Rafaela Silva admite espanto com reconhecimento público após ouro



A primeira noite depois da conquista do ouro olímpico foi de apenas quatro horas de sono para Rafaela Silva. A judoca chegou à Vila Olímpica às 4 horas da manhã, após intensa agenda de compromissos. Às 8h, já estava de pé para mais um dia cheio. Mas a correria de uma campeã olímpica não incomoda. “Onde eu passo tem um monte de gente batendo palma, agradecendo, gritando meu nome”, contou ela. “Acordei com uma sensação de satisfação e alívio”.

A judoca recebeu a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo para uma conversa no fim da tarde desta terça-feira (9), em um hotel na zona sul do Rio. Na TV, ela acompanhava o quarto dia de competições de judô. Bem disposta, Rafaela curtia o seu momento, mas se mostrou espantada com o reconhecimento que tem sentido nas ruas.

“Eu esperava que com uma medalha eu fosse ser reconhecida, mas não da maneira como estou sendo. O povo brasileiro está me acolhendo, demonstrando carinho por mim, o reconhecimento pela minha conquista, da minha história. É muito importante para a minha carreira”, afirmou Rafaela.

A campeã olímpica disse que está aliviada com a medalha. “Quando acordei, tive uma sensação de satisfação e alívio. Pude realizar meu sonho dentro da minha cidade e do meu País, e pude passar para todas essas crianças da comunidade (Cidade de Deus) que eu saí de lá, acreditei, tive oportunidade e aproveitei. Hoje eu conquistei o mundo”, comentou.

Ela revelou também que tirou dinheiro do próprio bolso para que toda a família e judocas que lhe ajudaram na preparação fossem assistir suas lutas. “A gente só recebeu dois ingressos (comprados pelo COB), e na minha casa moram seis pessoas. Além disso, cada atleta que foi para a Olimpíada tinha outros cinco para ajudar no treinamento – eu tinha um alto, um baixo, um destro e um canhoto -, e só uma que poderia estar comigo na área de aquecimento (da arena)”, explicou.

“Só que todo mundo participou e me ajudou, e eu acho que eles mereciam estar comigo naquele momento. Eu comprei ingressos para eles assistirem, estarem lá perto. O ingresso não era barato, mas valeu a pena.”

Rafaela Silva agora está na expectativa para a próxima visita à Cidade de Deus, favela onde nasceu e deu seus primeiros golpes no judô. “Tenho alguns familiares que moram lá, mas é difícil eu ir, porque tem muito treinamento e competição. Quando não estou viajando ou competindo, fico mais em casa”, contou. “Não faço nem ideia de como vai ser. Eu estou sendo bem recepcionada em todos os lugares que eu passo, e sendo onde ainda vive gente da minha família vai ser bem especial.”

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