Rio: Museu Nacional recebe doação de peças do Império greco-romano



O Museu Nacional, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), recebeu a doação de uma coleção de 27 peças do Império Romano e Grécia Antiga, datadas entre os séculos 550 antes de Cristo e 550 depois de Cristo. A doação coincide com o aniversário de 203 anos do Museu, completados no último domingo (6).

Na coleção, doada pelo diplomata aposentado e escritor gaúcho ministro Fernando Cacciatore de Garcia, estão peças em mármore, cerâmica, vidro, bronze, prata e terracota de importante valor histórico e científico.

Tijolo arquitetônico, de 550 a.C_Greco-Romana
Tijolo arquitetônico, de 550 a.C_Greco-Romana

Tijolo arquitetônico greco-romano, de 550 a.C, é a peça mais antiga doada- Diogo Vasconcellos/Direitos reservados

O acervo foi formado entre 1974 e 2004, a partir de aquisições feitas pelo diplomata no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque, Londres, Paris, Amsterdã e Berlim. A peça mais antiga (550 a.C.) é um tijolo arquitetônico que ornamentava um templo na Grécia Oriental, território que, atualmente, pertence à Turquia. Já a mais recente, é um copo de vidro ainda transparente e com design absolutamente contemporâneo que data de 550 d.C.

Para o arqueólogo Pedro Luiz Von Seehausen, a coleção é “magnífica” porque tem diversidade geográfica e cronológica. Segundo ele, será possível recuperar parte do acervo, referente ao período das peças doadas, que foi perdido no incêndio ocorrido em 2 de setembro de 2018.

O arqueólogo destacou que entre as peças está um balsamário (vaso para conservar perfume) duplo em vidro. “Os vidros da coleção [imperatriz] Teresa Cristina foram completamente destruídos pelo incêndio. Foi uma coisa que não se recuperou”, disse Von Seehausen durante coletiva, realizada hoje (9) para anunciar a doação.

Exposição ao público

A intenção é expor as peças ao público o quanto antes, mas o Museu Nacional ainda está em obras, após o incêndio. Por esse motivo, a instituição cogita fazer a exibição de forma online ou ainda em outro local. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, espera que isso ocorra no máximo no primeiro semestre de 2022.

“Se não for este ano, na virada do ano em algum [outro] local. Estamos conversando com diversas instituições para fazer esta exposição, porque não podemos esperar que o museu esteja todo ponto para expor essa maravilha com que fomos brindados. Vamos ter esta exposição no mais tardar no primeiro semestre de 2022”. Por causa da pandemia de covid-19, não está afastada a possibilidade de fazer uma exposição virtual das peças.

Acervo arqueológico

Segundo o diplomata que fez a doação, a coleção foi avaliada em quase R$ 1 milhão de reais. Como Cacciatore é solteiro e não tem filhos, resolveu fazer a doação em vida, para evitar que as peças fossem vendidas após sua morte. “Vejo a coleção como um embrião e poderiam ser compradas peças de maior magnitude, para aí sim dar um sentido amplo, verdadeiramente internacional”, disse, referindo-se a possíveis doações a partir de reservas técnicas de outros museus do mundo.

O curador de arqueologia do Museu Nacional, Marcos André Souza, destacou que a coleção vai poder ser estudada pelos pesquisadores do museu e lembrou que obter novas coleções arqueológicas é sempre um desafio.

“Este é um trabalho muito difícil, mas em virtude das negociações que temos em andamento é um trabalho também que tem nos animado de forma muito especial. As coleções da arqueologia, guardadas e expostas no Museu Nacional sempre disseram muito à sociedade”, disse o curador, ao acrescentar: “novas doações têm sido vitais para o renascimento da arqueologia no Museu Nacional. Por meio dessas doações as nossas coleções e acervos poderão ser enriquecidos e devolvidos para a sociedade”.

Alexander Kellner informou que a direção vem trabalhando em várias frentes para obter outras doações para compor o acervo que foi perdido no incêndio e reforçou o pedido de doação a colecionadores particulares, como a de hoje, além das recebidas de instituições como museus da Europa.

“Existe possibilidade das pessoas fazerem essas doações. [Vocês] não vão acreditar mas o Museu Nacional já tem uma baleia daquelas que, quando a gente inaugurar, todos vão querer olhar com destaque. Temos também ações com pessoas que atuam nesse mundo cultural das coleções particulares. Temos algumas coisas que recebemos de doações do Museu da Áustria”, contou Kellner.

Aniversário

Fundado em 6 de junho de 1818, o Museu Nacional comemorou os 203 anos de existência com uma série de vídeos de 55 personalidades das artes, ciência, cultura e esporte, além de pesquisadores, professores e funcionários da instituição. Para o diretor Alexander Kellner, a recuperação após o incêndio reforça o convite para que a sociedade se mobilize em torno do esforço pela reabertura da mais antiga instituição científica do Brasil.

Os vídeos estão disponíveis nos perfis do Museu Nacional no Instagram e no Facebook até o próximo domingo (13), marcando o encerramento das comemorações do aniversário.

Confira os depoimentos do músico Alceu Valença e do técnico de vôlei Bernardinho:

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