Disco privilegia a essência do samba tradicional
Partidário incondicional do samba autêntico, Bruno Cupertino apresenta em “Canto Forte”, seu primeiro trabalho solo, composições ajustadas ao nome do disco: melodias elaboradas, letras consistentes e instrumentação requintada, numa interação singular, a exemplo do que se ouve nas antigas e consagradas gravações de sambas. Embora guardem sonoridade clássica, as 12 canções do disco apresentam temas contemporâneos, com letras que traduzem momentos do cotidiano, como as relações amorosas (“Prazer Insano”, “Bodas de Amor”, “Maria Mercedes”), conflitos privados e públicos (“Bamba Valente”, “Golpe de Vista”), a cultura afrobrasileira (“Pra Oxum Bailar”, “Samba do Libertador” e a música-título) e a própria criação musical (“Samba Pra Ela”, uma celebração do amor, e “Sambê”, um samba gafieirado). A exemplo dos antigos compositores, o jovem sambista junta a força das palavras com a graça das melodias, em uma configuração moderna.
“Canto Forte” foi gravado no Rio de Janeiro, com a participação de músicos prestigiados no cenário carioca, entre eles, Lucas Porto (violonista, arranjador e produtor musical), Pedro Aune (baixo), Eduardo Neves (o flauta e saxofone), Fernando Leitzke (piano) e a cantora Nina Wirth.
A maioria das músicas de “Canto Forte” são frutos de parcerias. “Graças a Deus, tenho vários parceiros, cada um com uma linha musical distinta; e não só no samba, mas também em outros estilos”, comenta o compositor. “Samba do Libertador” e “Maria Mercedes” são de sua autoria, mas “Pra Oxum Bailar”, tem participação de Joãzito e A Parceria e Betinho Moreno, que assina também com ele “Canto Forte”. Já “Jogo Sujo” inclui Joãzito e o cavaquinista Warley Henrique.
Bruno Cupertino se distingue por uma escrita pessoal, forjada em rimas afiadas, melodias fluentes e um forte elo com a cultura afrobrasileira (plenamente expressada em “Samba do Libertador”, “Pra Oxum Bailar” e na própria “Canto Forte”). Há que se destacar também que seu trabalho como compositor não se limita à criação de letra e melodia. Bruno se dedica também aos arranjos, às combinações instrumentais. Entre outros momentos, podemos citar as cordas e o coro em “Prazer Insano”, a levada leve e fluente de “Pra Oxum Bailar”, piano e sopros elegantes em “Jogo Sujo” e a energia contagiante de “Sambê”.
Um aprendizado no samba
Antes de se lançar em carreira solo, Bruno integrou dois grupos de samba de Belo Horizonte, Samba de Quintal (criado no ano 2009) e Camafeu (uma dissidência do Samba de Quintal). Atualmente, ele é acompanhado nos shows pelos integrantes do Camafeu: Betinho Moreno (violão de 7 Cordas), Humberto Dias, Rafa di Souza (violão de 6 cordas), Fabrício Cássio (cavaquinho), Robson Batata (percussão) e Thiago Ramos (sopros).
Sobre sua formação musical, Bruno credita como principais influências os sambistas cariocas Cartola, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento e Noel Rosa, entre outros. Nesta bagagem cabem ainda obras de Chico Buarque, Martinho da Vila e Paulinho da Viola, e da música mineira. “Sempre ouvi muito Milton Nascimento, assim como os outros do Clube da Esquina, e também Helena Penna, Tizumba, Marku Ribas”, especifica. Outra referência que Bruno faz questão de citar é Moacir Santos, maestro, compositor e arranjador pernambucano que fez carreira nos EUA.
A nova geração da música de Minas
Segundo Bruno Cupertino, o aspecto que mais distingue o samba mineiro é a construção melódica. “Aqui, temos uma identidade melódica muito forte, como por exemplo, aquele traçado que Vander Lee sabia fazer muito bem, com frases curtas, rimas internas, melodias muito trabalhadas e letras e palavras bem colocadas”, destaca.
Para o músico, a música feita em Minas vive um período de efervescência, o entrave reside principalmente nos canais de informação. “A música mineira está muito bem representada, seja samba ou MPB. Mesmo que alguns estilos não dialoguem entre si, o intuito é o mesmo. Temos figuras talentosas como Sérgio Pererê, Rafael Soares, Arthur Pádua, Rodrigo Brasileiro (que tem uma parceria com Warley Henrique). O que falta é sermos conhecidos fora daqui. Já estamos prontos”, assegura.
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