O Brasil e a guerra da Ucrânia: que caminho para nossa política externa?



Recentemente, nos Diálogos Raisina organizados pela Índia desde 2016, aconteceu um caricato episódio. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, falando para uma plateia composta em sua maioria por indianos, se referiu à guerra da Ucrânia, falando de “uma guerra que foi lançada contra nós [a Rússia]”. Nesse momento, a plateia largou em gargalhadas. Lavrov hesitou durante um momento, manteve a expressão de “poker face” que se exige de um diplomata experimentado, e seguiu sua argumentação.

Olhando além dos comunicados oficiais das chancelarias e dos artigos da grande mídia internacional, esses risos deveriam fazer o Brasil pensar no caminho que nossa política externa pode estar tomando.

BRICS: um projeto adiado

Os risos da plateia indiana mostram, acima de tudo, como essa guerra veio tornar o BRICS um projeto adiado. Índia e China estão lucrando com a guerra, comprando petróleo com desconto. Mas na Índia sabem muito bem que Putin está perseguindo um projeto imperialista de conquista à moda do século XIX. Os interesses da Rússia e da Índia não podem estar alinhados numa questão dessas.

A própria China, apesar de seu forte alinhamento com a Rússia quando o tema é criar uma frente de oposição aos Estados Unidos, vem hesitando em dar o apoio total que a Rússia precisaria. Até o momento, “virar a mesa” não parece ser do total interesse dos chineses. Índia e China continuarão se vigiando mutuamente em sua extensa fronteira e no plano asiático e mundial, e a Índia manterá suas opções abertas, através da plataforma informal QUAD, para ter a segurança americana como último recurso.

Falta credibilidade

Imagine a reação da plateia indiana se o presidente Bolsonaro estivesse no lugar do ministro Lavrov, explicando porque demorou vários meses a condenar uma óbvia violação da soberania da Ucrânia. Ou se o presidente Lula falasse para essa plateia: “quando um não quer, dois não brigam”.

As posições brasileiras em matéria de política internacional, tal como bem referiu um artigo no Correio Braziliense (“blog do Ari Cunha”), comparam mal com as dos parceiros dos BRICS. Sem uma estratégia, sem uma visão clara do que deve ser o papel do Brasil no contexto internacional, ninguém poderá contar conosco – sequer respeitar nossa importância. 

Já alguém pensou o porquê de a Índia organizar seus Diálogos Raisina e o Brasil não ter nada de semelhante?

O alinhamento do Brasil com o mundo

Não é só nossa política externa que sofre com nossa indecisão. Veja-se o exemplo bem mais simples dos jogos de cassino. Há mais de 30 anos que surgiu uma iniciativa legislativa para liberar o jogo. Sabemos que a maioria dos países da OCDE conseguem gerenciar o fenômeno sem grandes problemas, gerando emprego e receita fiscal. Assistimos ao crescimento, na internet brasileira, de plataformas de jogo estrangeiras de qualidade como o www.br.novibet.com, mas continuamos incapazes de decidir criar um quadro legislativo. 

Será que o Brasil só quer liderar e se alinhar com o mundo quando o tema é futebol?

 

Ucrânia: um conflito não central, mas muito importante

De pouco serve erguer o dedo no ar e afirmar com indignação que muitos outros conflitos em África (Congo) ou Ásia (a guerra no Iémen, por exemplo) recebem menos atenção que a guerra da Ucrânia. A União Europeia e a Rússia são – ou deveriam ser? – parceiros importantes do Brasil. 

Para a União Europeia, esse conflito é visto como essencial para sua segurança. Veja-se como a Suécia e a Finlândia mudaram de ideias sobre sua neutralidade e pediram adesão à NATO nos últimos 12 meses. A NATO não é uma aliança de países mantida pela força e pela ameaça; é uma organização cujos governos, democráticos, pediram para aderir – e pediram porque sempre recearam o que a Rússia poderia trazer. O argumento de que “a NATO cresceu para Leste” só tem sentido para quem prefere ignorar as preocupações de segurança de vários pequenos países rodeados por um gigante com um histórico de agressividade (não tinha eleições livres nos países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia).

Portugal, o país europeu mais longe da Rússia, é um dos que tem mostrado mais consenso no apoio à Ucrânia. Esperemos que o presidente Lula, em sua deslocação em abril, possa ouvir os portugueses e trazer ideias de como o Brasil se deverá posicionar nessa matéria e se relacionar com a Europa. 

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