Blitz tenta bisar aventura de 1982 em disco com nostalgia da modernidade



*Mauro Ferreira
Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987. Assinou críticas de discos em “O Globo” e na extinta revista “Bizz”, entre outros veículos. Autor do livro “Cantadas – A sedução da voz feminina em 25 anos de jornalismo musical”

 

O título do álbum Aventuras II(Deck) já explicita a intenção da Blitz de evocar de imediato o sucesso de 1982, ano em que a banda carioca lançou o primeiro álbum, As aventuras da Blitz 1, no embalo do sonho que virou realidade em verão que a transformou na banda daquela estação. A cargo de Gringo Cardia, a direção de arte e o projeto gráfico de Aventuras II contribuem para reforçar o link, remetendo à estética dos quadrinhos, elemento visual presente na discografia da banda. Só que os tempos e os verões são outros.

Após (quase) 35 verões, a Blitz reaparece com álbum – o primeiro de músicas inéditas em sete anos – que aloca 28 convidados em 13 faixas. A produção é rica. Mas não a ponto de atenuar o fato de que o repertório autoral, inteiramente assinado pelo resistente Evandro Mesquita com diversos parceiros, soa irregular. Nesse quesito, o álbum anterior da banda, Skut Blitz (2009), resultou ligeiramente superior, talvez por ter sido disco menos pretensioso e, por isso mesmo, mais espontâneo.

Contudo, há bons momentos em Aventuras II. O toque do trio carioca Paralamas do Sucesso no reggae Nu na ilha (Evandro Mesquita e Davi Moraes) – faixa em que Evandro faz destoante discurso contra os políticos – e a adesão inusitada de Zeca Pagodinho em Fominha (Evandro Mesquita, Ralph Canetti e Billy Forghieri), canção de corno que trata com leveza e com o jargão do futebol uma bolada nas costas, valorizam as músicas e o próprio álbum, com o detalhe de que Zeca está bem à vontade em ninho para ele estranho, pois construído fora do quintal do sambista. Chifres são também o tema de Noku pardal (Evandro Mesquita e Suely Mesquita), misto (ruim) de tango e canção brega gravado com a voz de Alice Caymmi, também à vontade no papel da esposa humilhada, mas também traíra.

Já a tentativa da Blitz de cair no suingue black em Baile quente (Evandro Mesquita, Frejat e Billy Forghieri), com a voz e a guitarra do parceiro Frejat, jamais atinge a temperatura ideal. Assim como O último cigarro (Evandro Mesquita e Billy Forghieri) nunca acende a chama do genuíno blues. De todo modo, justiça seja feita, Aventuras II é disco bem acabado do ponto de vista instrumental. Só que nem a guitarra de Andreas Kisser e tampouco o cavaquinho de Pretinho da Serrinha conseguem fazer com que Martelinho de ouro (Evandro Mesquita, Billy Forghieri e Ralph Canetti) bata com inspiração. Seu Jorge canta esta composição que acaba em samba.

Em álbum pautado por excesso de convidados, Sandra de Sá aparece em Júlia, Leila e Edgar (Evandro Mesquita, Billy Forghieri e Mauro Farias), uma daquelas músicas com letras imagéticas típicas das aventuras da Blitz. Tal narrativa cinematográfica é recorrente em Chacal blues (Evandro Mesquita, Chacal, Lui Rocher e Wagner Ribeiro) e na regravação (com leve toque de pop reggae) de O rei do gatilho (Miguel Gustavo, 1962), sucesso do cantor carioca Moreira da Silva (1902 – 2002), o Kid Morengueira, que se afina com o tom espirituoso do som da Blitz.

Enfim, Aventuras II soa fiel à estética musical e visual da Blitz. A questão é que a piada da banda já soa sem graça, ou mesmo repetida, já que embebida em nostalgia de uma modernidade e de uma juventude de tempos idos. Não, em que pese o luxo da produção, a Blitz não consegue passar na estreita peneira do tempo ao se aventurar a bisar neste mediano álbum o frescor do verão de 1982. (Cotação: * * 1/2)

(Crédito da imagem: capa do álbum Aventuras II, da Blitz)

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