Comemorando 40 anos de carreira do ator Ney Piacentini, um dos fundadores da Cia do Latão, solo “Espelhos” estreia no Rio dia 3 de janeiro no Teatro Poeirinha, em Botafogo. Montagem, que une contos de Machado de Assis e Guimarães Rosa, foi indicada ao premio APCA de melhor ator
Conduzido pelo ator Ney Piacentini, o solo Espelhos teatraliza os contos O Espelho de Machado de Assis (integrante do livro “Papéis Avulsos”, publicado pela primeira vez em 1882); e o de mesmo nome O Espelho de Guimarães Rosa (publicado em 1962, integrando seu livro “Primeiras Estórias”). A montagem é o resultado de pesquisas e experimentações cênicas, realizadas ao longo dos anos de 2015 e 2016, e apresenta na íntegra os dois textos, compondo um único trabalho teatral que investiga a formação da identidade do sujeito brasileiro, através da relação entre a literatura e o teatro.&n bsp;Dois anos depois de sua estreia em São Paulo, onde realizou sete temporadas, a peça chega no Rio: estreia dia 3 de janeiro de 2019 no Teatro Poeirinha, em Botafogo. Por Espelhos Ney Piacentini foi indicado ao Prêmio APCA de Melhor Ator. A montagem conquistou relevantes críticas de reconhecimento à importância do trabalho.
Na primeira parte de Espelhos, Piacentini investe-se de Jacobina, personagem de Machado de Assis que conta a amigos uma misteriosa passagem de sua juventude na qual enfrentou a solidão. Em seguida, o ator assume a figura criada por Guimarães Rosa que parte em busca de sua essência. A obra propõe uma interface entre a aguda percepção crítica de Machado e a poética que Rosa nos oferece com sua inquieta criatura.
Ao longo de 60 minutos, o solo propõe uma reflexão sobre as relações entre sociedade, imagem e subjetividade, por meio do pensamento de duas matrizes da cultura brasileira. Ney Piacentini afirma que a peça se volta para o Brasil colocando em cena uma literatura de qualidade inquestionável. “Em minhas leituras da obra machadiana encontrei em ‘O Espelho’ uma escrita com potenciais cênicos. Fui seduzido pela construção do texto, carregado de elementos sobre a constituição da individualidade nacional, muito vulnerável às influências externas. E dos estudos sobre este que é um dos principais contos de Machado, deparamo-nos com o que, p ara alguns pesquisadores, é uma resposta de Guimarães Rosa ao escritor carioca: um conto de mesmo nome, porém com uma abordagem e estilo absolutamente próprios. As duas pequenas obras-primas se alinham em uma só encenação, se complementam por oposição.”, afirma.
Por não se tratarem de textos dramatúrgicos propriamente ditos, o empenho maior da montagem foi sublinhar o caráter narrativo dos contos e permitir que a força literária de cada um encontrasse seu equivalente em teatralidade. A encenação oferece ao espectador a oportunidade de entrar em contato com a lucidez e a sutileza das palavras de dois dos maiores intérpretes da cultura brasileira, tanto do ponto de vista estético quanto histórico. “Da mesma forma com que as palavras de Machado de Assis e Guimarães Rosa nos transformaram ao longo do processo de preparação de Espelhos, estamos reparando que também os espectadores estão sendo tocados pela sensibilidade desses dois grandes autores e suas obras singulares”, finaliza Ney Piacentini.
