Da cozinha doméstica à chef internacional e educadora – Verônica Tomé da Silva



Chef, professora e personal chef, ela soma duas décadas de experiência, une técnicas clássicas e ingredientes brasileiros, forma gerações e leva a gastronomia como expressão de cultura, criatividade e profissionalismo

Aos 45 anos, a chef Verônica Tomé da Silva acumula uma trajetória que começou em São Paulo, ganhou força em Minas Gerais e atravessou fronteiras até os Estados Unidos, onde atuou em Nashville, no Tennessee. 

Reconhecida ao longo da carreira como chef de cozinha, personal chef e professora de gastronomia, construiu uma trajetória marcada pelo preparo de pratos autorais, pela formação de novos profissionais e pela criação de projetos que unem técnica e identidade cultural. Nas redes sociais, em @cookingwithmyheart e @culinaryismylove, compartilha parte desse caminho que já soma duas décadas de dedicação à culinária.

Da babá à cozinheira: quando tudo começou

Em 2003, Verônica trabalhava como baby-sitter em uma residência em São Paulo e ainda não imaginava que a cozinha mudaria sua vida. Foi nesse mesmo lar que a escritora Maria Isabel Marrey, sua chefe na época, desenvolvia o projeto do livro Cozinha Ensolarada, uma coletânea de receitas passo a passo pensada para ensinar iniciantes a cozinhar. 

Para validar o material, convidou Verônica a preparar as receitas diariamente, transformando-a pouco a pouco na cozinheira principal da casa, responsável por cardápios semanais, jantares de família, coquetéis e até viagens para executar os menus em diferentes ocasiões. “Foi ali que tudo começou, porque percebi que cozinhar era muito mais do que seguir uma receita, era criar, aprender e encantar as pessoas”, recorda. Esse período foi o divisor de águas que despertou a sua paixão pela gastronomia e a levou a buscar formação e aprofundamento técnico.

Minas Gerais e a descoberta da cozinha profissional

Depois de São Paulo, Verônica mudou-se para Minas Gerais e iniciou a sua jornada na cozinha profissional de restaurantes. Entre novembro de 2006 e julho de 2007, trabalhou no Show de Bola bar e restaurante, onde assumiu responsabilidades de liderança, como coordenar a brigada, montar cardápios, organizar compras e escalas de trabalho. 

Logo em seguida, em setembro de 2007, chegou ao BAROLO Italian Dressing Restaurante, onde permaneceu até abril de 2018 como chef de cozinha, liderando a equipe, treinando profissionais, elaborando pratos do à la carte, buffets de massas, saladas e sobremesas, além de desenvolver fichas técnicas e gerir compras. Sua influência se manteve no restaurante até recentemente, já que pratos de fusão criados por ela, como a tilápia grelhada com nhoque de banana-da-terra, seguiram no cardápio por muitos anos e encantaram gerações de clientes.

Estudos, especializações e a busca pelo aprimoramento constante

Assim como sua carreira avançava nos restaurantes e em projetos autorais, sua formação acadêmica e técnica também se fortalecia de maneira consistente, já que buscou unir experiência prática com conhecimento estruturado. Pós-graduada em Empreendedorismo e Práticas Gastronômicas e formada como Cozinheiro Profissional pelo SENAC (2006–2007), ela nunca deixou de investir em aperfeiçoamento contínuo, acumulando uma série de especializações que traduzem sua inquietação e curiosidade diante da cozinha. 

Em 2010, por exemplo, estudou Cozinha da Ligúria e Cozinha da Toscana na Escola de Artes Culinárias com os chefs Massimo Barletti e Renato Carioni, em 2011 aprofundou-se em Sous vide e cook chill com Laurent Suaudeau e Armando Pucci, e em 2012 aprendeu as bases da Pâtisserie com Bertrand Busquet, experiências que ampliaram seu repertório técnico e cultural.

A partir de 2017, sua formação ganhou ainda mais amplitude, quando passou por cursos de sorvetes especiais, pães e massas frescas sem glúten, linguiças e embutidos, e no ano seguinte mergulhou no universo da confeitaria ao lado de nomes como Diego Lozano, com quem estudou técnicas de chocolate, e Lucas Corazza, em aulas de Páscoa, ovos e trufas, complementando com cursos de naked cake

Já em 2019 dedicou-se a bolos decorados, em 2020 aperfeiçoou técnicas em ovos de Páscoa cravejados, em 2021 se especializou em macarons e, em 2022, concluiu sua trilha com cozinha árabe, reunindo ao longo de quase duas décadas um repertório amplo e diversificado que hoje sustenta sua identidade como chef.

