Do funeral da Rainha Elizabeth II aos maiores eventos esportivos do mundo, um brasileiro é peça-chave na transmissão de áudio



 Por trás da emoção de uma final de Champions League, do silêncio respeitoso no funeral da Rainha Elizabeth II ou do som limpo de uma raquetada em Wimbledon, há sempre uma orquestra técnica atuando com precisão absoluta. E entre os profissionais que comandam esse espetáculo invisível, está o brasileiro Jonathan Domingues Batista, engenheiro de som premiado com um Emmy Award e considerado hoje uma referência internacional em transmissões de alto nível.

Radicado em Londres desde 2018, Jonathan tem marcado presença nos bastidores dos maiores eventos esportivos e institucionais do Reino Unido. Em 2025, ele foi o responsável pela sonorização das partidas decisivas da UEFA Champions League, incluindo a grande final entre Paris Saint-Germain e Inter de Milão, em Munique, no dia 31 de maio. Poucas semanas depois, assumiu novamente o comando técnico do som em outro dos eventos mais prestigiados do calendário esportivo global: o Wimbledon Championships.

“Já são três edições tendo a honra de integrar a equipe de áudio de Wimbledon. Vim de um país vibrante, acostumado à intensidade sonora de estádios lotados, e precisei aprender a adaptar essa experiência à precisão britânica. É um desafio gratificante. Hoje, posso dizer que entendo a linguagem sonora deste evento”, afirma Jonathan.

A engenharia invisível por trás do espetáculo

O trabalho de Jonathan começa muito antes das partidas. Ele participa da calibração dos sistemas de som nas quadras principais e garante a captação clara de entrevistas e coletivas no Media Pavilion. “Trata-se de uma orquestra tecnológica complexa. Cada cabo, mixer e alto-falante tem um papel crítico para que o público do mundo inteiro viva a experiência sonora de Wimbledon com qualidade impecável”, explica.

Em 2025, com mais de 30 emissoras internacionais transmitindo o torneio, a responsabilidade aumentou. “O clima técnico nos bastidores lembra o de uma Olimpíada. É um evento global, com gente do mundo todo. A busca pela perfeição sonora é constante. Usamos tecnologias de ponta, como as redes de áudio Dante, que nos dão flexibilidade e qualidade incríveis na distribuição do som”, destaca.

No futebol, o desafio é diferente. Jonathan foi o responsável pela mixagem de som ao vivo de toda a reta final da Champions League. “É como mixar um filme ao vivo, só que com milhões de pessoas assistindo e sem direito a erro. A gente não consegue silenciar um estádio com 60 mil pessoas. O trabalho é criar uma atmosfera sonora que una emoção, clareza e imersão”, diz.

Realeza, emoção e responsabilidade

Além do esporte, Jonathan também esteve à frente da sonorização de um dos eventos mais simbólicos da história recente do Reino Unido: o funeral da Rainha Elizabeth II, em 2022. A cerimônia foi acompanhada por bilhões de pessoas ao redor do mundo e exigiu um trabalho técnico impecável, com atenção máxima aos detalhes e absoluto controle do som.

“Foi uma honra e uma grande responsabilidade. Saber que o mundo inteiro estava assistindo… é aquele tipo de transmissão em que tudo precisa funcionar perfeitamente. É a essência do ‘zero margem para erro’”, relembra o engenheiro.

Jonathan Batista, o engenheiro de som responsável pela transmissão de audio do Torneio de tênis de Wimbledon

Na ocasião, Jonathan atuou no caminhão de produção da NEP, empresa referência em transmissões de alta complexidade e a mesma responsável pelas operações de áudio e vídeo da Premier League. “Na foto, apareço no setup do caminhão da NEP, que foi utilizado na transmissão do funeral da Rainha e também em outros eventos, como os jogos da Premier League”, explica.

O evento exigiu um trabalho técnico sigiloso e extremamente respeitoso. “Estive dentro do castelo algumas vezes durante a produção, mas o protocolo é rígido. Não é permitido entrar com celular nem máquina fotográfica. A prioridade era garantir um áudio impecável com total discrição”, detalha Jonathan, que descreve a experiência como uma das mais desafiadoras e marcantes de sua carreira.

Da cena musical brasileira a Londres

Jonathan começou sua jornada ainda adolescente, nos bastidores de shows da MPB em hotéis do Rio de Janeiro. Formado pelo IATEC e em Comunicação Social pela CCAA, ganhou destaque ainda jovem ao trabalhar em programas da TV Globo como The Voice Brasil, Esquenta e Domingão do Faustão. Em 2011, decidiu recomeçar em Londres — onde enfrentou dificuldades com o idioma e trabalhou como garçom antes de conquistar sua primeira grande chance nas Olimpíadas de Londres.

Em 2016, integrou a equipe da NBC nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, experiência que lhe rendeu o Emmy Award na categoria Outstanding Technical Team Remote.

Desde então, sua carreira só cresceu. Jonathan foi recrutado por empresas como Telegenic (hoje parte do EMG Group) e NEP, e ampliou sua atuação em produções internacionais da Premier League, DAZN, TikTok, Meta, Amazon, Google DeepMind e outras gigantes do setor audiovisual.

Hoje, ele comanda sua própria empresa e lidera equipes em eventos de altíssimo risco técnico. “Se eu puder servir de exemplo para outros brasileiros que sonham em trabalhar com áudio no exterior, já valeu tudo. Não existe sucesso sem dedicação. Mas com foco, tudo é possível”, conclui.

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