Marcelo Henrique
Se vivo e, entre nós, estivesse, Dom Helder Câmara completaria 114 anos na data de hoje (07 de fevereiro de 2023). Cearense de Fortaleza, entrou cedo no chamado Seminário da Prainha e lá concluiu o Ensino Médio, bem como as graduações em filosofia e teologia inerentes à obtenção do Sacramento da Ordem, que ocorrera em 15 de agosto de 1931. Profundamente inteligente, o novo padre era tão jovem que para assim ser aclamado precisou de autorização específica da Santa Sé. Logo após a sua primeira Missa, o então Padre Helder recebeu a missão de coordenar os Círculos Operários Cristãos, tendo iniciado a Juventude Operária Católica. Profundo estudioso da questão humanitária brasileira, fora nomeado arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, posto em que seus atos ecoaram, fazendo-lhe atingir prestígio nacional e internacional.
Justamente por sua luta pelos Direitos Humanos, foi o brasileiro mais indicado ao Prêmio Nobel da Paz de todos os tempos. Dentro do Brasil, no ano de 2017, recebeu o título de Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos. Comprometido com o combate à fome e à miséria, ele desenvolveu importantes trabalhos na inclusão de menores em situação de rua, propiciando formação escolar, humana e religiosa, em projetos sociais da Igreja Católica. Ainda dentro de seu currículo eclesial, foi um dos fundadores da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Com seu discurso pacifista de repúdio à violência e de uma Igreja voltada aos pobres, D. Helder teve sérios problemas com a ditadura militar, no Brasil, que insistia em rotulá-lo de comunista. Indignado, proferia suas respostas ao regime sempre de forma bem inteligente e reflexiva. Certa feita, por exemplo, ponderou que quando doava alimento para alguém era visto como santo. Mas se tentasse entender o porquê da fome daquela mesma pessoa, era apontado como comunista. Em 1970, indicado e favorito ao Prêmio Nobel da Paz, D. Helder fora vítima de uma investida comandada pessoalmente pelo então presidente da República Emílio Garrastazu Médici, que o Serviço Nacional de Informações e a rede de embaixadas brasileiras, para inviabilizar a conquista do prêmio.
Não ganhou o Nobel, mas recebeu 32 títulos de Doutor Honoris Causa de várias universidades de todo o mundo, o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, o Prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos e o Rocamadour, na França. Minha mais sincera homenagem a este grande religioso e ativista humanitário. Vítima de perseguição política, calúnias e da falta de reconhecimento efetivo de um Estado que ele ajudou a construir: nosso tão estimado Estado Democrático de Direito.