FALTA DE INFORMAÇÃO SOBRE AUTISMO É O PRINCIPAL FATOR PARA TABUS E PRECONCEITO

Imagem: Reprodução.


IBMR discute abordagem multidisciplinar e levar informação à sociedade

O autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que, apesar de cada vez mais comum no mundo, ainda é cercado de tabus e falta de informação. A condição pode causar dificuldades na comunicação, na interação social e acarretar comportamentos repetitivos. Segundo dados do Center of Diseass Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) atinge de 1% a 2% da população. No Brasil, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas já foram diagnosticadas.

Mesmo que hajam estudos avançados em relação ao diagnóstico, tratamento e desenvolvimento de pessoas neuroatípicas (como são chamadas as pessoas com TEA), muitos desafios são enfrentados pelos pacientes e seus familiares, principalmente no que tange à desinformação. Um exemplo é a estudante de enfermagem, Sara Rocha, de 23 anos. Diagnosticada com TEA nível 1 de suporte, aos 21 anos, já enfrentou muitos obstáculos. “Desde criança, eu tinha muita dificuldade em entender minhas emoções e dos outros; compreender figuras de linguagem e até a comunicação não verbal. Também tinha dificuldade em fazer e manter amizades; iniciar e manter conversas. Sem contar as dificuldades sensoriais”, conta. A estudante ainda revela que possui certa dificuldade para quebrar rotinas e desapegar de rituais vistos como “esquisitos” por pessoas neurotípicas. “Tenho crises por conta de mudanças, mesmo pequenas. Em caso de não conseguir fazer algo que faço sempre, em determinado dia e horário (quebra de rotina) nas férias, por exemplo, tenho mais crises e períodos de depressão. Além do autismo, tenho Transtorno de Ansiedade como comorbidade”.

Muitas vezes, o diagnóstico do TEA para uma pessoa é capaz de explicar e fazê-la aceitar situações tidas como incômodas, vividas rotineiramente, uma vez que a informação é a base para quebrar o preconceito e a autopercepção. Para Sara, não foi diferente. Ela afirma que a forma como ela se enxergava foi alterada após o diagnóstico, levando-a a aceitar as dificuldades que ela percebia, mas não admitia. “Fui atrás de Terapia Cognitivo Comportamental e treino de habilidades sociais para ter mais qualidade de vida. Passei a me aceitar mais e me amar do jeito que sou. Os episódios depressivos que eu tinha com muita frequência reduziram, pude tratar a insônia e ter melhor qualidade de sono. Pude aprender habilidades sociais que estavam deficientes, melhorar meus relacionamentos e ter mais facilidade em fazer amizades”, corrobora.

Vivência acadêmica do Autismo

Diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro Autista foi apenas um dos vários temas abordados no Projeto de Extensão Autismo e sua Perspectiva no Conhecimento Multidisciplinar, promovido pelo Centro Universitário IBMR, que reuniu profissionais de diversas áreas de atuação, pessoas com TEA e seus familiares para discutir o transtorno de maneira multidisciplinar.

O curso aborda o assunto unindo ciência à prática, disseminando a informação e minimizando os impactos acarretados pelos tabus. “O objetivo da extensão foi trazer o autismo com um ciclo de conhecimento, debate e explanação, pois muito se fala do diagnóstico ainda na infância.  É necessário abordar todo o contexto neurológico e neuromotricional como recuperação e aprimoramento dessa criança na primeira fase da vida, a saúde mental, desenvolvimento humano e a vida na fase adulta”, explica o professor e idealizador do projeto, Allan Mazzoni. Outro foco do projeto, segundo Mazzoni, é evidenciar a situação de pessoas que são diagnosticas com o autismo em idades fora do habitual, como adolescentes e adultos. “Acreditamos que levar informação não só para o meio acadêmico, mas para toda a sociedade é crucial para a inclusão social e redução do preconceito que gira em torno das pessoas com espectro autista”, explica.

O projeto reuniu 11 profissionais que, em sua maioria, abordaram a falta de preparo da sociedade para incluir, apontando a importância de maior sensibilização, não só para pessoas da área da saúde, mas para a população em geral, uma vez que o número de diagnósticos tem crescido progressivamente. “Todas essas pessoas precisarão interagir, trabalhar e manter contato com pessoas neurotípicas. Por isso, é crucial desmitificar algumas crenças incapacitantes que gira em torno das pessoas com TEA”, afirma o professor. Ele ainda aponta que uma das principais preocupações de pais quando recebem os diagnósticos dos filhos, por exemplo, é achar que a criança se tornará, também, um adulto incapaz. “É importante ressaltar que pessoas autistas, geralmente, são os melhores profissionais, pois eles possuem hiperfoco (quando a pessoa apresenta interesse superior em um determinado assunto) e, assim, se dedicam mais e especializam o que fazem”, explica o professor.

O TEA é classificado em três categorias e a resposta às terapias para cada uma delas está relacionada ao desenvolvimento neurofuncional e neuronutricional do estímulo neurológico. Todo diagnóstico e tratamento é realizado de forma multidisciplinar, abordando desde o fator alimentar à neuroplasticidade. “Quando se trata de uma pessoa neuroatípica até as brincadeiras são diferenciadas de forma a trabalhar a parte neurocognitiva. Tudo está relacionado às conexões neurais e tratar esse assunto com a naturalidade que ele possui é contribuir com o desenvolvimento das pessoas com TEA”, conclui o professor Allan Mazonni.

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