Doutor, professor e pesquisador do Instituto Federal do Pará – IFPA, Cleidison Santos recentemente publicou o livro intitulado “Antinomias culturales: esclavitud y cultura afrobrazileña: definición, temas y problema que suscribe a la educación de remanescentes de quilombolas”. Escrita em espanhol, a obra já está difundida em mais de 25 países entre américa do Sul, américa do norte Ásia e Europa. O livro é parte de sua tese das “Formas Simbólicas como instrumento de leitura da realidade”. A pesquisa foi consolidada em comunidades tradicionais e o professor nos afirma a relevância da obra para o campo da Antropologia, sociologia, Educação de remanescentes quilombolas e a própria filosofia. Por um árduo esforço em um processo dialético, o professor remete as análises das estruturas simbólicas: Religião, Mito, linguagem, Arte e a ciência que subscreveram a participação dos negros no Pará, em especifico nos bancos das escolas:
“- Dividido em cinco capítulos, O Tomo I é a primeira parte do estudo dos processos antinômicos e seus efeitos nas comunidades quilombolas. A obra relaciona a trajetória de negros e situações simbólicas que foram marginalizadas, estereotipadas, no contexto social, especialmente no espaço escolar, desde o Brasil imperial até a atualidade.”
A reflexão é inerente de sua tese de doutorado e base de sua teoria. O pesquisador menciona: – “há um abismo formado entre as escolas e a comunidades. E, quanto a este, é formado pelo processo antinômico desencadeado pelas formas simbólicas. Não há espanto, ou dificuldade na compreensão disto porque tudo é parte da natureza da própria cultura que conforma se e manifesta nas coisas e ações, que nos revela duas premissas situacional: movimento necessário e vivo”.
Para mais, o professor ainda nos explica que – “As comunidades de remanescentes de quilombolas são formadas por grupos sociais historicamente constituídos e representados por elementos econômicos, culturais e sociais que implicam relações de sociabilidade por meio do processo de exteriorização de hábitos e costumes, que são moldados e conduzidos por formas simbólicas. As formas são conjuntos de fantasmagorias (linguagem, religião, ciência e mito) que engendram as ações e coisas que formam memórias e identidades coletivas. Nesse caso, falar em educação quilombola, primeiramente, é tomar consciência dessas conjunturas que estruturam as histórias de vida das comunidades e suas práticas cotidianas como elementos da educação: as lutas, os saberes tradicionais e os valores são imperativos no fazer educacional”
Quando questionado sobre a manutenção das identidades nas comunidades tradicionais e as formas simbólicas, o professor explica:
“- A linguagem apresenta em ambos os espaços (comunidade e escola) como instrumento de relação com ambas as realidades. Essas interações no espaço comunitário (espaço construído por formas simbólicas) nos revelaram expressões e impressões regidas por uma estrutura construída historicamente. Independentemente das erupções sofridas no processo (antinomias), que levaram a sucessivas mudanças na linguagem, essas interações não foram desconectadas do princípio que rege o cotidiano, o modo de vida, que por sua vez nos apresenta conexões entre fragmentos que remontam para nós, para memórias coletivas. A escola também manifesta essas composições em uma linguagem exteriorizada da memória coletiva presente. Porém, já não é novidade que as estruturas tendem a colidir, e tem sido mais do que natural, nas escolas, que essa forma simbólica (a linguagem) se apresente como superior, sufocando e marginalizando a outra (a linguagem da comunidade)”.
A respeito das formas simbólicas como instrumento de leitura e os problemas encontrados, o autor nos explica:
Destacamos dois problemas importantes nas comunidades remanescentes de quilombolas em relação à pesquisa. A primeira é quando nós, como observadores, nos embriagamos com as teorias dos satélites e esquecemos (não no sentido estrito da palavra, mas no sentido que nos cega) de vivenciar a realidade local. São fatores de subjetividades, fundamentais para a compreensão de cada comunidade. Ao eclipsarmos esses fatores, perdemos momentaneamente o caminho que nos conduziu, principalmente, à almejada objetividade. A situação que envolve os preceitos educativos e suas concepções entre sujeito/objeto nos espaços escolares e nas comunidades, bem como a lucidez da relação entre escolas e comunidades, torna-se decadente e obscura à medida que nos distanciamos e fazemos juízos inequívocos, julgamentos que não compartilham da simetria entre realidades e possibilidades (engendradores de formas simbólicas). Se nossos sentidos fossem afetados pelas perspectivas que envolvem essas atmosferas, seríamos incapazes de denotar a verdadeira natureza da realidade in locus. Desta forma, antes de tudo, nos absteríamos de certas sombras, a fim de observar, demonstrar e experimentar. Quanto a isso, ele nos precede como um segundo problema: O grande erro do pesquisador não consiste em analisar ou entender as coisas enquanto elas seguem seu fluxo natural. O verdadeiro problema é tentar analisá-los e entendê-los (uma impossibilidade cogita [cogitare], moldada pela consciência do pesquisador) antes de observá-los, demonstrá-los e vivenciá-los nessas comunidades. Esses dois problemas dão origem a uma série de erros anacrônicos na investigação. Isto impossibilita de visualizar a realidade, vincula-se a formulações e hipóteses por analogias históricas, inferindo textos e contextos que se desvinculam das verdadeiras composições (formas simbólicas) que compõem essas comunidades.
Neste sentido, a formas simbólicas (religião, mito, linguagem, arte e ciência) tornam se ferramentais imprescindíveis no fazer antropofilosofica da educação instrumento de leitura da realidade. Todas as ações e coisas nestas comunidades tradicionais estão vinculadas de alguma forma as estas estruturas; e quando elas se manifestam na realidade, tornam se tangível, são passiveis de nossas leitura e compreensão. compreende-las em suas manifestações (no sentido de experimentar, torna se parte da realidade).
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