O bloco Pena de Pavão de Krishna (PPK), por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (1084/2020), apresenta a quinta edição do projeto Águas Gerais. Desta vez, a iniciativa, sob o tema “Rios Urbanos, Rios Humanos”, canaliza as energias em ações formativas online em três territórios da capital mineira: Barreiro, Jardim América e Lagoinha. As mentorias terão início dia 7 de julho e seguirão até 25 de setembro, quando haverá três saraus no canal oficial do Pena de Pavão de Krishna no YouTube (https://bityli.com/jxrn1). Essas ações, após o decreto da prefeitura da capital mineira, liberando a realização de eventos presenciais, também poderão acontecer com a presença do público, obviamente seguindo todos os protocolos de segurança para evitar a propagação do coronavírus. “O Águas Gerais está se potencializando, formando público e credibilidade no mercado cultural a cada ano. Mesmo com as dificuldades na pandemia, o projeto está trazendo seu conceito e assuntos pela internet”, reflete a produtora executiva Irene do Carmo.
O projeto Águas Gerais, que iniciou em 2017, com um cortejo no Dia Mundial do Meio Ambiente, em todas as edições teve como missão chamar a atenção para a luta de renaturalização dos córregos poluídos e, consequentemente, para a manutenção e criação de áreas verdes dentro da cidade. Dessa maneira, a ação discute história, convívio, cultura, qualidade de vida e a importância das águas, que são, como argumentam os integrantes da iniciativa, “possibilidades de vida”. Na atual edição, a iniciativa vai focar em ciclos formativos relacionados aos universos da música, dança, literatura, culinária e artes cênicas. “Acreditamos que mobilizando ações de formação artística nos territórios que o Pavão cortejou em outros carnavais, continuamos em parceria com essas comunidades, fortalecendo a cena cultural, e pautando suas lutas, suas organizações, suas águas, seu histórico, contribuindo com as transformações necessárias, principalmente em se tratando dos aspectos sócio ambientais”, afirma Túlio Ribeiro, produtor do Águas Gerais.
Ao todo, serão dois meses de ações formativas, com ateliês multidisciplinares e encontros virtuais. As mentorias serão ministradas por artistas de Belo Horizonte e que possuem relações com os territórios abraçados pelo projeto, como Sérgio Pererê, na Lagoinha, Uziel Ferreira, no Barreiro, e Leopoldina Azevedo, no Jardim América. Os residentes, seis em cada território, foram selecionados após inscrições online, realizadas de 20 de maio a 10 de junho, e testes de aptidão. Cada um dos participantes receberá uma bolsa de R$ 600,00. “A causa ambiental será o foco da criação, e o projeto trará visibilidade para as regionais, levantando a discussão poética sobre as águas e áreas verdes da cidade, trazendo uma reflexão sobre o histórico dos bairros e o processo de interação entre o espaço urbano e as áreas naturais”, explica Gustavo Amarall (Gustavito), que assina a produção artística.
Entre os ateliês, está o de literatura com Rafael Fares. A ação “Os Jardins da América” terá como fundamento a poética de Fernando Pessoa, quando ele afirma que “todo estado de alma é uma paisagem”. Os integrantes dessa mentoria vão trabalhar a escrita da paisagem e as relações de afeto das pessoas que nela vivem. O intuito é criar um registro poético das vivências dos participantes. Já na Lagoinha, com o ateliê de dança da mentora Joicilene Pinheiro, o público poderá mergulhar em um processo de criação que passeia pela memória, histórias, ancestralidade e movimentos corporais. As danças populares brasileiras, com referências nas lavadeiras das beiras dos rios, assim como nos ijexás, yabás e cirandas, são o norte da atividade. No Jardim América, além de Fares, a ação vai contar com os mentores Leopoldina Azevedo (música) e Elton Monteiro (artes cênicas). No Barreiro, ela terá Uziel Ferreira (artes cênicas em libras), Raphael Sales (música), Nívea Sabino (literatura) e Fernando Fonseca (artes visuais). Por fim, na Lagoinha, os ateliês serão ministrados por Sérgio Pererê (música), a já citada Joicilene Pinheiro (dança) e Patrícia Brito (culinária).
