Festa literária reúne no Rio mais de 150 artistas em 76 atividades




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Criada em 2010, a Festa Literária de Santa Maria Madalena (Flim), no interior do estado do Rio, abre sua 14ª edição na próxima sexta-feira (25), estendendo-se até domingo (27. O evento oferecerá ao público 76 atividades que incluem shows, mesas-redondas, palestras, lançamentos de livros, apresentações de canto e dança, exposições de artes plásticas e de fotografia, exposições das escolas locais, rodas de conversa, ciranda de poemas, feira de livros, feira de produtos locais e até um bloco de carnaval.

O homenageado deste ano é o ilustrador e escritor de literatura infantojuvenil mineiro Julio Emilio Braz, que começou a publicar em 1989. Com mais de 150 livros publicados e adotados por escolas e professores do Brasil, Julio Emilio é bastante conhecido pela geração que está atualmente na faixa etária de 30 a 40 anos e que leu a obra dele na infância e na adolescência, informou à Agência Brasil a curadora da Flim, jornalista Terezinha Costa.

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Durante a feira, Julio Emilio Braz vai lançar dois novos livros: Debaixo da Via Láctea e Na ponta de meus dedos. A Flim deste ano tem como tema Únicos e Plurais, que define a obra de Braz. De acordo com a curadora, “a obra dele é toda em cima de diversidade, mas também da identidade de cada pessoa, de cada grupo, de se reconhecer e aceitar sua identidade”. A obra do escritor aborda negros, gays, asiáticos, surfistas, gente da roça, gente urbana, terror, ficção científica, história policial. “Ao mesmo tempo, tem muito humor”, completou.

Começo

Terezinha Costa se mudou com o marido para Santa Maria Madalena, município da região serrana fluminense, em 2004. Na venda de beira de estrada que pertencia ao sítio onde foi morar, Terezinha abriu uma biblioteca em 2007, que funcionava um domingo por mês, onde as mães da região levavam suas crianças. Numa dessas ocasiões, uma pessoa sugeriu que Terezinha “inventasse” alguma atividade que pudesse ser feita na área urbana.

“Santa Maria Madalena é uma cidade que vem do tempo do café e o centro histórico está ainda preservado, com seus casarões antigos. Como o cenário está pronto, pensei que seria interessante fazer uma festa literária ou algo parecido”, disse Terezinha. Ela então criou um projeto que acabou chegando às mãos do secretário de Educação e Cultura da época. “Ele me chamou, a gente conversou e resolveu fazer a primeira edição da Flim, que foi em 2010”.

Como a jornalista estava influenciada por ideias de desenvolvimento sustentável, acabou decidindo que, para ter sustentabilidade, o evento não poderia depender somente do setor público. “Senão, quando aquele secretário saísse, a feira ia morrer. Fomos conceituando dessa maneira, uma coisa que juntasse o que chamam de tripé da sustentabilidade: o Poder Público, a sociedade civil e os empresários”. Todas as ideias foram adaptadas para a escala local. “A sociedade civil era eu, no começo”.

Evolução

O projeto foi evoluindo ao longo do tempo e, em 2014, criou-se a Associação Pró Cultura de Santa Maria Madalena. “Hoje, chegamos à décima quarta edição com um evento que é realizado pela prefeitura municipal, a Associação Pró Cultura e o Convention Bureau”. Como o turismo também se estruturou de 2010 para cá, “até por influência da Flim”, uma técnica de turismo polonesa casada com um brasileiro virou liderança na área empresarial do turismo e fundou o Convention & Visitors Bureau na cidade. “Com isso, a gente passou a ter de fato aquele tripé e o lado empresarial passou a ser menos amador, menos precário”. A feira literária é organizada pelas três instituições e liderada pela Associação Pró Cultura.

Cabe a Terezinha Costa fazer a curadoria, pensar o conteúdo, que cresceu muito rapidamente. Todas as escolas municipais, a escola estadual de ensino médio e os três colégios particulares participam do evento desde o primeiro ano. A Flim une educação, cultura para toda a população e interesse econômico para ajudar a economia da cidade, terra natal da comediante Dercy Gonçalves. Seu túmulo, em forma de pirâmide de vidro, instalado na entrada do cemitério local, foi, durante muitos anos, atração turística, além do museu que leva o seu nome. “Até a Flim começar, basicamente a atração turística era a Dercy”.

Nesta 14ª edição, a feira reúne mais de 150 pessoas entre artistas, músicos, fotógrafos, conferencistas, escritores, editores, livreiros, declamadores e mediadores nas atrações oferecidas ao público local e aos turistas que chegam de diversas partes do país. Das 76 atividades programadas, 44 envolvem artistas e produtores de cultura madalenenses. As outras 22 atividades têm como atrações pessoas e grupos procedentes de 12 cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói, Nova Friburgo, Campos, Macaé, Bom Jardim, Barra de São João, São Pedro D´Aldeia, Cabo Frio, Cordeiro e Conceição de Macabu. Desde 2016, a Flim faz parte do calendário oficial do estado do Rio de Janeiro e é considerada, por publicações especializadas, o quarto mais importante evento literário do país.

Outras homenagens

A única edição em que foram homenageados escritores locais foi a primeira, em 2010. Em 2011, a homenageada foi a escritora e dramaturga brasileira Maria Clara Machado, autora de famosas peças infantis e fundadora do teatro O Tablado, escola de teatro do Rio de Janeiro, que formou mais de 5 mil profissionais em artes cênicas no Brasil. Em 2012, foi Clarice Lispector e, em 2013, Mario Quintana. A partir de 2014, resolveu-se que seriam homenageados escritores vivos. “Estreamos logo com Ferreira Gullar nesse ano”, lembrou Terezinha Costa. Seguiram-se Bia Bedran e o poeta Thiago de Mello, em 2015; Antonio Torres, romancista, em 2016; Ana Maria Machado, da Academia Brasileira de Letras, em 2017; Nei Lopes, em 2018; Nélida Pinon, também da ABL, em 2019.

Durante a pandemia de covid-19, o evento teve edições online. Em 2020, não houve homenageado. Já em 2021, o convidado especial foi Ruy Castro. No ano seguinte, a Flim voltou a ser presencial, mas os organizadores optaram por não ter um homenageado mas, sim, um convidado especial. Como era o ano de comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil, o historiador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Paulo Knauss deu ao público uma visão panorâmica de algumas das principais questões políticas, econômicas e sociais do Brasil de 1822 e seus impactos hoje.

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