Nova mostra, da artista carioca Julia Arbex, usa o carvão como matéria-prima principal
em desenhos tridimensionais
O filósofo grego Heráclito dizia que “Tudo flui e nada permanece”, em um constante processo de transformação da natureza. A partir da investigação dessas mudanças, a artista Julia Arbex desenvolve a exposição da Casa Fiat de Cultura, “Três Tempos”, que divaga sobre a temporalidade, além da potência e a brutalidade do carvão, principal matéria-prima das obras expostas. Escolhida no 6º Programa de Seleção da Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura, a mostra fica em cartaz até 24 de março, e apresenta duas séries que dialogam com o transitar das placas tectônicas, suas reconfigurações e as alterações territoriais no mundo, com entrada gratuita.
O carvão está presente no planeta antes mesmo dos seres humanos. É o material de desenho e de esboço mais antigo do mundo: desliza pelo papel e pode ser apagado sem deixar marcas. Em “Três Tempos”, a versatilidade desse material é explorada em diferentes formatos, propondo reflexões sobre o passado, o presente e o futuro. “O carvão é um material clássico, que eu consigo usar em diferentes processos. E me interessa muito, na minha investigação artística, entender a forma como ele se comporta, ainda que eu não tenha controle sobre ele”, explica Julia Arbex.
Na primeira série de obras, intitulada “Terra Plana”, são apresentados sete recipientes de água que, aqui, funcionam como suporte. A artista desenha territórios imaginários com carvão em papel de algodão e os transfere para a água, criando uma espécie de mapa que está sempre em movimento e flutuando. Para a Julia, além da clara alusão ao movimento das placas tectônicas, a obra também tem um contexto político, discutindo as diferentes concepções de planeta no imaginário das pessoas.
Já em “Deslocamentos Continentais”, o público poderá conferir o resultado do deslocamento da massa de carvão, transferida e reconfigurada: o desenho, transformado, sai da água e retorna para o papel, em uma segunda etapa do processo. São mais de 20 quadros com essas imagens, posicionados quase como se fossem ilhas. “A ideia é representar a construção de territórios, com mapas que são reconfigurados o tempo todo. Ao mesmo tempo, respeito a contração geográfica e a sensação de movimento”, analisa a artista.
Para Fernanda Lopes, crítica de arte e pesquisadora que assina o texto curatorial da mostra, o tempo é o elemento fundamental desses trabalhos e o carvão ajuda a contar essa história, já que remete às origens dos primeiros desenhos e, na contemporaneidade, tem seus limites explorados em práticas como escultura, performance, vídeo e até instalação. “Nas duas séries, a imprevisibilidade e a impermanência são dimensões que se fazem presentes. Não só porque o carvão reage de maneiras diferentes ao papel e à água, mas também porque quando está flutuando, ele não fica imóvel, gerando desenhos que não podem ser controlados”, analisa.
A exposição “Três Tempos” é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com patrocínio da Fiat e do Banco Safra, e copatrocínio do Banco Stellantis e da Brose do Brasil. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.
Sobre as obras
As obras de “Três Tempos” têm três elementos principais: carvão, água e papel. Segundo Julia Arbex, o carvão é um material bem processual, enquanto a água “tem o poder de animar, tanto no significado de ânimo de vida, quanto no de movimento”. Já o papel pode ser lido a partir da sua proximidade com o carvão, pois ambos possuem origens em comum.
Com pesquisas que estudam o perecível, Julia analisa como a exposição também pode ser um canal para essas reflexões. “Tudo é perecível, até mesmo a arte. Precisamos desconstruir a ideia de que existe algo estático”, defende.
As obras também pensam o desenho de forma expandida, a partir do conceito de “rugosidade na cidade” do geografo e escritor Milton Santos, que rejeitava a homogeneidade e destacava a riqueza e a variedade do espaço geográfico. “A minha proposta é explorar processos e novas possibilidades em um trabalho que tem vida própria e está sempre em movimento”, aponta Julia.
Bate-papo com a artista
Pensando a geografia em transformação, tanto num sentido geológico quanto geopolítico, Julia Arbex elabora as obras que compõem a exposição “Três Tempos”. A artista utiliza o carvão como matéria-prima para a construção do sentido de sua obra e elabora as transfigurações das placas tectônicas a partir do desenho e transferências do material. No bate-papo sobre a exposição, a artista contará mais sobre seu processo de criação, o porquê do material escolhido, e ainda, suas referências e inspirações. Para participar, inscreva-se gratuitamente pela Sympla (https://bit.ly/BatePapoJuliaArbex).
A artista
Julia Arbex, Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Indicada ao Prêmio Pipa em 2023. Doutoranda em Artes na UFMG e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense. Participou das exposições Salón Acme (Mexico 2023); The Silence of Tired Tongues (Framer Framed, Amsterdam 2022); Sol a Sol (ArtFasam, SP 2022); Drawing box Pop Up Show, (India; Irlanda e Estados Unidos, 2022); Mirantes (Galeria Anita Schwartz, RJ 2021); Até onde a vista alcança (Galeria Athena, Rio de Janeiro 2020).
A Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras. Mais de 80 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 17 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 3,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 600 mil participaram de suas atividades educativas.
SERVIÇO
Exposição “Três Tempo”, de Julia Arbex, na Casa Fiat de Cultura
Período expositivo: Até 24 de março
Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras)
Tour virtual no site: www.casafiatdecultura.com.br
Casa Fiat de Cultura
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG
Circuito Liberdade
Horário de Funcionamento
Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h
Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h
Informações
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