Carona e carro compartilhado crescem em Minas Gerais



A fiscalização cada vez mais deficiente e a impunidade para trabalhar com o transporte clandestino fomentam uma atividade cuja intensa demanda é reconhecida pelas próprias autoridades, diante de preços abaixo dos praticados no mercado formal. O transporte clandestino de passageiros entre cidades de Minas cresce, se sofistica e tenta impor dificuldades à fiscalização.

Diariamente, veículos sem autorização partem do Vale do Aço, com destino a Capital Mineira, transportando passageiros. Muitos usuários são atraídos por tarifas mais baixas que as cobradas pelo transporte convencional, e pela comodidade de pegar o passageiro em casa e deixa-lo no destino final. Quem opta pelo transporte irregular, por exemplo, não tem cobertura de seguridade, no caso de acidente, e também corre o risco de transitar com motorista inabilitado para o transporte de passageiros e sem treinamento para situações de risco.

A ideia de um grupo de mais ou menos 20 motoristas profissionais de Ipatinga é conectar condutores e passageiros com o mesmo destino, em carros de luxo, com um preço mais em conta que se o passageiro fosse de ônibus intermunicipal. Tratam as corridas na base do boca a boca e do aplicativo WhatsApp. Transportam por dia cerca de 100 pessoas nos dois destinos.

Ao menos três vezes por mês, Marlene Santiago, 56 anos, faz o percurso entre o Vale do Aço e Belo Horizonte. “Pago R$ 70 para o motorista me pegar em casa e me deixar no destino que quero. Já não pego mais o ônibus da Viação Presidente há mais de dois anos. É muito cômodo, eu ligo, e o rapaz vem me buscar”.

A viagem anunciada pela rede social é mais barata também que os valores cobrados pelos “perueiros”,como são chamados os motoristas profissionais clandestinos que buscam lucrar com as viagens. Sem saber que falava com um repórter, um deles disse que pede R$ 80 para levar alguém de Coronel Fabriciano para Belo Horizonte, enquanto a turma de internet cobra R$ 40.

No Facebook, site de relacionamentos mais popular no país, há centenas de grupos usados por gente que oferece ou busca um lugar no carro para ir de uma cidade a outra. A viagem não é gratuita, mas, pelo menos em Minas, o preço é inferior ao da passagem de ônibus. O que poucos sabem é que essa modalidade de transporte é considerada clandestina e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do estado tenta fechar o cerco contra os infratores.

Os grupos do Facebook costumam especificar as cidades às quais se destinam as caronas. Um deles, por exemplo, liga Belo Horizonte a Ipatinga, no Leste do Estado, e tem mais de 14 mil participantes. Os universitários são os principais usuários do serviço, o que explica a grande procura por cidades onde há instituições de ensino superior. “Procuro carona para hoje (sábado) Ita>>>BH. Alguém?”, pergunta um jovem no grupo Carona BH-Itabira. “Ofereço carona de Fabriciano pra BH, quarta, saída às 6h”, apregoa um rapaz no Carona Ipatinga-BH.

O preço da carona varia, a depender do trecho a ser percorrido, mas é sempre classificado como ajuda de custo. Para deter gananciosos, alguns grupos chegam a fixar o valor a ser cobrado. O Carona BH/Ipatinga/BH considera “contribuições” aceitáveis: R$ 40 a R$ 60. E reforça: “Custo visado como forma de rateio. Comprovado qualquer custo como forma de comercialização, o integrante será imediatamente excluído do grupo”.

“De carona é mais barato, a viagem é muito mais rápida e cômoda”, diz Paulo Henrique, de 29 anos, que cursa Odontologia na capital e passa os fins de semana em Ipatinga, onde moram os pais. “Nunca vou com alguém totalmente desconhecido. O Facebook facilita para conseguir referências sobre a pessoa”, diz. O jovem acha que esse tipo de transporte não deve ser regulado pelo governo. “A carona é mais uma coisa de amigos. Quem oferece busca manter o carro em bom estado, já que se preocupa com a própria segurança. Se o governo entrar no meio, vai ficar uma coisa burocrática. Ninguém mais vai querer dar carona”.

FISCALIZAÇÃO Mesmo sem fins lucrativos, esse tipo de carona é ilegal, segundo o diretor de Fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), João Afonso Baeta Costa. “É proibida a cobrança de qualquer preço para fazer transporte de pessoas, se não for licenciado. Ainda que o objetivo seja apenas cobrir os custos do carro”, ressalta.

O DER tem uma equipe de inteligência dedicada exclusivamente a monitorar a internet. “Esse trabalho começou há cerca de um ano. A equipe fica permanentemente navegando nas redes sociais”, destaca Baeta. É fácil encontrar gente não licenciada oferecendo carona remunerada, mas o desafio é surpreendê-las prestando o serviço. “Já identificamos algumas pessoas, mas ainda não conseguimos um flagrante, já que elas atuam em locais variáveis. Essa tem sido nossa maior dificuldade”.

LUCRO O cálculo considera que um litro de gasolina custa R$ 3,90 e permite percorrer uma distância média de 14 quilômetros. O trecho entre Ipatinga e BH, por exemplo, custaria R$ 80, incluindo despesas com óleo do motor, desgaste de pneus, seguro do veículo e IPVA. Ao ir com o carro lotado (quatro passageiros), o motorista recebe R$ 320 (R$ 80 por caroneiro). Excluídas as despesas, portanto, sobrariam R$ 240 por viagem. O que chega a ser um valor muito interessante.

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