Levantamento realizado junto à base do mailing imprensa do Comunique-se 360 mostra que, segundo os jornalistas brasileiros, defensores da criação de um partido nazista deveriam ser suspensos ou banidos das redes sociais
A formação em jornalismo deve ser considerada como elemento importante na hora de se apresentar e produzir podcasts e outros tipos de conteúdos na internet. Essa é, ao menos, a visão da maioria dos jornalistas brasileiros. É o que indica levantamento realizado pelo Portal Comunique-se junto à base que compõe o serviço de mailing imprensa mantido pelo Comunique-se 360.
Leia mais:
- Repórteres no front. Respeite — por Marli Gonçalves
- José Luiz Tejon estreia podcast no BandNews TV
- Dança das cadeiras nos telejornais da CNN Brasil
Realizada durante uma semana, da manhã de 18 de fevereiro até o início da tarde desta quinta-feira, 24, a ação promovida pelo Portal Comunique-se contou com 91 respondentes, sendo todos eles profissionais com cargos jornalísticos em veículos de comunicação espalhados pelo Brasil. A primeira pergunta do questionário foi “você considera importante a formação em jornalismo para apresentar podcasts e produzir outros tipos de conteúdos na internet?”. A maioria (56%) respondeu “sim”. Consequentemente, a alternativa “não” foi marcada por 44% dos entrevistados.
Promovido dias após do youtuber Bruno Ayub (o Monark) deixar a função de apresentador do Flow Podcast por ter defendido a legalidade de um partido nazista no Brasil, o levantamento se propôs a ir além de receber sim ou não como respostas dos jornalistas. Nesse sentido, boa parte dos respondentes aproveitou para explicar por quais motivos é favorável — ou não — à formação jornalística como ponto crucial para trabalhos como podcasters.
Precisamos prezar pela credibilidade das notícias e um profissional com base acadêmica sabe a importância desse fator
“Essa pergunta envolve muitos fatores. Depende muito do tipo de podcast. Se for um jornalístico, que analise notícias ou que passe algum tipo de informação mais especializada — por exemplo, o ‘Por trás do meme, do Chico Felitti’ —, sim, considero necessária a formação em jornalismo. Se for qualquer outro podcast com um tema mais abrangente, por exemplo o ‘Não Inviabilize’, da Déia Freitas, não vejo a necessidade”, ponderou um dos jornalistas — que, por questões de segurança dos dados e regras da LGPD, não terá o nome revelado.
“Precisamos prezar pela credibilidade das notícias e um profissional com base acadêmica sabe a importância desse fator”, afirmou outro participante do questionário sobre jornalismo & podcasts. Por outro lado, há quem tenha afirmado que um “podcast não deve ser tratado como fonte de informação, apenas como fonte de entretenimento” e, assim, respondeu “não” para a questão sobre a importância da formação jornalística para a produção desse tipo de conteúdo.
De nada adianta tanta audiência se não houver conteúdo e inteligência
Os jornalistas respondentes do levantamento feito via Comunique-se 360 também aproveitaram para divulgar análises sobre os cuidados que um influenciador digital deve tomar na hora de produzir, apresentar e divulgar um podcast. Um dos entrevistados sugeriu que esse tipo de trabalho pode unir os creators nativos do ambiente digital com aqueles com formação ou experiência na área de comunicação. “Não deveria fazer sozinho. Ao menos uma consultoria com um profissional capacitado ele deveria fazer”, avaliou.
“Como professor universitário no curso de jornalismo, sugiro que este profissional se aconselhe — ou vá procurar estudar — um profissional não só de jornalismo, mas também de direito, por exemplo”, publicou um outro participante do levantamento do Portal Comunique-se. “De nada adianta tanta audiência se não houver conteúdo e inteligência. Dura por um tempo apenas. Depois vai caindo, caindo…”, prosseguiu o comunicador com bagagem acadêmica.
