Débora Olindina, médica veterinária e fundadora da PetLândia, fala sobre os bastidores de empreender sendo mulher e os desafios invisíveis por trás do crescimento dos negócios liderados por elas
Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a um crescimento significativo na presença de mulheres no empreendedorismo. Pela primeira vez, elas ultrapassaram os homens na intenção de abrir um negócio nos próximos anos. Mas, por trás das estatísticas promissoras, a realidade de quem já está na linha de frente da gestão é, em muitos casos, silenciosa e solitária.
Débora Olindina Macedo Lopes, médica veterinária e fundadora da PetLândia, conhece bem essa realidade. O que hoje é uma clínica veterinária consolidada em Fortaleza, com equipe estruturada e serviços diversos, começou de forma modesta, com faturamento baixo e apenas um funcionário. “Eu fazia absolutamente tudo. Comprava, limpava, atendia, gerenciava. O negócio era inteiro nas minhas costas, e isso sem abrir mão das responsabilidades de casa. Era exaustivo”, conta.
Débora não só construiu a empresa do zero como também mudou de profissão para isso. Antes da Medicina Veterinária, ela era formada em Educação Física. O sonho de cuidar de animais sempre esteve presente, mas só foi possível colocá-lo em prática aos 33 anos, quando decidiu voltar para a sala de aula. “Foi um recomeço cheio de dúvidas. E sendo mulher, a cobrança é ainda maior. Você precisa provar sua competência o tempo todo, inclusive para si mesma.”
De acordo com dados recentes do Sebrae, mais de 10 milhões de mulheres no Brasil são donas de negócios. A maioria atua no setor de serviços, e grande parte delas também acumula a função de chefe de família. A carga mental é um tema recorrente. Três em cada quatro mulheres que empreendem relatam se sentir sobrecarregadas ao conciliar a gestão da empresa com os cuidados da casa, dos filhos ou de familiares. É uma sobreposição de tarefas que raramente ganha espaço nos discursos celebratórios sobre o “empreendedorismo de sucesso”.
“Existem muitas histórias de mulheres que começaram sozinhas, com pouco recurso, e cresceram com muito esforço. Mas o que quase ninguém fala é o quanto esse processo cobra da saúde física e mental da gente. Às vezes parece que é preciso estar o tempo todo no limite para provar que você é capaz”, afirma Débora.
Ao mesmo tempo, há uma mudança em curso. Mulheres estão não apenas empreendendo mais, mas também ocupando espaços de liderança e criando negócios com propósito. Muitas enxergam na autonomia do empreendedorismo uma forma de fazer diferente: com mais escuta, com impacto social, com visão de cuidado. É o que Débora tenta construir com a PetLândia — um espaço onde o acolhimento, o conhecimento técnico e o respeito à rotina do tutor se encontram.

Ainda assim, ela reconhece que o ambiente segue desigual. Mesmo com o aumento da escolaridade e da qualificação profissional, a participação das mulheres em cargos de decisão e nas esferas mais estratégicas do mercado continua desproporcional. “Não basta empreender. A gente precisa resistir todos os dias para ser levada a sério.”
Apesar dos desafios, Débora não se arrepende de ter seguido esse caminho. “Empreender sendo mulher exige coragem, e também uma certa teimosia. Mas é nisso que mora a transformação. Cada passo que a gente dá abre caminho para outras virem também.”
Para conhecer o trabalho da Dra. Débora e acompanhar conteúdos sobre saúde e bem-estar animal, siga no Instagram @debora_nutrivet.