Triplex de Lula era parte de propina ao PT, diz empresário



O apartamento triplex em Guarujá (SP) destinado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria abatido das propinas que a OAS tinha de pagar ao PT por obras na Petrobras, disse o empresário Léo Pinheiro a investigadores da Lava Jato. O depoimento, revelado pela revista “Veja” e confirmado pela “Folha de S.Paulo”, consta da negociação de delação premiada de Pinheiro, que foi suspensa pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, após vazamento de trechos que mencionariam o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli.

A nova revelação vem um dia após o ex-presidente ser indiciado pela Polícia Federal (PF). No relatório, a PF acusa Lula de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro no inquérito que investiga o triplex.

Na delação revelada pela “Veja” também são citados por Pinheiro a presidente afastada Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB).

“Ficou acertado que esse apartamento seria abatido dos créditos que o PT tinha a receber por conta de propinas em obras da OAS na Petrobras”, disse Pinheiro, sobre conversa com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto em 2010. “Nesse contato, perguntei para Vaccari se o ex-presidente Lula tinha conhecimento do fato, e ele respondeu positivamente”, completou.

Pinheiro afirmou ainda que a reforma feita no triplex pela OAS “não seria cobrada do ex-presidente”, porque seria abatida “também como uma retribuição dos serviços prestados por Lula com a OAS na área internacional”.

Em outra parte da delação, o empreiteiro tratou do sítio em Atibaia (SP) atribuído a Lula. Pinheiro disse que o petista solicitou “abertamente”, em 2014, uma reforma no sítio, sem perguntar quanto custaria nem mencionar como seria paga. Da mesma forma, disse, ficou “implícito que a OAS atuaria e seria remunerada com o abatimento dos créditos com o PT e em retribuição ao serviço prestado por Lula em favor dos negócios internacionais da empresa”.

Pinheiro disse ainda que contratou Lula para uma palestra na Costa Rica, em 2011, por US$ 200 mil. A OAS tinha interesses no país e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, havia dito que o petista poderia “influenciar autoridades locais em prol dos negócios da OAS”. Após a palestra, segundo Pinheiro, Lula o levou a um jantar com a então presidente Laura Chinchilla.

Em outra parte da delação, Léo Pinheiro disse que pagou caixa 2 à campanha de Dilma em 2014, por meio de contrato fictício com a agência de comunicação Pepper. Foram três parcelas de R$ 239,3 mil, segundo Pinheiro, valor solicitado pelo então tesoureiro Edinho Silva “para o pagamento de despesas da campanha”. Por fim, Pinheiro disse que, a pedido de Okamotto, custeou a armazenagem de bens pessoais de Lula a partir de 2010, em troca de ajuda para a OAS no exterior.

Citados negam acusações de empreiteiro

São Paulo. A assessoria do ex-presidente Lula voltou a afirmar que o ex-presidente não é dono do triplex nem do sítio, atribuído a ele por delatores da Lava Jato. Informou ainda que o ex-presidente não cometeu nenhum ato ilícito.

Já o senador Aécio Neves (PSDB) afirmou, por meio de nota, que desconhece as afirmações citadas na matéria e “as considera falsas e absurdas”. Dilma Rousseff também afirmou por meio de nota ser “fantasiosa” a informação. O texto afirma que a agência Pepper “não foi fornecedora da campanha da reeleição”.

AÉCIO E SERRA

Obras de tucanos sob suspeita

São Paulo. Ao falar de tucanos, o empreiteiro Léo Pinheiro citou um esquema de propina nas obras do Rodoanel Sul, em São Paulo, no governo do atual ministro das Relações Exteriores José Serra. O tucano governou São Paulo entre 2007 e 2010.

Segundo o empreiteiro, a OAS, que ganhou o lote 5 da obra, integrava um cartel que se reunia na Andrade Gutierrez, a partir de 2004, para acertar as licitações. “Na licitação com contrato assinado em 2007, havia um convite de 5% de vantagens indevidas para Dario Rais Lopes e Mario Rodrigues”, disse Pinheiro. Lopes era secretário de Transportes de Serra, e Rodrigues, diretor de engenharia.

Ainda segundo o depoimento dado à força-tarefa da operação Lava Jato, em 2007, por determinação de José Serra, o contrato foi renegociado e ficou 4% mais barato. “Em razão dessa negociação, os valores de vantagens indevidas também foram repactuados para 0,75%”. Parte da propina, ainda segundo o depoimento de Léo Pinheiro, foi paga por meio de uma empresa e outra parte, em dinheiro vivo.

Cidade administrativa. Com relação a Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, o dono da OAS relatou propina de 3% nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, durante o governo Aécio Neves (2003-2010). Como adiantou a “Folha de S. Paulo”, em junho, os pagamentos eram feitos a Oswaldo Borges da Costa Filho apontado como “operador de Aécio Neves e controlador das contas das empresas do político”, nas palavras de Pinheiro, que também atuou nas campanhas do tucano.

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