Liberdade de expressão
O tema liberdade de expressão foi destaque no segundo bloco do levantamento realizado junto à base do mailing imprensa do Comunique-se 360. Nessa parte, a maioria absoluta dos respondentes garantiu que é preciso colocar a responsabilidade em primeiro lugar na esfera da comunicação social. 97,8% dos entrevistados responderam “não” para o seguinte questionamento: “sob argumento de liberdade de expressão, um podcaster tem o direito de defender (sem sofrer algum tipo de punição) questões criminosas, como, por exemplo, a implementação de um partido nazista no Brasil?”.
E defender a existência de um partido nazista em solo brasileiro foi exatamente o que fez Monark ao participar de uma edição do Flow Podcast ao lado dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP). Nesse ponto, apenas 2,2% dos participantes do questionário divulgado pelo Portal Comunique-se entendem que o youtuber não deveria receber nenhuma punição por causa de tal declaração. Para os demais, o influenciador precisaria ser punido de alguma forma.
Segundo os jornalistas, a punição de Monark deveria:
- Ser suspenso ou banido em definitivo das plataformas digitais — 47,3%;
- Ir preso — 34,1%;
- Ser multado — 16,5%;
Parte da punição, porém, deve ser imposta pelas empresas que servem como ambientes para disseminação desse tipo de conteúdo, afirmam os jornalistas brasileiros. “Excluir de forma imediata” foi a resposta mais popular (85,7%) para a pergunta sobre qual deve ser a ação de mídias como YouTube e Spotify para quando for constatada a propagação de material com apologia a um crime — como o nazismo — ou com informações falsas. Manter o conteúdo no ar, mas cobrar retratação por parte do autor foi a atitude defendida por 7,7% dos respondentes. Para 6,6%, a decisão mais assertiva seria a inclusão de um alerta no vídeo (ou áudio) em questão. Ninguém defendeu a ideia de que “não tomar medida alguma a respeito” seria o correto por parte das plataformas.
Em relação ao caso de Monark, a direção do YouTube parece concordar com os jornalistas brasileiros. Isso porque na última semana, o próprio influenciador usou outra rede social — no caso, o Twitter — para reclamar. De acordo com ele, a plataforma de vídeos controlada pelo Google estaria protagonizando uma “perseguição política”. O creator, que defendeu a criação de um partido nazista no país, exibiu mensagem em que o YouTube confirmou a suspensão dele da plataforma.
Mercado de trabalho
Questões relacionadas ao mercado de trabalho da também tiveram vez no levantamento realizado com os jornalistas cadastrados no serviço de mailing imprensa do Comunique-se 360, solução de comunicação corporativa e marketing digital. Para 97,7% dos respondentes, a produção de podcasts pode surgir como um novo campo de atividade para os profissionais de mídia. Atualmente, segundo registros do próprio Comunique-se 360, há 186 jornalistas com projetos de podcasts ativos Brasil afora.
A possibilidade de se produzir podcast não significa, necessariamente, que os jornalistas já conseguem se manter financeiramente apenas com projetos desse tipo. Mais de um quarto dos entrevistados — 27,3% — acredita que, infelizmente, ainda não é possível “pagar todos os boletos” apenas por meio da produção, edição e apresentação de podcasts. A maioria absoluta, no entanto, mostra-se mais otimista. O “sim” foi a resposta assinalada por 72,7% dos participantes do levantamento.
O jornalista tem que ocupar o seu espaço nas plataformas digitais
“Planejamento. Se houver estratégia comercial para o podcast ele pode vingar e dar certo sim, inclusive financeiramente”, pontuou um dos entrevistados. “O jornalista tem que ocupar o seu espaço nas plataformas digitais. A responsabilidade de passar uma informação com credibilidade continua, isso independe do meio que ela será propagada. Monetizar é a consequência de um trabalho bem feito”, observou outro respondente, indicando, assim como outros, que profissionais do jornalismo podem — e devem — ter vez em projetos de sucesso com podcasts.