Obra de Christiana Quady – Divulgação.
Artista mineira narra um rito pessoal desafiando as possibilidades de múltiplos materiais e técnicas
Um rito pessoal, em quatro atos. A exposição “Rito de Margem”, da artista mineira e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Christiana Quady, abre no dia 21 de setembro, na Galeria Mama Cadela, com curadoria de João Gabriel Nemer. Na coleção de obras, Christiana estabelece fronteiras e conexões com a natureza e seus elementos, narrando um processo de transformação.
A mostra parte do conceito de rito de margem como estágio liminar de elaboração íntima e pessoal. O sujeito que vive à margem está em um entre espaço, desassociando-se das amarras sociais e buscando ativamente reconectar-se com o universo a sua volta. No caso de Christiana Quady, essa reconexão manifesta-se pela natureza.
“O ato de pintar carrega consigo um poder ritualístico, capaz de elaborar sentimentos e manifestar o que antes só era possível dentro de uma abstração individual. Por isso, a exposição é uma espécie de metalinguagem: a expressão visual de um rito, por meio de outro rito, que é a pintura”, comenta a artista.
Buscando retratar a complexidade estética e simbólica do mar, das montanhas e de outros elementos naturais complexos, Christiana desafia as possibilidades dos materiais e explora as múltiplas texturas da tinta sobre a tela. As obras acabam por demonstrar um encantamento com o mundo. Além do externo, no percurso, Christiana Quady mergulha em outras imensidões do universo íntimo e do inconsciente, como nas telas que exibem o feminino selvagem – muitas vezes indesejado e sufocado pela sociedade.
QUATRO SALAS, QUATRO ETAPAS DE UM RITO
Na primeira sala, “O que vestir para encontrar o mundo?”, os adornos são protagonistas, vistos como elementos essenciais para o rito de margem, carregando histórias e simbologias. Num encontro a sós, Christiana Quady presencia os seus adornos se transformando em sujeito, agigantados pairando sob a paisagem.
Já é possível perceber a mistura de cores, texturas e técnicas que a artista mobiliza para representar diferentes elementos da natureza e do seu universo íntimo. Na obra “O que submerge e o que sobrenada”, em uma coreografia meticulosa, a delicadeza da aquarela se funde à imprevisibilidade do spray.
Silenciosa e imóvel, a montanha, ancestralmente, simboliza o ponto de conexão entre dois mundos. Em “Como escutar o convite”, Quady ilustra a imensidão e a força desses elementos, a partir da experimentação, utilizando uma pintura mais enérgica e livre. Em cada uma das obras há um uso específico de materiais e técnicas. O resultado são paisagens bastante distintas, que convocam diferentes sensações.
Na sala “O que se manifesta no meu santuário íntimo?”, Quady expõe o inconsciente feminino indesejado nos meios sociais. Na obra “As Herculanas”, o lado selvagem, petulante, questionador, onírico, ambicioso e transgressor da mulher – constantemente recalcados – vem à tona. Trazendo o questionamento “De qual caverna você saiu?”, também reflete sobre as amarras que nos aprisionam e nos impedem de enxergar o que de fortuito e poderoso temos à nossa volta.
Por fim, a exposição faz uma homenagem ao mar. Nas pinturas, Quady retorna à tinta a óleo para traduzir a profundidade e complexidade estética e simbólica do mar. Traz histórias adquiridas e vivenciadas pela artista nas suas visitas à Bahia, a magnitude das ondas e o emaranhado de filetes de espuma, que parecem costurados à mão. O deslizar do óleo é como um gesto de amor.
SERVIÇO
Abertura da Exposição “Rito de Margem”, de Christiana Quady
Dia 21 de setembro
Horário: 18h
Local: Galeria Mama Cadela
Rua Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza – Belo Horizonte
Exposição “Rito de Margem”, de Christiana Quady
21 de setembro a 20 de outubro de 2024
Visitação gratuita: Sextas, sábados e domingos, de 9h às 15h
*Durante a semana, é possível agendar pelo direct do Instagram @mama_cadela