Se a gente não levar em conta os meses de janeiro e dezembro, 2021 tem 43 fins de semana (sábados e domingos) e 43 meios de semana (de terça a quinta-feiras). Já o calendário do futebol brasileiro, considerando as competições nacionais e continentais, precisa de 38 fins de semana (jogos das Séries A a D) e 36 meios de semana (17 para a Copa do Brasil e 19 para a Libertadores/Sul-Americana). Feitas as contas, restam cinco fins de semana e sete meios de semana, que podem ser utilizados para datas Fifa, por exemplo.
A conta, bem básica, foi feita sem esforço, e é evidente que existem outros fatores que interferem nessa matemática. Como, por exemplo, a Copa do Nordeste, a Copa Verde e, claro, os Estaduais. Que, ao pensarmos bem, e pelo passado recente, é o item mais frágil nessa estrutura.
Longe de mim dizer que os estaduais não são importantes. Pelo contrário: são eles que formam as rivalidades e que mantêm vivos dezenas de clubes Brasil a fora. Não fossem esses campeonatos, milhares de profissionais do futebol estariam desempregados. Mas como manter essas competições sem o interesse do torcedor e o apoio de patrocinadores?
Notícias dão conta de que o movimento dos 40 clubes das séries A e B tem se fortalecido e que já há empresas interessadas em investirem bilhões (isso mesmo, bilhões) no novo campeonato que virá. Sem a interferência da CBF, nem das Federações. Uma nova Copa União, se pudermos lembrar do movimento do Clube dos 13 de 1987, que nem sequer chegou a indicar um campeão, visto que a Justiça Comum impede de reconhecer o Flamengo como tal.
A questão primordial é que caberá à CBF e às Federações darem o aval ao novo campeonato, organizado pelos clubes e a nova liga. Enquanto a CBF tem assegurados contratos publicitários e receitas com a promoção da Seleção, as federações têm nos contratos com as TVs boa parte de seu faturamento anual. Será que vão aceitar alguma mudança? Mais ainda diante da atual proposta, de que os Estaduais sejam disputados por equipes de base e/ou sub-23?
Não há dúvidas de que vai “sobrar” pras federações. A iniciativa dos clubes sinaliza que os estaduais vão minguar e perder espaço diante de campeonatos mais rentáveis e interessantes. O G4 da Série A do Brasileirão comprova que investir bem dá resultado – exemplos claros com Bragantino e Athletico-PR. A rivalidade regional já não é a que mais chama a atenção – e aí estão os jogos entre Flamengo e Palmeiras, para exemplificar essa mudança de visão. E ser “grande”, baseado na tradição e história, já não é garantia de coisa alguma. Basta dar uma olhadinha na Série B para ver quantos campeões do passado andam por lá.
Só peço uma coisa: que esse movimento futurista não venha com práticas antigas e ultrapassadas – e vergonhosas – de viradas de mesa para garantir a uns o que de direito, nos tempos atuais, pertence a outros.
Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil