O ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima mantém sociedade em um restaurante na Bahia com o dono de um escritório de advocacia que defende a empreiteira Cosbat, responsável pela obra em Salvador que levou à demissão de Marcelo Calero da pasta de Cultura do governo Temer.
Como razão para sua demissão, Calero afirmou que sofreu pressões de Geddel para dar um parecer favorável à continuidade da construção do La Vue Ladeira da Barra, projeto imobiliário nos arredores de uma área tombada em Salvador. Segundo Calero, Geddel teria afirmado em conversa possuir um apartamento no empreendimento. Geddel admitiu as conversas, mas negou interesses pessoais.
O sócio de Geddel no restaurante Al Mare é seu primo Jayme Vieira Lima Filho, que possui um escritório de advocacia que defende a Cosbat na Justiça baiana. O escritório Vieira Lima Filho Advogados Associados representa a construtora em uma ação de 2011 em uma vara de relações de consumo. O processo trata de outro edifício, chamado Ondina Mar.
Tanto Jayme quanto outro primo de Geddel, Pedro Luz, constam como advogados da empreiteira no processo.
Procurado pela Folha, Jayme afirmou desconhecer a ação. Ele atua na área eleitoral e já representou inclusive o PMDB da Bahia, comandado por Geddel. Jayme disse que seu nome deve ter sido incluído só formalmente por outro sócio do escritório e que não realizou atos processuais nesse caso.
Outro que divide com Geddel a sociedade do restaurante é Christiano Pinto Polillo, ex-executivo da empreiteira OAS que atuou no Porto Maravilha, projeto de revitalização no Rio.
Polillo foi também administrador da Morro do Gato Empreendimentos em conjunto com um sócio de Luiz Fernando Machado Costa Filho, dono da Cosbat. Ele negou à Folha que tenha participado da empresa e disse que os dados da Receita “devem estar errados”.
Demissão de Calero teria sido motivada por pressão de Geddel
Marcelo Calero, que pediu demissão do Ministério da Cultura na noite de sexta-feira (19), acusa o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de tê-lo pressionado a produzir um parecer técnico para favorecer seus interesses pessoais. De acordo com Calero, Geddel – que é o articulador político do governo Michel Temer – o procurou pelo menos cinco vezes para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovasse o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra, nos arredores de uma área tombada em Salvador, base de Geddel.
Geddel afirmou no sábado que falou com o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero sobre um projeto imobiliário na Bahia, contudo, negou que o tenha o pressionado a produzir um parecer técnico para liberar o empreendimento. Geddel confirmou que, no ano passado, fez uma promessa de compra e venda de uma unidade no condomínio e afirma que, justamente por ter conhecimento do impasse imobiliário, tinha legitimidade para levar a questão ao então ministro da Cultura.
Comissão de Ética analisa nesta segunda denúncia contra Geddel
O presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Mauro Vieira, afirmou que o colegiado vai analisar nesta segunda-feira (21) se abre ou não processo para investigar a conduta do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, no episódio que culminou na demissão de Calero.
Órgão vinculado à Presidência, a Comissão de Ética Pública fiscaliza a aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal. O colegiado não tem poder para punir nenhum servidor público, no entanto, como é um órgão consultivo do presidente da República, pode recomendar ao chefe do Executivo sanções a integrantes do governo.
As acusações de Calero contra Geddel também podem ser investigadas no Congresso Nacional. A oposição já está se movimentando para fechar o cerco em torno do ministro da Secretaria de Governo. Em nota, o deputado Jorge Solla (PT-BA), afirmou que vai apresentar à comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara um requerimento para convocar o ex-ministro da Cultura a prestar esclarecimentos sobre o episódio.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), divulgou neste sábado um comunicado pedindo a demissão imediata de Geddel do primeiro escalão e informando que vai pedir a convocação de Geddel para que o ministro explique a denúncia no Senado. Além disso, o líder petista afirmou que irá solicitar que o Ministério Público Federal apure o caso. As informações são do G1.