Pains, no Centro-Oeste de Minas, corre o risco de perder cartão-postal de 60 milhões de anos

A Pedra do Cálice, monumento natural tombado pelo município, pode ser impactado pela mineração


Pedra do Cálice – Arquivo.

 

Conhecida como a Capital Mundial do Calcário e por toda a riqueza arqueológica que abriga, Pains é uma pacata cidade, com pouco mais de 8 mil habitantes, situada no Centro Oeste de Minas, a cerca de 220 km de Belo Horizonte. A região, que conta com mais de 1600 cavernas catalogadas, chamou a atenção da equipe do Programa André Show para mostrar ao estado todas as belezas e curiosidades do município. Porém, durante as gravações, o jornalista e o cinegrafista foram impedidos de registrar a Pedra do Cálice, monumento natural tombado pelo município.

 

Pains oferece diversos atrativos interessantes para os visitantes. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, fundada em 1854, é um marco histórico do município. Sua arquitetura simples e charmosa reflete a tranquilidade e a tradição da cidade. Outro ponto turístico importante é o Parque Natural Municipal Dona Ziza, que serve como ponto de encontro dos moradores e oferece trilhas, áreas de lazer e esporte. Dentro do parque, destaca-se o Museu Arqueológico do Carste do Alto São Francisco, localizado em um casarão histórico que reúne achados arqueológicos encontrados em Pains e cidades ao redor, remontando a uma história de ocupação humana de mais de 11 mil anos.

A cidade está situada em uma região cárstica de grande valor geológico. O termo “carste” refere-se a um tipo de relevo cuja paisagem rochosa apresenta um aspecto de ruína, esburacado, com drenagens subterrâneas. Esse relevo é formado por rochas solúveis pela água ácida, como o calcário.

Lucélio Nativo, biólogo e espeleólogo do Espeleogrupo Pains, explica que o carste é formado por fraturas na rocha, causadas pelos movimentos da crosta terrestre. “A água de chuva, ao entrar em contato com o CO2 da atmosfera e do solo, forma ácido carbônico, que dissolve o calcário, criando as formações cavernosas e os espeleotemas”, disse.

O município também guarda outras preciosidades históricas, como pinturas rupestres e diversas outras riquezas. Em 2022, fósseis de uma preguiça gigante foram encontrados pelo Espeleogrupo Pains na Gruta João Lemos e levados para o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte.

 
 

Pedra do Cálice

A Pedra do Cálice, um dos monumentos naturais mais conhecidos da região e cartão postal de Pains, tem cerca de 60 milhões de anos. A formação rochosa, que é tombada pelo município, pode estar ameaçada. A mineradora Gecal, que atua na cidade desde 1985, pretende expandir suas atividades e iniciar a extração de calcário nas proximidades do monumento natural.

De acordo com informações obtidas pela equipe do Programa André Show, apenas 600 metros separariam as movimentações da empresa do famoso ponto turístico. Ambientalistas e pesquisadores demonstram preocupação com o impacto da mineração tão próximo à Pedra do Cálice. O repórter Heberton Lopes conversou com dezenas de pessoas enquanto estava na cidade e nenhuma tinha conhecimento de que o cartão-postal da cidade pode estar em risco.

O espeleólogo Lucélio Nativo alerta sobre os riscos da mineração a 600 metros do monumento natural. “Foi feito o licenciamento mas não foram realizados estudos para saber o grau de influência da proximidade da cava”, disse.

 
 

Acesso impedido

Durante a gravação da reportagem, o jornalista Heberton Lopes e o cinegrafista Jonathan Nunes enfrentaram uma situação inusitada enquanto se dirigiam à Pedra do Cálice. Eles estavam transitando por uma estrada de terra a caminho do monumento natural quando começaram a ser perseguidos por um carro branco. O motorista do veículo acelerou, buzinou e ordenou que a equipe de reportagem desse meia volta imediatamente, impedindo o acesso ao monumento natural.

Recentemente, foi encaminhado um requerimento à Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na Assembleia Legislativa de Minas Gerais solicitando informações sobre as atividades de mineração na região. O documento questiona a falta de monitoramento adequado e a ausência de estudos específicos e medidas para a proteção das cavernas e formações rochosas.

O Programa André Show procurou a Gecal por e-mail, telefone, mensagens e até mesmo presencialmente. Foi questionando o fato de a equipe ser impedida de gravar a Pedra do Cálice e perguntado se a empresa não acha arriscado realizar a extração de calcário em uma área tão próxima ao monumento natural. Até o fechamento desta reportagem, a mineradora não se manifestou.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Pains informou, por meio de nota, que cada licença emitida é precedida de uma avaliação criteriosa dos impactos ambientais potenciais do projeto proposto e que a secretaria trabalha em estreita colaboração com todas as partes interessadas para garantir que todas as preocupações sejam adequadamente consideradas. Contudo, afirmou que não existe exploração mineral nas proximidades do monumento.

O Programa André Show vai continuar acompanhando a situação da Pedra do Cálice e vai iniciar uma série de reportagens sobre o carste e a sua importância para Minas Gerais.

Assista ao Programa André Show especial sobre Pains: https://www.andreshow.com.br/noticia/assista-agora-ao-programa-andre-show-deste-sabado-1625280611

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