Especialista explica problemas enfrentados por indivíduos com TEA e dá dicas para uma nutrição saudável
No próximo dia 16 de outubro é celebrado o Dia Mundial da Alimentação. A alimentação, de acordo com especialistas, pode influenciar significativamente a qualidade de vida de pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA). Um dos principais desafios nutricionais enfrentados por autistas é a seletividade alimentar. Além disso, algumas pesquisas ainda apontam que muitos autistas apresentam algum tipo de problema gastrointestinal, o que pode estar ligado a deficiências nutricionais e influenciar o comportamento
A nutricionista Edione Cordeiro dos Santos, do Censa Betim, centro referência no atendimento a autistas severos, explica que a grande maioria dos autistas possui restrições alimentares. “É importante o acompanhamento nutricional para identificar essas restrições e elaborar um protocolo individualizado com o paciente. Alimentos ultraprocessados, fast food, bebidas açucaradas, bebidas alcoólicas, devem ser evitados, pois são inflamatórios e geram disbiose intestinal que é um problema causado por um desequilíbrio das bactérias que compõem o trato gastrointestinal”, diz.
Antes de fazer qualquer restrição ou exclusão de alimentos, Edione aconselha que o autista passe por avaliação profissional de um médico e nutricionista para a realização de exames laboratoriais e testes específicos para esse acompanhamento para receber orientações e dietas específicas.
Seletividade
A alimentação de indivíduos com autismo apresenta particularidades, sendo a seletividade alimentar uma das mais marcantes. Essa característica, que se manifesta na dificuldade em aceitar uma variedade de alimentos, é frequentemente observada em crianças com TEA e está associada a fatores sensoriais e emocionais.
Um estudo brasileiro revelou que crianças autistas apresentam maiores alterações no comportamento alimentar apresentadas como seletividade alimentar (34,4%), aspectos comportamentais (27,1%) e motricidade na mastigação (21,9%).
Uma das características do TEA é o comportamento repetitivo e restritivo e esses hábitos afetam diretamente a forma como a criança se relaciona com a comida, e podem até mesmo fazer com que ela perca o interesse em se alimentar.
Para a especialista, as consequências da seletividade alimentar no TEA vão além da simples recusa de alimentos. A alimentação desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de cada indivíduo, especialmente para aqueles com necessidades específicas, como as pessoas com autismo. Uma dieta equilibrada fornece os nutrientes essenciais para o crescimento, o desenvolvimento cognitivo e o bem-estar geral.
No entanto, através da terapia alimentar, de acordo com a nutricionista, é possível criar alternativas para lidar com esse desafio. Por isso é importante o suporte do nutricionista para orientar e acompanhar nestes casos.
Tratamento nutricional
Edione explica que todo indivíduo com autismo deve ser tratado de forma funcional. “Precisamos olhar esse paciente de forma integral, associando os sintomas à teia da nutrição funcional a fim de tratar todo o indivíduo por detrás do autismo e não apenas um comportamento”, comenta.
A nutrição funcional busca promover a saúde e prevenir doenças, personalizando o tratamento nutricional de cada indivíduo. Através da análise de sintomas, sinais e características, identifica e corrige desequilíbrios nutricionais que sobrecarregam o sistema imunológico e desencadeiam reações alérgicas tardias.
Em relação à seletividade alimentar, Edione explica que o nutricionista é de fundamental importância para identificar o grau de seletividade alimentar do indivíduo com Transtorno do Espectro Autista, além de orientar para uma dieta adequada e auxiliar a introduzir novos alimentos. O tratamento, no entanto, é multidisciplinar e envolve vários profissionais. Além disso, é preciso estimular um maior repertório alimentar de crianças com a exposição a novas texturas, cheiros, sabores e cores de alimentos.
Dicas
Algumas orientações são fundamentais para promover a alimentação saudável nos indivíduos com autismo. “Para incentivar a alimentação saudável em pessoas com autismo, é fundamental oferecer variedade. Experimente diferentes preparos do mesmo alimento, como cozido, cru ou misturado em outros pratos. Introduza novos alimentos aos poucos, permitindo que a pessoa se familiarize com novos sabores e texturas”, ensina Edione.
A especialista também aconselha a ofertar diariamente frutas, legumes e verduras, aumentar o consumo de ômega 3, presente em peixes, chia e linhaça, ômega 9 que é encontrado em azeite, abacate e castanhas e fibras como legumes, verduras, aveia.
Outra dica é evitar forçar a alimentação, pois pode dificultar o interesse por outros alimentos. Além disso, a nutricionista aconselha não oferecer alimentos e preparações muito gordurosas e excesso de açúcar e de café.
Para quem gosta de café, a dica é não oferecer a bebida no período noturno. Substitua por chás calmantes como camomila, melissa, capim limão, por exemplo. A cafeína que está presente no café pode causar aumento temporário na energia, mas também pode levar a picos e quedas rápidas, afetando a estabilidade emocional e a concentração.
Encontrado em alimentos ultraprocessados como embutidos, temperos artificiais, a substância glutamato monossódico é um perigo para a saúde, alerta a nutricionista. Ela ensina a dar preferência a alimentos menos processados e trocar os temperos artificiais por temperos naturais como alecrim, orégano, manjericão e cúrcuma.
O ômega 3 desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro e na função cognitiva. “Para pessoas com TEA, esse nutriente pode auxiliar na melhora da atenção, da memória e da comunicação. Além disso, suas propriedades anti-inflamatórias podem contribuir para aliviar sintomas como a hiperatividade e a irritabilidade, comuns no autismo”, explica a especialista. No entanto, segundo a especialista, é importante que essa suplementação seja realizada com orientação médica, pois a dosagem adequada varia de acordo com cada indivíduo.