O programa Trilha Empreendedora, parceria da organização não governamental Junior Achievement com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, conseguiu, no ano passado, combater a evasão escolar em 80 escolas da rede pública de ensino e dar a 6.448 jovens do ensino médio a oportunidade de desenvolverem suas habilidades e competências socioemocionais por meio da metodologia “aprender fazendo”.
Os 6.448 alunos se formaram com um diferencial: um certificado de metodologias ágeis para gestão de projetos, além de noções sobre negócios sustentáveis, economia circular e empreendedorismo sustentável.
O programa contava no ano passado com 22 empresas patrocinadoras associadas ao Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), além da Fundação Casas Bahia e da Michelin. A coordenadora do Trilha Empreendedora, Maria Clara Wasserman, ressaltou que o projeto existe desde 2017, a partir de um piloto feito com 12 escolas. A meta este ano é alcançar 90 escolas. “Nossa expectativa é que todas as escolas do estado de ensino médio tenham esse programa”. Fazem parte da rede estadual 1.230 escolas.
Três eixos
O Trilha Empreendedora é ligado a três eixos de atuação. São eles: educação financeira, mercado de trabalho e empreendedorismo. “A gente monta uma trilha para cada série do ensino médio que seja voltada para o aluno ter uma base de autoconhecimento, expectativa de carreira, de projeto de vida, visando ampliar um pouco o horizonte”. Maria Clara disse que não é à toa que, no primeiro ano, haja para os estudantes um programa de vantagens de permanecer na escola, para entender o que ele está fazendo, por que estudar e até onde ele pode chegar.
No segundo ano, é dada uma visão de mercado de trabalho. No programa Conectado com o Amanhã, o aluno entende o que o mercado está esperando dele quando sair da escola, que caminho ele tem que seguir. “Ele vai tendo uma perspectiva das várias possibilidades que pode ter”.
No terceiro ano, tem um curso de gestão de projetos, que trata das competências que o mercado está querendo hoje da juventude. “Ele aprende como fazer um projeto, como se integrar a uma empresa ou universidade quando sair do ensino médio”. A coordenadora lembrou também da área Negócios Sustentáveis, que está sendo muito forte nas empresas e que pode despertar o interesse dos jovens.
Mentores
Ao todo, o Trilha oferece nove programas, todos ligados aos três eixos. O projeto como um todo evita a evasão porque, o tempo todo, os alunos têm mentores, que são voluntários das empresas parceiras, que funcionam como espelho para eles continuem estudando e nutram expectativa de sair do país, de ganhar bolsas, fazer pós-graduação e desenvolverem projetos da parte de network (trabalhar a rede de contatos). “Ele sai com essa visão geral de trabalho, de empresa, de mundo, de carreira, entendendo a vantagem de ficar na escola. É muito legal! Isso tem, realmente, dado efeito para a gente.”
Em 2021, o programa contou com ajuda de 120 professores da disciplina de estudos orientados das 80 escolas participantes, que faz parte do Programa Ensino Médio Inovador (Pró-Emi), do governo federal, além de 472 participações voluntárias de colaboradores de 22 empresas diferentes.
A meta do Trilha para 2022 é ter mais aderência ao novo ensino médio, que passa a ser obrigatório pelo Ministério da Educação, e conseguir ampliar o número de escolas para formar os alunos de maneira mais bem efetiva. A ideia inicial para este ano era elevar o número de escolas estaduais parceiras para 156. Mas Maria Clara explicou que isso depende, contudo, de mais patrocínio. A cada ano é aberta uma cota de 90 voluntários por empresa, que são capacitados pelo Trilha.
“Em 2020 e 2021, eles atuaram online, por conta da pandemia, e agora eles vão voltar a atuar presencial e também virtualmente, porque a gente entende que esse sistema híbrido foi muito bom e é inquestionável. A gente teve voluntário na Noruega, nos Estados Unidos, na mentoria. Isso é muito bacana. Por isso, vamos manter a orientação online, mas também oferecer aos volunários a ida à escola, que é outra experiência importante”. A edição do Trilha Empreendedora 2022 está prevista para iniciar no final de março ou começo de abril.
Experiência
A aluna Lara Belga, do 1º ano do ensino médio do Colégio Estadual Dorval Ferreira da Cunha, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, não pensou duas vezes quando teve a oportunidade de participar das mentorias da Trilha Empreendedora, oferecidas na sua escola. “O que eu mais gostei foi que os mentores nos contavam experiências vividas, não suposições; assim, a gente entendia melhor o mundo que nos espera, com apoio de pessoas que já vivem nele. Depois da Trilha, me sinto muito mais preparada e segura para a minha entrada no mercado de trabalho”, disse a estudante.
O programa ajudou a organizar a vida financeira de Lara. Durante a pandemia, a estudante trabalhou como explicadora para crianças em fase de alfabetização, de 5 a 8 anos, visando contribuir com as despesas de casa. Para ela, “é importantíssimo que outras pessoas tenham a mesma oportunidade. O programa ajudou na mudança da nossa vida. Se somos o futuro do país, temos de consolidar a vida dos jovens para que tenhamos um futuro planejado e de nosso gosto.”