Na convivência diária, Márcio Guedes ía além do jornalismo esportivo




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Por muito pouco não trabalhei junto com Márcio Guedes na TV Manchete: saí dias antes de ele ser contratado. A gente se via muito no dia a dia dos clubes, mas éramos apenas dois jornalistas que se conheciam. Até que veio a Olimpíada de Seul, em 1988, e ali a gente se aproximou mais.

Eu estava pelo Jornal dos Sports, e ele pelo Dia, e nos encontrávamos no centro de imprensa para enviarmos nossas matérias para o Rio de Janeiro. Dali em diante a amizade se estreitou. Eu já trabalhava na TVE do Rio quando Márcio participava como convidado no programa Debate Esportivo. Em 2001, ele foi contratado pela emissora para apresentar a mesa de debates denominada “Ataque” – referência ao caderno de esportes com mesmo nome no jornal O Dia. Na época ele me convidou para continuar no programa, cuidando da interatividade. Pronto, agora a rotina de encontros era quase diária. E assim foi até dezembro passado, quando ele participou do último programa, repaginado como No Mundo da Bola da TV Brasil, analisando a final da Copa.

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Escrevi isso para compartilhar um pouco do que convivi com ele, porque o Márcio era muito mais que um comentarista esportivo. Também curtia e falava de cinema. Ele era o cara simpático e boa praça, sempre sorridente e disposto a contar uma piada, ou a fazer uma pergunta de duplo sentido, da qual ele mesmo era o primeiro a rir. De mãos grandes, gesticulava muito, provocava, com humor refinado. Era sempre divertido participar de uma discussão na redação, quando o assunto, claro, era inevitavelmente futebol. As mãos também eram um “problema”. Certa vez, um seguidor do Facebook provocou, dizendo que ele não incluía pontuação nos textos. E ele veio reclamar comigo. “Eu tenho a mão grande, o teclado do telefone é pequeno, eu passo por cima da pontuação. O cara vem reclamar, fala sério! É só não ler”, desabafo

Lembro de Márcio como um galã. Olhos verdes, um bigodão que chamava a atenção. Era vaidoso e gostava de ser comparado com artistas de cinema. O ator Tom Selleck era o preferido dele, mas muitos o viam como Charles Bronson. Topava as brincadeiras e foi assim que começou o desafio de todos os domingos, quando perguntava em que estado ficava a cidade de onde o telespectador do No Mundo da Bola mandava a mensagem. Ele chegou a ganhar uma apostila com os nomes de todas as cidades, como se ele fosse estudar.

Vamos sentir muita falta, muita mesmo. Da minha parte são 35 anos de amizade, de aprendizado, de carinho. Foi uma honra muito grande ter dividido bancada com ele.

* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.

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