Os carros elétricos e híbridos já fazem parte da rotina nas grandes cidades — e, aos poucos, também das oficinas independentes. O que antes parecia “coisa do futuro” já chega com frequência para revisões e diagnósticos, exigindo novos cuidados de quem atua na reparação automotiva.
Mas é preciso calma: não é verdade que apenas concessionárias ou oficinas autorizadas podem atender veículos elétricos. Com procedimentos corretos e atenção à segurança, é possível lucrar e se destacar nesse novo mercado.
Quem afirma é Jonathan Monteiro Kreski, técnico automotivo formado pelo SENAI, com mais de 700 horas de capacitação e experiência em manutenção e gestão de oficina. Ele explica que o segredo é entender onde estão os riscos — e como evitá-los com métodos práticos.
1) Desligue e isole o sistema de alta tensão
Todo veículo elétrico ou híbrido possui um sistema de alta tensão (AT), que pode ultrapassar 400 volts. Antes de qualquer intervenção, é fundamental desligar o sistema e bloquear o circuito, garantindo que ninguém toque acidentalmente em partes energizadas.
“Essa rotina deve ser feita com checklists e sinalização visível. Não é diferente de cortar a energia antes de mexer na rede elétrica doméstica, mas aqui o risco é bem maior”, explica Kreski.
O procedimento é conhecido como LOTO (Lockout/Tagout) e integra padrões internacionais de segurança.
2) Use os EPIs corretos e em condições adequadas
Não basta “colocar uma luva”. O técnico deve usar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) certificados para AT: luvas isolantes, tapete dielétrico, óculos de proteção e ferramentas com isolamento adequado.
“Uma luva furada pode custar caro. O ideal é inspecionar e registrar o estado de cada EPI antes e depois do uso”, orienta Kreski.
Os EPIs representam investimento acessível — e essencial — para quem quer trabalhar com VE/HEV com segurança e credibilidade.
3) Se profissionalize antes de executar a tarefa
O maior erro é achar que basta assistir a vídeos na internet. Cursos presenciais ou híbridos (SENAI, CEDTEC, entre outras instituições técnicas) ensinam protocolos de segurança, leitura de diagramas e práticas de descarte.
“O conhecimento é o que realmente protege — e é o que o cliente percebe. Quando entende que o profissional é certificado, confia e aceita pagar melhor pelo serviço”, afirma o técnico.
4) Atenção ao descarte e ao armazenamento de baterias
As baterias de íons de lítio são sensíveis a impacto, calor e perfuração. Não devem ficar no chão da oficina nem expostas ao sol.
O correto é armazená-las em local isolado e ventilado, sobre superfície não condutora, longe de líquidos e fontes de calor.
A destinação final deve seguir normas ambientais e contratos com cooperativas ou empresas licenciadas.
“Bateria não é lixo comum. O manuseio errado pode gerar incêndio e multa ambiental. A boa notícia é que seguir o protocolo é simples e protege o bolso do empresário”, observa Kreski.
5) Documente tudo
Registrar cada etapa do serviço — especialmente em VE/HEV — isso te proteje juridicamente e valoriza seu serviço.
“Fotos, checklists e laudos técnicos formam um histórico. Isso mostra método, reduz discussões com o cliente e melhora a percepção de profissionalismo”, diz Kreski.
Muitas oficinas já criam dossiês digitais com fotos e assinatura eletrônica, agregando transparência e valor ao atendimento.
6) Invista primeiro em conhecimento, depois em ferramentas
O erro mais comum é acreditar que é preciso gastar muito em scanners e instrumentos específicos.
Segundo Kreski, o melhor investimento é o treinamento da equipe, seguido de ferramentas essenciais para diagnóstico.
“Não adianta ter o melhor osciloscópio se ninguém sabe interpretar o sinal. Um técnico bem treinado faz mais com menos”, reforça.
7) Cuidado com o improviso
Mesmo pequenas falhas podem ter consequências sérias.
“Jamais isole cabos com fita comum, nunca use ferramentas metálicas não isoladas e não desconecte módulos sem confirmar o desligamento completo. O improviso, aqui, é inimigo da segurança”, alerta.
Alguns profissionais tendem a ignorar, entretanto, seguir o manual do fabricante e manter o ambiente organizado é sinal de profissionalismo — e de segurança.
A nova era das oficinas
O avanço dos veículos elétricos no Brasil é gradual, mas irreversível. Estimativas da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) indicam crescimento superior a 100% nas vendas de híbridos plug-in em 2024.
Para Jonathan Kreski, quem se preparar agora estará em vantagem nos próximos anos.
“A oficina que aprende primeiro define padrão, atrai novos clientes e cobra melhor. Não é modismo — é evolução e sustentabilidade do negócio”, conclui.
Sobre o especialista
Jonathan Kreski é técnico automotivo, especialista em diagnóstico e sistemas elétricos, com certificação em veículos elétricos e híbridos pelo SENAI. Atua como gestor de oficina e consultor técnico no setor automotivo.