por Paulo Mielmiczuk
Não é segredo que, há anos, as mídias sociais vêm ganhando espaço no cenário mundial. Assim como, no passado, celebridades televisivas e astros cinematográficos foram referência para ditar tendências na Moda, na Música, na Política e, também, nos hábitos de consumo e do dia a dia, hoje esse papel é realizado, dentre outros, pelos influencers.
Segundo a gigante da informação, dados e pesquisa Nielsen, citada pelo portal Yahoo, o Brasil dispõe de mais de 500 mil influenciadores digitais: pessoas comuns, em sua maioria, usuárias de redes sociais interessadas em propagar suas opiniões e vender seus produtos e serviços. Porém, ainda que a todos sejam notórios os desenvolvimentos tecnológicos observados nas duas últimas décadas, que evidentemente proporcionaram as ferramentas necessárias a essa atividade – hoje, profissão –, é preciso entender o contexto em que ela se inseriu e se insere.
Segundo o IBGE, no terceiro trimestre de 2014, o Brasil contava com 6,6 milhões de desempregados, número que atingiu patamares cada vez mais elevados, atingindo 13,9 milhões em 2017 e 14,9 milhões em 2020 e 2021. Além disso, de acordo com a Agência Brasil, cada vez mais cresce a informalidade: no início de 2020, 38% dos trabalhadores não possuíam carteira assinada; no primeiro trimestre de 2021, 40%; e no segundo semestre de 2021, 41%, equivalente a cerca de 37,1 milhões de proletários.
Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE, citada pela Agência Brasil, afirma que há “um processo de crescimento significativo dos contingentes, então numericamente tem uma população ocupada que de fato avança bastante, mas por outro lado tem indicadores associados ao conjunto da força de trabalho que ainda apresentam um quantitativo que é desfavorável. A gente está operando com rendimento em queda, ou seja, embora haja mais pessoas trabalhando, a remuneração desse contingente maior é, em média, menor”. Desse modo, é natural que haja buscas por outras alternativas alheias ao mercado “tradicional” de trabalho, a elas impossibilitado pelas conjunturas.
De acordo com a psicóloga e MBA em Gestão de Pessoas Maria Claudia Martins, hoje, existe uma “geração que quebrou os paradigmas das gerações anteriores, as quais, antes, procuravam profissões estáveis, profissões que possibilitassem aposentadoria, que garantissem estabilidade financeira, empregatícia, e, hoje, não. Esta nova geração que está economicamente ativa é uma geração muito conectada. Ela prima pela comunicação, ela prima pelo novo. É uma geração empreendedora, e com isso vem a independência. É uma geração que precisa unir ‘o útil ao agradável’, ou seja, qualidade, bem-estar e qualidade de vida. Eles trabalham por valores e princípios”. Martins ainda afirma que “a ascensão do influencer digital possibilita trabalhar, fazer o que gosta; possibilita independência geográfica, inclusive”, mas alerta que “engana-se quem pensa que é tudo glamuroso”, pois essa profissão exige muita dedicação: seja na facilidade e na habilidade de comunicar-se; seja no esforço e no foco, com muita atenção às tendências e à flexibilidade que essa atividade demanda; ou no planejamento estratégico para alcançar suas metas e para expandir-se, visando melhores resultados de seu marketing pessoal por meio da relação produtor e espectador.
Valentina Saluz, diretora da Nexxt PR, startup de relações públicas e assessoria de imprensa com renomados clientes em diversos países ao redor do mundo, defende a ideia de que para se destacar é necessário investir na imagem e também em criar uma marca pessoal que as pessoas possam reconhecer: ‘’ É importante criar laços com o público e ter uma narrativa que realmente contem histórias através de conteúdos, é o que chamamos de Storytelling’’ disse a especialista.’’
A profissionalização do influenciador digital é necessária, porque este exerce a função de agência de publicidade autônoma, responsável por disseminar ideias e produtos, de modo a ser ferramenta importantíssima para a manutenção do Mercado como um todo. Uma dinâmica dessas bem executada tende a ser ganha-ganha-ganha: numa ponta o espectador passa a entrar em contato com o produto divulgado, por diversas vezes adquirindo-o com o gostinho especial de se aproximar do influenciador que admira e em quem confia, o que é bom, numa outra ponta, para as marcas anunciantes, pois fidelizam, pelo sentimento de pertencimento, seus consumidores, além de ser, na terceira ponta, excelente para o influenciador, que, mesmo autônomo, dispõe de retorno financeiro e exposição de si, não havendo obrigatoriedade de retornar à nefasta conjuntura do trabalho tradicional do país.