Na sala de aula: formando profissionais e futuros chefs

A docência surgiu como um capítulo transformador em sua carreira, e entre abril de 2013 e agosto de 2023 ela integrou o corpo de professores do Instituto Gastronômico das Américas (IGA), onde transmitia conhecimento em módulos que iam da Cozinha das Américas, com foco especial na brasileira, à Cozinha Europeia e Asiática, além de bases de panificação e confeitaria. Mais do que ensinar técnicas, ela se tornou referência para centenas de estudantes que viam em suas aulas não apenas receitas, mas uma forma de compreender a gastronomia como cultura e profissão.

No IGA, também fez parte da banca avaliadora do Trabalho Integrador Final (TIF), etapa em que os alunos precisavam transformar aprendizado em projeto real, elaborando planos de negócios completos. Ao mesmo tempo, levou sua experiência para além da sala de aula, participando de palestras, workshops em faculdades e outras iniciativas ligadas à formação gastronômica. “Ver meus alunos conquistando espaço no mercado sempre foi uma grande recompensa, porque formar profissionais é também transformar a gastronomia em futuro”, afirma, ressaltando o papel de educadora como uma das dimensões mais marcantes de sua trajetória.

Personal chef e a criatividade da cozinha de fusão

Paralelamente à sala de aula e à cozinha profissional, ela também se consolidou como personal chef, oferecendo eventos exclusivos e menus personalizados, além de ministrar aulas particulares para crianças e adultos. Sua marca é a cozinha de fusão, que alia ingredientes regionais brasileiros a técnicas internacionais, criando pratos autorais e cheios de identidade.

Prêmios, projetos sociais e reconhecimento público

Sua atuação foi além dos restaurantes e alcançou a comunidade, especialmente por meio do projeto Mineirices Regionais, que buscava valorizar a comida mineira. Também promoveu eventos beneficentes em prol do hospital do câncer, em parceria com alunos, além de outras ações sociais relacionadas à gastronomia. 

Verônica esteve presente em programas da TV Integração, TV Paranaíba e TV Band, conquistando espaço na mídia regional. Em setembro de 2013, foi homenageada com a Comenda Portal do Cerrado, concedida pela Prefeitura de Uberlândia pelo impacto de seu trabalho no turismo gastronômico local.

Nashville: a vivência em uma cozinha internacional

O capítulo mais recente de sua trajetória aconteceu entre outubro de 2023 e outubro de 2024, quando Verônica levou a sua experiência para os Estados Unidos e passou a integrar a equipe do Hotel Holston House, em Nashville, Tennessee

Atuando como Line Cook, mergulhou no ritmo intenso de uma cozinha de grande porte, onde cada detalhe precisava estar em perfeita sintonia para atender hóspedes e eventos de alto nível. 

Ali, participou desde os pré-preparos até a montagem da linha de breakfast e dinner, organizando praças e câmaras frias, acompanhando estoques, controlando temperaturas e coordenando listas de compras. Também assumiu parte importante na produção de banquetes, além de colaborar em etapas de panificação e confeitaria, vivência que exigiu precisão, agilidade e consistência.

Mais do que uma função técnica, a experiência em Nashville ampliou a sua visão sobre padrões internacionais de gestão de cozinha, mostrando na prática como grandes equipes funcionam em harmonia para entregar qualidade em larga escala. “Estar em uma cozinha internacional me fez perceber que, independentemente do tamanho da operação, o segredo está na disciplina, na organização e no respeito ao ingrediente”, resume, destacando que o aprendizado desse período marcou um salto significativo em sua carreira.

O futuro: uma escola para celebrar cultura e técnica

Com vinte anos de dedicação à gastronomia, Verônica planeja agora fundar uma escola de culinária que ensine desde a cozinha fria até a quente, passando por panificação e confeitaria, com um módulo especial sobre técnicas brasileiras aplicadas a ingredientes americanos. A escola também abordará organização de cozinha, fichas técnicas, precificação de receitas e gestão de compras, proposta que celebra cultura, tradição e criatividade enquanto forma profissionais completos para o mercado.

“Meu trabalho é conectar técnica e território, então quando falo de criatividade não é sobre pirotecnia, é sobre ouvir o ingrediente, respeitar a sazonalidade e comunicar histórias reais com rigor e entrega, por isso eu insisto em método, em ficha técnica, em treinar equipe e em formar pessoas, porque a boa cozinha acontece quando cultura, criatividade e profissionalismo caminham juntos”, conclui, resumindo uma trajetória que vai do fogão doméstico ao cenário internacional com a mesma essência: servir bem e aprender sempre.

 

* Texto criado por André Luis
* Supervisão jornalística aprovada por Nathalia Pimenta

Total
0
Shares
Deixe um comentário
Próximo Artigo

Turismo para todos: Análise profissional de Heyder Henrique sobre inclusão e hotelaria

Artigo Anterior

VIABRASIL CELEBRA HALLOWEEN EM MANHÃ DE DIVERSÃO NA PAMPULHA

Relacionados