O Águas Gerais, edição “Rios Urbanos, Rios Humanos”, conta com o apoio de coletivos e de instituições. “O projeto e a escolha dos territórios foram pensados de acordo com rios que já passaram ou ainda passam por esses bairros”, conta Irene do Carmo. Sendo assim, no Barreiro, cuja residência vai de 7 de julho a 28 de agosto, a proposta foi abraçada pelo Projeto Macunaíma; na Lagoinha, na qual as atividades vão acontecer de 1º de agosto a 25 de setembro, pela Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente; e, no Jardim América, com atividades de 18 de julho a 11 de setembro, pelo Movimento Parque Já, que vem lutando pela preservação das áreas verdes na região. Os selecionados para o projeto no Jardim América são Ana Isabela Vieira e Álvaro Zulu, para a turma de literatura; Karolina de Fátima e Michele Caroline, para a turma de artes cênicas; e Bruno Kacomas e Carla Maiza, para a turma de música. Os convocados para as ações no Barreiro são Karine Silva Oliveira e Edson Leonardo Moreira, para a residência de literatura; Helvécio Junio Santos e Gleison Junio do Nascimento, para a residência em música; Luiz Cláudio Guilherme Dias e Cristina Gonçalves Ferreira de Souza, para a residência de artes visuais; Omar Rodrigo Miranda Soares e Michelly Agatha Oliveira Siqueira de Souza, para a residência em artes cênicas. Já na Lagoinha, o projeto contará com Gabriel Pinto Pereira e Miller Machado de Souza, na residência de culinária; Laura Reis Dutra Cardoso de Souza e Max Cabral Akerman, na de música; e Agnes Isabela Silva e Caroline Messias da Silva, na de artes cênicas. “
Os saraus dos territórios Jardim América e Lagoinha estão marcados para acontecer durante a execução dos ateliês do Águas Gerais. As datas ainda serão definidas pelos mentores e alunos. No Barreiro, o sarau será realizado no dia 25 de agosto. “O formato, à princípio, será uma transmissão no canal do Pavão, onde cada participante apresentará o material construído durante o processo de criação”, explica Túlio Ribeiro.
Quem são os orientadores?
Raphael Sales: cantor e compositor, o músico se destaca por transitar em diversos gêneros musicais e por fundí-los com letras críticas e reflexões. Em 2018, ele lançou o primeiro disco, “Fundamental”, e, atualmente, integra o coletivo IMuNe (Instante da Música Negra), o bloco Pena de Pavão de Krishna e a Rede de Saúde Mental de Belo Horizonte.
Uziel Ferreira: intérprete e tradutor de libras, o artista é pós-graduando em libras, produtor cultural em Belo Horizonte e do “Sarau Visual” (poesia em libras). Ele ainda é ator e dançarino da Cia Ananda de Dança Contemporânea e Poeta em Libras.
Nívea Sabino: poeta-slammer, ativista e educadora social, ela é autora de “Interiorana”, graduada em Comunicação Social e possui uma importante trajetória de ativismo poético no que tange o enfrentamento ao racismo, à lesbofobia, ao sexismo e outras formas de opressão. A artista é ainda uma das articuladoras da RodaBH de Poesia e uma das fundadoras da Academia Nova-limense de Letras.
Sérgio Pererê: cantor, compositor e multi-instrumentista, ele é influenciado pelas raízes africanas e afro-brasileiras e desenvolve uma música com características próprias. Com seu canto e sua musicalidade, o artista viajou por vários países de todos os continentes e tem sua obra gravada por vários intérpretes da música brasileira.
Fernando Fonseca: artista visual com técnica de xilogravura, ele é batuqueiro e timbaleiro.
Leopoldina Azevedo: professora, cantora, poeta e compositora, ela usa a musicalização e o canto para aguçar a intuição dos alunos. O processo de criação dela se dá por meio da observação, da investigação, da experimentação e da tradução do que se observa através dos sons, palavras e melodias.
Patrícia Brito: cozinheira e pesquisadora, ela realiza banquetes públicos.
Joicilene Pinheiro: professora de dança, de movimentos corporais e pesquisadora em danças brasileiras, assim como nas referências presentes nos ijexás, yabás e cirandas.
Rafael Fares: poeta, compositor e pesquisador, Rafael é doutor em literatura indígena pela UFMG e professor na UEMG. Ele realiza livros, filmes e exposições de artes plásticas com indígenas. Foi um dos pesquisadores e produtores da exposição “Mira! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas” e trabalhou com os Maxakali no livro “Curar” (2009). Dentre suas publicações estão os livros de poemas “Exemplar Disponível ao Roubo” (2011), “Fio D´água” (2014) e “Árvore Nômade” (2019).
Elton Monteiro: graduado em designer de ambientes e técnico em ator, ele participou de importantes festivais, como o Fringe, em Curitiba, e o Formas Animadas em Fafe, em Portugal. O artista também esteve na Campanha de Popularização Teatro e Dança de Belo Horizonte com o espetáculo “Saltimbancos”. Monteiro ainda é o cenógrafo de importantes peças, como “Adultérios e Outras Pequenas Traições”.
SERVIÇO:
ÁGUAS GERAIS #5 – EDIÇÃO RIOS URBANOS, RIOS HUMANOS
Quando? De 7 julho a 25 de setembro
Onde? Canal do Pena de Pavão no YouTube
Valor? Gratuito, mas para público fechado