Sobre Ney Piacentini )
Homem de teatro que transita por vários territórios, além de atuar, é professor e pesquisador teatral, Ney está celebrando 40 anos de carreira. Este é o primeiro solo de uma trajetória formada por 55 trabalhos no teatro, afora TV e Cinema. Em 1997, a convite de Sérgio de Carvalho, ingressa na recém-fundada Companhia do Latão, tendo feito todas as peças do grupo, entre as quais se destacam: Ensaio sobre o latão, indicado ao Prêmio Mambembe de Melhor Ator Coadjuvante (1997), O nome do sujeito indicado ao Prêmio Mambembe de Melhor Ator (1998), O círculo de giz caucasiano, vencedor do Prêmio Villanuev a de 2007 de Melhor Espetáculo Estrangeiro em Cuba e indicação de Melhor Ator ao Prêmio Qualidade Brasil, e O patrão cordial, que conquistou o Prêmio Questão de Crítica de 2013 de Melhor Dramaturgia e Melhor Elenco.
Tem mestrado e doutorado em Pedagogia Teatral pela Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP), tendo publicado os livros Eugênio Kusnet: do ator ao professor e Stanislavski revivido (Org. com Paulo Fávari). Professor da Pós-Graduação de Teatro da Faculdade Paulista de Artes, é membro do IFTR – International Federation of Theatre Research e integrante do CEPECA – Centro de Experimentação e Pesquisa e Experimentação Cênica do Ator (ECA/USP) e do LAPCA – Laboratório de Pesquisas e Criação do Ator (IA/UNESP). Iniciou sua carreira em 1979 na Universidade Federal de Santa Catarina e em Florian&oacut e;polis fundou o Grupo A de Teatro, com o qual ganhou o Prêmio Bastidores (1982) de Melhor Espetáculo e Melhor Ator Infanto-Juvenil, pela criação coletiva Vira e Mexe, também encenada em São Paulo em 1986. Foi ator e apresentador do Programa Revistinha da TV Cultura (Prêmio APCA de Melhor Programa Infanto-Juvenil de 1989 e 1990); participou de diversos filmes de curta e longas-metragem comoTrabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas e Quanto vale ou é por quilo de Sérgio Bianchi, mas se estabeleceu no teatro. Ao longo de 40 anos de ofício, dos mais de 50 espetáculos em que atuou estão Crepúsculo de uma tarde de outono (1991) de Friedrich Dürrenmattt, O legítimo inspetor perdigueiro (1992) de Tom Stoppard, O catálogo de Jean-Claude Carrière, Budro&nb sp;(1994) de Bosco Brasil e Um céu de estrelas (1996) de Fernando Bonassi.
Ex-presidente do Centro Brasil ITI – Instituto Internacional de Teatro – ligado à Unesco, de 2010 a 2016, foi também presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, entre 2005 e 2013, onde idealizou e realizou diversos projetos, entre os quais a Mostra Latino- Americana de Teatro de Grupo. Em 2014, Piacentini ganhou o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro – Categoria Especial – pela sua contribuição ao teatro paulista.
Ficha técnica
Textos: contos de Machado de Assis e Guimarães Rosa
Com: Ney Piacentini
Iluminação e Cenografia: Marisa Bentivegna
Figurinos: Fábio Namatame
Trilha sonora: Miguel Caldas
Preparação vocal: Mônica Montenegro
Programação visual: Paulo Fávari
Fotografias: João Maria Silva Jr.
Adaptação da luz: Paulo Barcellos
Sinopse:
Espelhosé encenação dos contos homônimos O espelho de Machado de Assis e de Guimarães Rosa. Em uma ambientação que se transforma ao longo da peça, Ney Piacentini se desdobra em duas figuras para transmitir tanto o ceticismo de Machado de Assis quanto o contraponto esperançoso de Guimarães Rosa.
Espelhos – Solo com Ney Piacentini.
Estreia dia 3 de janeiro de 2019, às 21h.
Temporada: De 03/01 a 24/02/2019
Quinta a sábado às 21h; domingos às 19h
Duração: 60 minutos
Lotação: 80 lugares
Recomendação: a partir de 14 anos
Ingressos R$ 50 e R$ 25
Teatro Poeirinha – Rua São João Batista, 104. Botafogo.
Tel. 21 2537-8053
Foto: João Maria Silva Jr.
Assessoria de Imprensa
Claudia Miranda