As mudanças climáticas já são uma realidade, e a solução exige que todos os países do mundo trabalhem em conjunto para amenizar os impactos no meio ambiente. A COP 30 é a Conferência do Clima das Nações Unidas, onde os países membros se reúnem para debater, propor e concordar com medidas que buscam reduzir os danos da atividade humana no meio ambiente e no planeta.
Em 2025, a COP 30 será realizada em Belém (PA) e representa, ao mesmo tempo, desafios e conquistas para o Brasil. Por sermos um país de muita biodiversidade, temos o potencial para liderar o combate às mudanças climáticas – e esse protagonismo nos dá mais visibilidade e poder de mobilização. Ao mesmo tempo, temos nossas próprias batalhas internas para lutar e fazer da prioridade no discurso, um objetivo concreto.
Desde a posse do presidente Lula em seu terceiro mandato, o meio ambiente é tema central de muitos discursos. Mas, entre um Congresso totalmente antiambientalista e uma frente extremamente ampla, o governo tem tido dificuldade de colocar em prática esse discurso e priorizar a transição energética, a preservação do meio ambiente e todas as medidas possíveis para frear o aquecimento global.
Enquanto isso, o resto do mundo tenta, dentro de seus limites, adotar medidas para diminuir o consumo de combustíveis fósseis e a emissão de gases do efeito estufa – os principais causadores das mudanças climáticas. Entre acordos nacionais, de bloco e pactos globais, todos lidam com o aviso da ciência: aumentar a temperatura do planeta em mais de 2ºC trará consequências catastróficas.
A Rio 92 e a Conferência da ONU pelo clima
Desde 1992, quando a ONU organizou a Rio 92, a primeira conferência sobre o clima onde 175 países debateram os problemas com a emissão dos gases do efeito estufa, o mundo tem discutido sobre um novo modelo de desenvolvimento econômico, mais alinhado à proteção da biodiversidade e ao uso sustentável dos recursos naturais para garantir a sobrevivência do planeta e da espécie humana na Terra.
Durante nove dias, em junho de 1992, a capital do Brasil foi transferida de Brasília para o Rio de Janeiro pelo então presidente, Fernando Collor de Mello, para o evento considerado o marco zero dos debates climáticos. Com a participação de diversas ONGs, a Rio 92 focou em acordar, entre os países participantes, as mudanças necessárias nos padrões de consumo, na proteção dos recursos naturais e no desenvolvimento de tecnologias capazes de reforçar a gestão ambiental dos países.
Mesmo sem uma data para o cumprimento desses combinados, a Conferência fez história, como se o planeta tivesse acordado e, agora, ditava as regras de aluguel. A abertura para as ONGs participarem do debate permitiu que, em outros eventos posteriores, essa conversa fosse expandida para outros atores da sociedade.
A COP 30 e meta de aquecimento global de 1,5ºC
A meta de manter a temperatura do planeta em, no máximo, 1,5ºC acima do que foi medido no período pré-industrial até 2100, surgiu em 2015 quando a Conferência do Clima daquele ano estabeleceu os Acordos de Paris com metas ambiciosas para o combate às mudanças climáticas.
Segundo diversos cientistas da área, o aquecimento global de 1,5ºC até 2100 seria o limite para evitar que mudanças irreversíveis pudessem acontecer, incluindo o derretimento excessivo das calotas polares e a elevação do nível dos oceanos – algo digno do filme hollywoodiano “O dia depois de amanhã”.
Não podemos negar que o clima está mais instável – fingir que as mudanças climáticas não existem se tornou uma dificuldade até para os negacionistas. Temos secas históricas seguidas por ondas de frio, chuvas torrenciais e incêndios devastadores. A previsão do tempo se tornou algo mais próximo da adivinhação do que de uma ciência.
Os desafios globais para o clima antes da COP 30
É indiscutível que o homem é, ao mesmo tempo, o principal responsável e a única possibilidade de solução para o combate efetivo às alterações climáticas.
O volume de emissão dos Gases de Efeito Estufa desde o final do século XIX é de responsabilidade humana, mas, ao mesmo tempo, temos as ferramentas e o conhecimento disponíveis para adotar medidas para mitigar os impactos do aquecimento global. Não, já passamos do ponto em que seria possível revertê-los, mas podemos diminuir muito o estrago que ainda causaremos no planeta.
Algumas das medidas mais divulgadas como fundamentais para o progresso no combate às alterações climáticas e que já foram debatidas nas COPs anteriores:
- Transição energética para fontes renováveis: se o futuro do planeta passa pela energia verde, precisamos fazer transicionar para a energia de origens renováveis, como a solar e eólica.
- Redução drástica do consumo de combustíveis fósseis: uma das medidas mais polêmicas, considerando que o petróleo foi o combustível da evolução humana no último século e que muitas economias ainda se baseiam na exploração e exportação dessa commodity. Mas, por ser um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, é uma escolha que precisa ser feita, e logo. A Agência Internacional da Energia afirmou em relatório que a demanda por petróleo precisa diminuir 75% até 2030 para que a temperatura do planeta fique apenas 1,5ºC acima das temperaturas pré-industriais.
