Cíntia Santos, psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Ester Assumpção – Acervo pessoal.
De acordo com a psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Ester Assumpção, Cíntia Santos, os empresários precisam inovar, fazer diferente e pensar fora da caixa para terem resultados além da expectativa
Conquistar uma vaga de emprego é um desafio, pois, além da escassez de vagas em algumas áreas, a concorrência é grande. Quando falamos de pessoas com algum tipo de deficiência, a história fica ainda mais complicada, já que além das dificuldades do mercado, o preconceito a ignorância são outros obstáculos a serem enfrentados. Nesse sentido, a semana que celebra o “Dia da Zero Discriminação”, comemorado em 1º de março, instituído pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, promove a diversidade e rejeita qualquer tipo de preconceito, como o de que pessoas com deficiência não estão aptas para certas atividades. O Instituto Ester Assumpção, que atua como elo entre empresas e indivíduos com deficiência, luta, não só nesta data, mas diariamente pela quebra de tabus e a inclusão, sempre levantando a bandeira do respeito.
De acordo com Cíntia Santos, psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Ester Assumpção, o Dia da Zero Discriminação é importante para lembrar a sociedade sobre os aspectos que precisam de atenção. “Infelizmente ainda existem alguns preconceitos. Não podemos desconsiderar os avanços obtidos nos últimos anos, mas percebemos um longo caminho a ser trilhado pelas organizações para que tenhamos um mercado de trabalho que conte com a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiência. Segundo os dados Rais-ME em 31 de dezembro de 2018, a participação dos trabalhadores com deficiência era de 1,1% sobre o total de ocupados formais. Por outro lado, dados do Portal de Inspeção do Trabalho revelam que as cotas para trabalhadores com deficiência não são totalmente preenchidas. Mesmo com o avanço observado no período de 2003 a 2018, em 2018 pouco mais de 50% das vagas destinadas a trabalhadores com deficiência foram preenchidas. Em um total de 768,7 mil vagas potenciais, apenas 389,2 mil preenchidas. Podemos elencar algumas hipóteses para esse cenário. O primeiro deles faz referência à falta de investimento em acessibilidade”, explica.
Segundo a profissional, a dificuldade da entrada de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a soma de vários fatores e não apenas uma questão de preconceito. “A data é muito importante para promovermos ações educativas sobre a importância da valorização da diversidade. A diversidade é algo que é parte da condição humana, portanto nunca é demais reforçar o respeito às diferenças individuais. Embora haja um arcabouço legal que preconize espaços acessíveis, na prática, as empresas ainda estão distantes de um cenário ideal do ponto de vista arquitetônico e instrumental. E quando falamos de questões mais subjetivas, como a acessibilidade atitudinal, o cenário ainda é mais complexo. O que observamos em nossa prática é que boa parte das empresas tendem a ver a contratação de pessoas com deficiência como algo oneroso e sem retorno financeiro, uma vez que têm dificuldades em perceber o valor produtivo de trabalhadores com deficiência. Assim, resistem em investir em melhorias que promovam acessibilidade e inclusão”, explica.
A psicóloga adiciona que as empresas que apostam na prática inclusiva de pessoas com deficiência em seu quadro de trabalhadores podem se beneficiar. Para ela, existem formas de combater a discriminação de certas empresas através do potencial transformador da educação. “Pesquisas recentes têm mostrado é que empresas que investem em práticas inclusivas podem ter aumento no seu faturamento atual, além de outros ganhos como melhoria do clima organizacional e melhora nos índices relacionados à saúde ocupacional. Ou seja, lucros bem além do esperado através de uma mão de obra muito bem qualificada e dedicada. Em relação a discriminação, nós do Instituto, assim como nossa fundadora, acreditamos no potencial transformador da educação. Dessa forma, acreditamos que uma maior conscientização das pessoas, principalmente dos empresários, sobre a importância do investimento em diversidade e inclusão é de fundamental importância para a mudança desse cenário”, explica.
Para Cíntia Santos, o investimento em práticas inclusivas é sempre um bom negócio. “É preciso investir também em pesquisas que demonstrem as melhorias obtidas a partir da contratação de trabalhadores com deficiência, além de construção de métodos e ferramentas efetivas que promovam a inclusão. Hoje o Instituto trabalha junto às empresas com uma visão mais estratégica, voltada para resultados, que tem alcançado retornos significativos, tanto para as pessoas com deficiência quanto para os contratantes. Por fim, é necessário aos empresários a coragem de inovar, de fazer diferente, de pensar fora da caixa. Temos experiências com empresas que contrataram pessoas com deficiências consideradas ‘mais severas’ que obtiveram resultados muito além da expectativa. Ou seja, vale a pena investir em inclusão”, conclui.
Instituto Ester Assumpção
Fundado no ano de 1987, o Instituto Ester Assumpção é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos criada por Ester Assumpção, educadora nacionalmente conhecida pelo caráter pioneiro e inovador no campo do trabalho com minorias. A instituição atua no campo da inclusão da pessoa com deficiência e tem como foco contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva, onde a diversidade seja aceita e respeitada na sua integralidade. As principais frentes de atuação são a qualificação e inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e a consultoria para que as organizações se adequem e cumpram o papel social de promover a inclusão.
Site: https://www.ester.org.br
Instagram: https://www.instagram.com/