como Noel Rosa, Pixinguinha e Braguinha) ao cantar os clássicos Carinhoso e Pastorinhas. A melodia das canções serviu de ponte para o primeiro ato cívico da festa, a execução do Hino Nacional do Brasil. Cumprida a obrigação, a festa recebeu seus principais convidados – atletas das 207 delegações tomaram as cadeiras postadas no gramado. As bandeiras foram carregadas por medalhistas, como o canoísta Isaquias Queiroz, representando o Brasil.

Jovens pedem um ritmo animado, o que foi providenciado pela música eletrônica do DJ Dolores e a Orchestra Santa Massa, além do DJ Mika Mutti, que fundiu a sonoridade eletrônica com percussão de raiz. Sim, era preciso não se esquecer da referência brasileira, homenageada por Roberta Sá interpretando Carmen Miranda. A Pequena Notável, de fato, exibia as curvas e as cores que orgulham o Brasil, detalhes lembrados ainda pelo tecido de renda e pela elegância das obras do paisagista Burle Marx.

Com todos atletas em cena, a festa de encerramento foi usada para o lançamento do Canal Olímpico, plataforma digital gratuita que vai exibir programação própria e também eventos esportivos ao vivo. A primeira ação foi mostrar um vídeo com atletas olímpicos dançando.

Emoção é um elemento essencial em uma festa de despedida. Como a lembrança de atletas já mortos. A reverência veio acompanhada do poema Saudade, criado por Arnaldo Antunes. A palavra, aliás, foi projetada na plateia em diversos idiomas. Emocionante também foi relembrar as conquistas dos atletas ao longo da Olimpíada em imagens no telão.

DESPEDIDA
A cerimônia chegava ao final. O prefeito do Rio de Janeiro e a governadora de Tóquio trocaram bandeira olímpica e a cidade japonesa já revelou que a tecnologia será seu forte: animações mostraram exemplos dos 33 esportes em disputa e a reprodução do beira-mar de Tóquio.

A chama olímpica foi apagada em um ato cheio de simbolismo: enquanto a cantora Mariene de Castro interpretava a música Pelo tempo que durar, de Marisa Monte e Adriana Calcanhoto, uma chuva, que representa a abundância das águas tropicais, caiu sobre a pira, extinguindo o fogo. A mensagem, no entanto, não foi de finitude: uma grande árvore surgiu no centro da cena, ressaltando o novo começo.

Por fim, a maior festa brasileira ganhou o gramado do Maracanã, evocando a tradição dos blocos de rua de carnaval e o esplendor dos carros alegóricos que passam todos os anos pela Marquês de Sapucaí. Rainhas das escolas de samba, passistas, percussionistas e baianas juntam-se ao Cordão do Bola Preta para o último elemento da cerimônia, em um cortejo liderado pelo gari Renato Sorriso e a modelo brasileira Izabel Goulart.

E, passados os discursos oficiais, o Rio se despediu com seu principal produto de exportação: o carnaval. O domingo, na verdade, teve um indisfarçável gosto de quarta-feira de cinzas.

“Todos os brasileiros são heróis olímpicos”, diz Nuzman
Ao discursar na cerimônia de encerramento da Rio 2016, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Arthur Nuzman, disse que é o “homem mais feliz do mundo”.

“O melhor lugar do mundo é aqui, no Rio”, disse para o público, que acompanha a cerimônia no Maracanã. Para Nuzman, a realização dos jogos é a prova da capacidade de organização dos brasileiros.

Carlos Arthur Nuzman disse que fazer os jogos no Rio foi um grande desafio, e destacou os sete anos de luta e trabalho na organização da competição. “Mas valeu a pena cada segundo, cada minuto, cada dia, cada ano, graças a vocês”. Ele também agradeceu o apoio da torcida e de todos os brasileiros, especialmente dos voluntários que trabalharam durante os jogos. “Todos os brasileiros são heróis olímpicos. A torcida do Brasil tem a medalha de ouro”, disse Nuzman.

“Chegamos como hóspedes, saímos como amigos”, diz presidente do COI
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, agradeceu hoje (21), na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos, a participação dos brasileiros para o sucesso do evento. “Chegamos como hóspedes, saímos como amigos”, disse, emendando, em português: “Esses foram Jogos Olímpicos maravilhosos na cidade maravilhosa”.

Bach disse que os jogos vão deixar um grande legado para as próximas gerações e destacou que o evento foi uma celebração da diversidade. Ele agradeceu a participação dos voluntários que trabalharam durante os jogos e destacou o desempenho dos atletas. “Ao competir com amizade e respeito, a conviver com harmonia, estão mandando mensagem poderosa de paz para o mundo inteiro”, disse.

O presidente do COI também falou sobre a participação dos atletas refugiados na Olimpíada. “Vocês nos inspiraram com seu talento e sua força. Vocês são o símbolo de esperança para milhões de refugiados no mundo”, disse.

Seis representantes de programas educacionais e sociais que recebem o apoio do Comitê Olímpico Internacional foram homenageados pelo COI, representando a população carioca. Entre eles, estava o gari Renato Sorriso, que participou da apresentação da cidade no encerramento da Olimpíada de Londres, em 2012.

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