Belo Horizonte recebe exposição inédita do artista chinês Ai Weiwei



Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor mostra internacional de 2018, a exposição Ai Weiwei – Raiz, do artista plástico chinês Ai Weiwei, chega a Belo Horizonte em 6 de fevereiro. A mostra, que estava em cartaz em São Paulo (SP) até o último domingo (20), pode ser visitada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH) até 15 de abril, com entrada gratuita. O espaço funciona de quarta a segunda, das 10h às 22h. A capital é o primeiro destino da itinerância da exposição, que revela o olhar atendo de Weiwei para questões sociais do mundo contemporâneo.

Desde outubro passado, que Ai Weiwei, reverenciado como um dos grandes nomes da cena contemporânea mundial tem a sua obra exposta pela primeira vez no Brasil. Inédita e considerada a maior exposição realizada até então pelo icônico artista, a premiada mostra reúne célebres trabalhos, assim como novas criações desenvolvidas a partir da intrínseca relação do artista com a cultura e as tradições brasileiras. Ai Weiwei se destaca no cenário internacional pelo interesse que demonstra pelas questões sociais e humanas, como a crise mundial de imigração.

Na versão “mineira”, a exposição aborda todos os temas essenciais da obra do artista com exemplares marcantes. O primeiro deles é a obsessão de Weiwei em transformar todos os objetos em blocos construtivos de uma arquitetura poética. Com a obra “Bicicletas Forever” essa prática teve sua maior manifestação. Na exposição temas como a ativação social, a subversão política, o drama dos refugiados, o libelo pela liberdade de expressão e o contraste de visões entre o ocidente e o oriente estão representados.

“As obras resultantes de sua pesquisa pela cultura brasileira e sua experiência em montar ateliês no Brasil também estão ali documentados. Minas Gerais é a terra do nascimento do conceito de liberdade no Brasil, e Ai Weiwei é a principal voz do mundo das artes engajado na luta contra todo tipo de opressão. Raiz é uma maneira de conectar sensibilidades distintas através de camadas subterrâneas de nossa percepção”, destaca Marcello Dantas, criador e curador da mostra.

O projeto “Ai Weiwei – Raíz”, reúne alguns dos icônicos trabalhos do artista, além de obras inéditas nascidas da imersão profunda que ele realizou pelo Brasil. Entre as principais obras presentes na mostra, está a obra – prima Deixando cair uma urna da dinastia Han, um trabalho que retrata o jovem artista derrubando intencionalmente uma urna cerimonial de cerca de 2.000 anos, da Dinastia Han, período da história da civilização chinesa. A ação transformadora foi captada e transformada em três imagens que vêm sendo apresentadas mundo afora. No Brasil, está sendo exposta a versão dela em peças de Lego.

Outros grandes destaques da mostra são as obras Sementes de Girassol, trabalho composto por milhões de sementes de girassol de porcelana pintadas à mão por artesãos chineses, levantando a questão da produção em massa e perda da individualidade; e Cofre de Lua, uma série de baús feitos com a preciosa madeira Huali, o marmelo chinês, que apresentam as quatro fases da lua aos visitantes que atravessam a instalação. A destacar também, a instalação Lei da Viagem (Protótipo B), na qual o artista expõe o seu engajamento com a crise global de refugiados, retratada através de um barco inflável de 16m de comprimento comportando centenas de figuras humanas.

“A história deste projeto remonta a 2010. Meu interesse no trabalho de Weiwei começou quando entendi as conexões que ele havia feito ao atrelar a produção de arte à transformação social e coletiva. Quando vi as experiências que ele havia desenvolvido na China, senti que elas poderiam funcionar na América Latina se aplicadas com ousadia, criatividade e iniciativa enérgica. A ideia de situar o mais vulnerável no centro da ação e assim empoderá-lo de modo a causar uma mudança fundamental de percepção me pareceu um divisor de águas”, explica Dantas.

O curador também detalha que, entre uma conversa e outra, culminando na prisão do artista chinês, foi possível entender que a conexão de Weiwei transcendia a própria arte. “Contatei Ai Weiwei, mas apenas algumas semanas depois ele foi preso e o projeto foi deixado de lado. Durante os últimos anos, mantive contato com ele, e as conversas que tivemos e o que li sobre ele me fizeram perceber que o homem demandava uma missão de outro tipo. Arte não era a coisa mais importante para ele, a vida era”, pontua.

A imersão pelo Brasil contou com a consultoria da designer Paula Dib e colocou o artista em contato com comunidades, artesãos, manifestações culturais e recursos regionais até então desconhecidos por ele, resultando em trabalhos inéditos, feitos com madeira, sementes, raízes, tecidos e couro. Ai Weiwei se propôs a desvendar e absorver a cultura local e moldar objetos que representam a biodiversidade, a paisagem humana e a criatividade brasileira.

A resultante deste mergulho à cultura brasileira desdobrou-se em impactantes obras que conjugam as raízes culturais chinesas e as raízes ancestrais brasileiras. Uma delas é a série Sete Raízes, feita de centenárias raízes do pequi-vinagreiro, espécie de árvore típica da Mata Atlântica baiana atualmente em risco de extinção, encontradas desenterradas na região de Trancoso, na Bahia. Estes resíduos descobertos no meio da mata foram selecionados e trabalhados pelo artista junto a carpinteiros chineses e brasileiros. Cada uma das raízes possui um nome: Força, Palácio, Voar, Sr. Pintura, Martin, Nível e Festa. Duas das peças estarão na mostra no CCBB BH.

Outro objeto de impacto presente na exposição é o modelo inédito em 3D, em escala 1:25, do pequi-vinagreiro de 31 metros de altura, moldado em seu local de origem para ser fundido em ferro no estúdio do artista. A destacar também, um trabalho composto por ex-votos, esculpidos por artesãos de Juazeiro do Norte (CE), que reproduzem a vida e obra do artista e trabalhos feitos em couro, com citações sobre poder e racismo utilizando o alfabeto armorial de Ariano Suassuna.

Serviço:
Exposição “Ai Weiwei – Raiz”
Período expositivo: 6/2 a 15/4
Horário: 10h às 22h (06/2 a 28/2) | 1º/3 a 15/4 (9h às 22h)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários
Entrada gratuita
Informações: (31) 3431-9400 | culturabancodobrasil.com.br

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