Retrospectiva 2021: paralímpicos superam pandemia para fazer história



A instabilidade da pandemia do novo coronavírus (covid-19), especialmente no primeiro semestre, comprometeu significativamente a preparação brasileira à Paralimpíada de Tóquio (Japão). Atletas de diferentes modalidades encontraram restrições para viajar e readquirir ritmo de competição, já que muitos estavam sem disputar eventos desde o início do ano passado. Em outros casos, o último evento foi em 2019. Houve, ainda, situações em que se decidiu preservar aqueles já classificados aos Jogos (ou perto de se garantirem) de idas ao exterior, sob risco de contaminação, com a realização de seletivas internas.

No fim, os brasileiros superaram as adversidades e alcançaram o melhor desempenho da história em uma Paralimpíada. A maior delegação paralímpica do Brasil em um evento internacional, com 259 atletas, voltou de Tóquio com as mesmas 72 medalhas dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, onde o país teve mais esportistas (286) e participou das 22 modalidades. No Japão, rugby e basquete em cadeira de rodas foram exceções. Ao todo, 22 ouros (um recorde) e sétimo lugar no quadro geral.

O atletismo, mantendo a tradição, foi o esporte que mais rendeu medalhas ao Brasil. Foi nele que o país obteve a centésima láurea dourada, com Yeltsin Jacques nos 1.500 metros da classe T11 (cegos). Paralímpico mais rápido do mundo, Petrúcio Ferreira conquistou o bi dos cem metros da classe T47 (amputação nos membros superiores). A modalidade, porém, teve o resultado mais polêmico de um brasileiro em Tóquio, depois que Thiago Paulino foi do ouro ao bronze no arremesso de peso da classe F57 (atletas com deficiência nos membros inferiores, competem sentados), após recurso da China, alegando infração do atleta.

A participação do Brasil em Tóquio foi marcada, também, por sentimentos extremos. Por um lado, a despedida do nome mais vitorioso do paradesporto brasileiro. Aos 33 anos, Daniel Dias se despediu das piscinas com três bronzes e 27 medalhas paralímpicas na carreira. Por outro, o surgimento de novos talentos, boa parte justamente na natação, que alcançou o melhor desempenho do país na história, com 23 medalhas (oito douradas). Dos atletas que foram ao topo do pódio, somente Talisson Glock esteve na Rio 2016. Os demais – Gabriel Bandeira, Gabriel Geraldo, Wendell Belarmino e Carol Santiago – eram debutantes no evento.

Ainda sobre ineditismo, valem mais alguns registros. No goalball, a seleção masculina, considerada há anos como a melhor do mundo, conquistou o sonhado ouro, liderada pela dupla Leomon e Parazinho. Este último – ao lado de Alex Labrador, também campeão em Tóquio – foi campeão mundial de clubes pelo Sesi-SP, no início de dezembro, superando o Sporting (Portugal), justamente o time de Leomon.

Inéditas, também, foram as medalhas douradas de Alana Maldonado (a primeira de uma mulher no judô paralímpico), Mariana D'Andrea (que fez o hino brasileiro soar no halterofilismo pela primeira vez) e Fernando Rufino (o Cowboy de Aço – que virou de ouro – da paracanoagem). Ao todo, o Brasil foi ao pódio em 14 modalidades, ou seja, 70% daquelas em que teve representantes no Japão.

Por fim, vale o registro da participação vitoriosa do Brasil na estreia do parataekwondo nos Jogos, com três medalhas (uma de cada cor), que colocaram o país no topo da modalidade. Em dezembro, o trio Nathan Torquato (ouro), Débora Menezes (prata) e Silvana Fernandes (bronze) brilhou novamente, agora no Mundial de Istambul (Turquia), onde Silvana foi campeã – Nathan e Débora ficaram na terceira posição. Além deles, mais quatro atletas foram ao pódio no evento, mostrando potencial para a edição de 2024, em Paris (França).

Antes dos Jogos na capital francesa, porém, as atenções do paradesporto brasileiro estarão voltadas à Paralimpíada de Inverno, entre 4 e 13 de março, em Pequim (China). Ao longo de 2021, o Brasil assegurou seis vagas no evento, três a mais que na edição anterior, em Pyeongchang (Coreia do Sul). O estreante André Barbieri defenderá o país no snowboard. Já o esqui cross-country será a modalidade com mais representantes: cinco. Três são novatos (Wesley Vinícius dos Santos, Robelson Lula e Guilherme Rocha) e dois experientes (Cristian Ribera e Aline Rocha), que estiveram em 2018.

A dupla “veterana”, aliás, vai a Pequim sonhando com algo além de participação. Especialmente Cristian, que manteve o ritmo competitivo de 2020 e subiu para o terceiro lugar no ranking mundial do esqui cross-country. Aline, por sua vez, foi medalhista de bronze na Copa do Mundo da modalidade, em março, na Eslovênia, além de também ir ao pódio na Maratona de Berlim (Alemanha), em setembro.

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