Felicidade: uma meta a perseguir?

Felicidade


Marcelo Henrique

[email protected]

 

Desde os primórdios da Humanidade, a busca pela felicidade é uma pauta recorrente entre os maiores pensadores de todos tempos e, também, uma inquietação na cabeça e no coração de muitas pessoas. Um dilema um tanto quanto complexo, por vezes, utópico e que, essencialmente, parte da premissa de se tentar definir o estado “ser feliz” sob a ótica de cada um que o busca. Afinal, enquanto para uns a felicidade passa pela realização material, para outros o vil metal é um empecilho para atingi-la, admitindo-se todas as variantes presentes no meio do caminho.

A questão é que a pauta felicidade quando inserida no panorama atual e assume o status de meta a ser alcançada pode acabar tomando consequências nefastas aos que estão no raio daquele que busca viver dessa forma e, no médio prazo, para o próprio aspirante a feliz. Isso porque o tal estado feliz passa ser mais um daqueles itens comercializados na prateleira da Internet, o qual, para ser atingido vale qualquer esforço, ainda que “ilegal, imoral, ou engorda”, como diz a canção. Os tempos atuais, em que o mandamento do “amai-vos uns aos outros” fora substituído pelo “o que eu quero é ser feliz”, a forma pela qual nos livramos dos obstáculos do percurso “rumo à felicidade” é o que menos importa, mesmo que passe por cima de outro, ou ainda, dos valores ético-morais, que estão cada vez mais fora de moda.

Aos cristãos, é imperioso notar, entretanto, que o próprio Jesus jamais falou em felicidade como meta a ser perseguida. Ao contrário. Sempre a felicidade veio após muita dificuldade, justamente por enfrentar o árduo caminho das coisas como devem ser e não como gostaríamos que fossem. Se as metas são importantes, o percurso até elas é a expiação dos nossos erros e nosso edifício moral. A felicidade vazia, conquistada a qualquer preço, não faz sentido, sendo ilusória e causadora de estados depressivos severos a muitos que a vivem dessa forma. Pior ainda àqueles que, no meio do caminho desse tipo de “gente feliz”, acabou por ser descartado de forma implacável, como um item supérfluo que teve valor até cumprir a sua função, limitada àquele ou àqueles poucos momentos de felicidade.

Tudo isso faz pensar que felicidade é a certeza de buscar, diariamente, trilhar o caminho correto. Não usar, nem, muito menos, sobrepor-se ao outro e ter em mente que um futuro melhor se constrói no presente. Também não se deve entender como uma plenitude utópica, contentando-se com meros momentos de alegria. Ser feliz é um estado que suporta não estar alegre a todo tempo, mas agraciado, todas as noites, com o sono dos justos. A velha máxima de colocar a cabeça no travesseiro e não pesar-lhe sobre a consciência os erros deliberados, aqueles que erramos de propósito e por mal. A pessoa feliz erra tentando acertar e, na sua noite, pensa como fará do amanhã um dia melhor.

Total
0
Shares
Deixe um comentário
Próximo Artigo

Operação da PF cumpre mandados contra envolvidos em atos golpistas

Artigo Anterior

Mostra de Tiradentes debate cinema em novas bases

Relacionados