A maioria dos policiais mortos de forma violenta no estado do Rio de Janeiro, entre 2016 e 2020, estava de folga. No total, em todo o estado, 506 policiais foram mortos, sendo 148 em serviço, entre eles, 133 militares e 15 civis; e 358 em folga, dos quais 331 eram militares e 27 civis.
Os dados fazem parte do estudo Vitimização Policial no Estado do Rio de Janeiro: Panorama dos Últimos Cinco Anos (2016-2020), produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro e que faz parte da série Textos para Discussão, divulgada este mês.
O levantamento mostra ainda que cerca de um terço das mortes de policiais ocorreu em até 500 metros de uma área sob foco especial, que são uma combinação dos aglomerados subnormais indicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das áreas de comunidade informadas pelo Instituto Pereira Passos (IPP). Conforme o IBGE, os aglomerados subnormais são “uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia, públicos ou privados, para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação”.
Em serviço
Dentre as mortes de agentes em serviço causadas por letalidade violenta, 74,1% ocorreram dentro de áreas sob foco especial ou em até 500 metros de distância delas. Também nas mortes em serviço, 56,9% foram próximas umas das outras, com no máximo 100 metros de distância.
Menor da série histórica
Apesar desses resultados, o número de policiais mortos em 2020 foi o menor de toda a série histórica, que começou em 1998. No total, foram 65 policiais civis e militares mortos em serviço ou em folga.
De acordo com o ISP, a partir de informações das secretarias de Estado de Polícia Civil e de Polícia Militar, os pesquisadores observaram também que “a maior parte das mortes aconteceu na capital, entre 18h e 0h, e 76,1% do total dos policiais mortos estavam lotados em unidades operacionais”. Na análise do motivo das mortes, notaram que 71,9% foram provocadas por “letalidade violenta”, como homicídios, encontro de cadáver, lesão corporal provocada por projétil de arma de fogo e roubo seguido de morte provocado por projétil de arma de fogo. O percentual corresponde a 254 mortes cometidas por projétil de arma de fogo.
O estudo mostrou um dado que chamou a atenção. Em cada dez vítimas de latrocínio no estado, uma era policial. Além disso, em cinco anos, 35 policiais tiraram suas próprias vidas. Entre eles, 31 estavam em folga e quatro em serviço.
A diretora-presidente do ISP Marcela Ortiz disse que o objetivo do levantamento é compreender a vitimização policial e ainda oferecer dados e análises que ajudem o governo estadual a desenvolver ações concretas para reduzir essa violência. “As instituições policiais e os governos têm, cada vez mais, se preocupado com a segurança de seus agentes e trabalhado no sentido de garantir o seu bem estar, não só durante o trabalho, mas também nos momentos de folga”, apontou.
Para a diretora-presidente, os dados mostram que há um desafio também no que diz respeito à saúde mental dos policiais. “O importante de trazer esses dados para a sociedade é justamente mostrar que, apesar desses agentes do Estado terem o monopólio da violência, eles também são vítimas dela e isso precisa ser combatido”, completou.