Alta do PIB faz inflação subir, como propaga imprensa? Deborah Magagna responde



O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) teve crescimento de 1,4% no segundo trimestre deste ano se comparado ao primeiro trimestre. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o crescimento foi de 3,3%, puxado pelo desempenho da indústria.

O resultado superou as expectativas do mercado, mas, em vez de ser comemorado, foi noticiado na imprensa com ressalvas. Muitas análises se negaram a atribuir à política econômica do governo o mérito pela melhora.

Outros comentários, com um tom mais “técnico” revelaram o receio de que a alta do PIB no segundo trimestre acabe por fazer a inflação subir, com consequente alta na taxa de juros.

O portal ICL Notícias conversou com a economista Deborah Magagna, apresentadora do programa ICL Mercado e Investimentos, para esclarecer se essa abordagem da imprensa faz sentido. Veja a seguir:

Indústria puxou a alta

O que os veículos de mídia estão falando, o que o mercado financeiro está falando é que 3% projetado para o fim do ano com a revisão depois do PIB trimestral vir acima do esperado poderia causar inflação. Mas eu acho que mais do que ver quanto o PIB cresceu, a gente precisa entender como ele cresceu. Como é a composição desse PIB? Que componentes puxaram o PIB pra cima ou não? Aí eu acho que tem um ponto importante nesse trimestre especificamente que a gente não via há muito tempo: o protagonismo da indústria.

Esse protagonismo da indústria aparece inclusive acima do setor de serviços. Porque quando a gente pensa em economia urbana, o primeiro setor que vem a cabeça no protagonismo na composição do PIB é o setor de serviços. Mas aqui a gente está falando de indústria. É indústria com aumento de investimento. Então a gente está falando realmente da ampliação de capacidade produtiva.  Pensando na indústria e nesse aumento de capacidade produtiva que viria muito dos bens de capital — são bens que produzem outros bens — muito disso é importado. O que está lá na outra linha quando a gente olha o PIB são as importações crescendo bastante no trimestre também.  A gente tem visto a balança comercial apontando para essa importação desses bens de capital. Então é realmente aqui um aumento de capacidade produtiva. Uma capacidade produtiva que estava parada.

Expectativas positivas para o futuro

Quando a gente pensa em indústria, especificamente, o setor estava andando de lado, não tinha protagonismo, não era o ponto forte de leituras do PIB. E isso está acontecendo agora, muito puxado por expectativas positivas para o futuro. Afinal, ninguém vai aumentar a capacidade produtiva pensando que não vai ter consumo no futuro. Primeiro precisam ser desovados os estoques, para depois a gente ter essa produção e esses estoques serem repostos.

A gente tem esse protagonismo interessante. E não é da indústria extrativa. Porque quando a gente pensa em indústria aqui no Brasil a gente também pensa em indústria extrativa,  minério e petróleo. Se fôssemos colocar aí os principais agentes disso, a gente estaria falando de Petrobras e Vale. E não foi isso que puxou o PIB pra cima. É uma composição muito diferente, que mostra também muito essa sensibilidade aos preços de importação.

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