- Combate ao desmatamento: o desmatamento contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa ao liberar o carbono que estava preso nas árvores. No Brasil, o desmatamento é o principal causador das emissões, colocando o país entre os maiores responsáveis pelos gases que causam o aquecimento do planeta. Proteger e recuperar a vegetação nativa é importante não apenas para mitigar as mudanças climáticas, mas também para fixar o carbono no solo e evitar a liberação de mais gases na atmosfera.
- Eficiência energética: medidas de eficiência energética em residências, indústrias e transportes, permitem reduzir o consumo de energia e, consequentemente, as emissões de gases de efeito estufa.
- Mudanças nos hábitos de consumo: o consumo consciente de produtos e serviços com baixo impacto ambiental é essencial para reduzir a pegada de carbono individual, além de gerar menos resíduos para o planeta.
Como o Brasil pode assumir o protagonismo na COP 30
Por sua ampla biodiversidade, o Brasil tem muito potencial para liderar as iniciativas de proteção ao meio ambiente, transição energética e mitigação das mudanças climáticas. Após o desmonte das políticas ambientais durante o governo Bolsonaro, o país retoma os debates sobre preservação ambiental, transição energética e as medidas possíveis para cuidar do clima e do meio ambiente.
No terceiro mandato do presidente Lula, o discurso tem mesmo priorizado a questão ambiental, do combate ao desmatamento ao plano interministerial de transição energética. No entanto, a prática tem saído um tanto diferente, considerando o Congresso anti ambientalista que foi eleito em 2022 e a própria articulação da base do governo, que por ser uma frente ampla, precisa trabalhar sempre com os meio-termos.
A escolha de Belém (PA) como sede da COP 30, em 2025, não foi à toa. No coração da floresta, a cidade será palco de debates sobre a preservação da Amazônia com os atores envolvidos e seus habitantes. As conversas vão considerar exemplos bem-sucedidos de cultivo sustentável de produtos amazônicos, como o açaí e a castanha do Pará, para debater o que mais pode ser feito sem deixar de preservar o meio ambiente.
No entanto, o Brasil precisa liderar pelo exemplo, e não apenas pelo discurso. Precisa demonstrar que está adotando, na prática, ações para combater o desmatamento (principal fator de emissão de gases do efeito estufa do país), preservar o meio ambiente e transicionar para fontes de energias limpas e renováveis. Isso inclui fazer mudanças em diversos planos ministeriais, como a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, considerar o petróleo na lista para a transição energética e até na agricultura, onde os latifúndios monocultores são a maior extensão territorial.
As metas do Acordo de Paris precisam ser cumpridas – da redução no consumo de super poluentes à preservação de vegetação nativa – por todos os países signatários. Mas os que desejam liderar esse debate precisam ser os primeiros a fazê-lo.
A transição energética e a economia de baixo carbono na COP 30
A transição energética e a economia de baixo carbono são pilares fundamentais para a preservação do meio ambiente, e por isso devem estar na pauta dos debates durante a COP 30. Construir um futuro sustentável para a humanidade e o planeta passa por definir um novo modelo de energia verde, sem gerar impactos ao meio ambiente.
Descarbonizar a economia, abrindo mão principalmente dos combustíveis fósseis, pode ser uma meta complexa, mas ao abrir a possibilidade de desenvolvimento de novas tecnologias, também estamos nos permitindo criar mecanismos que possam impulsionar a economia global de outras formas, para preservar o planeta ao mesmo tempo em que movimentamos nossas máquinas.
A energia eólica, solar, de biomassa e até mesmo oceânica já figuram nas listas de possíveis substitutas da energia de combustíveis fósseis. Precisamos articular interna e externamente formas de fortalecer essas fontes e abrir mão do petróleo para nos preservarmos como espécie.
O chamado da COP30 deve ser para todos
Uma pesquisa da Nasa apontou que, em 50 anos, a vida no Brasil estará muito mais difícil em virtude do aquecimento global e suas consequências, se nada for feito a esse respeito. Muitos veículos, inclusive, noticiaram que o país estaria inabitável, atingindo em cheio a esperança dos que acreditam que ainda podemos fazer muito por nós e pelo planeta.
A verdade é que em 50 anos a vida no planeta estará mais difícil, com mais eventos climáticos extremos, elevação dos níveis dos oceanos, prejuízos na agricultura e até perda da biodiversidade. Mas, ao mesmo tempo, nunca tivemos tanto conhecimento e tecnologia disponíveis para, de fato, fazermos algo a respeito.
Precisamos todos mudar nossa postura, reduzir o impacto das nossas atividades e cobrar o poder público e as empresas por ações que, como indivíduos, não temos capacidade para fazer. Mudar o futuro é possível, e por isso mesmo precisamos começar agora.