Da arte de rua para as telas: artistas Elvis Almeida e Rena Machado apresentam exposições individuais inéditas na dotART galeria



Rena Machado – Divulgação.

 

Mostras ficam em cartaz até o dia 4 de novembro

A dotART galeria tem se firmado como um dos poucos espaços no Brasil onde os artistas podem se reinventar, experimentar e apresentar novos fazeres artísticos. Além de fomentar a produção e o consumo da arte, quem ganha é o público, que pode conhecer os expoentes do cenário brasileiro. É o caso das exposições inéditas “Baluarte de Ramos”, de Rena Machado, e “Enredo para redenção: sabiá, açaí, ou qualquer tipo de proteção tropical”, de Elvis Almeida, que podem ser visitadas até 4 de novembro de 2023.

Wilson Lazaro, curador e diretor artístico da dotART destaca dois ineditismos nas exposições. Enquanto Elvis Almeida traz para “Enredo para redenção: sabiá, açaí, ou qualquer tipo de proteção tropical” suas mais recentes criações, Rena Machado apresenta em “Baluarte de Ramos” sua primeira mostra em galeria, reescrevendo suas experiências de murais para as telas.

“Quando conheci o trabalho de Rena, foi algo que me surpreendi. O artista olha o passado e tem suas referências, mas é capaz de inovar e trazer esse frescor necessário para a arte atual. Ele transforma a linguagem com muitas emoções em suas técnicas, é quase como se rasgasse as temáticas já conhecidas e apresentasse algo verdadeiro, que impacta e arrebata quem admira suas obras”, ressalta o diretor sobre o artista estreante.

No que diz respeito ao trabalho inovador de Elvis, Wilson Lazaro pontua que suas obras estão intrinsecamente ligadas à sua história de formação, que abrange desde suas influências nas histórias em quadrinhos e em outros artistas brasileiros, até sua vivência urbana em uma cidade grande. “Os elementos de suas obras trazem um apelo sensorial e alegre, ao mesmo tempo em que refletem um caráter atemporal e incerto. O artista cativa o olhar e conta uma história, mesmo em pinturas abstratas, com muitas formas e cores”.

Embora distintas e individuais, as exposições se convergem principalmente no que diz respeito à origem das expressões artísticas de ambos os pintores. Amigos de longa data, se conheceram ainda na adolescência, por meio do graffiti na Rua de Ramos no Rio de Janeiro, vieram da mesma escola de artes de rua e mantém um diálogo sobre o universo da pintura.

Rena Machado – Baluarte de Ramos

Em “Baluarte de Ramos”, pela primeira vez o público vê o trabalho de Rena Machado em telas, totalizando 13 delas na mostra. Já conhecido em grandes murais do Rio de Janeiro, o artista tem buscado novas formas de se expressar, onde tenta pensar de outro modo para se ver diferente, ou vice-versa.

Em suas obras, o pintor se dá a liberdade de lidar com a pintura, unicamente pela pintura, onde para ele não há apagamentos, apenas camadas. “A tinta sobre a tinta enterra o que foi considerado superficial e deixa na superfície o alcance do profundo. Navego entre as dimensões através das cores, manipulando suas frequências. O resultado é o mapa do caminho que percorro pra alcançar o estado de consciência do momento da criação”.

Rena Machado vem de uma cultura figurativa, onde há moralismo e construção de cultura ordenada, o que impulsionou uma arte que ressalta a desordem em um trabalho de resistência que transborda aos olhos de quem aprecia cada um de seus quadros.

“A minha pintura não depende só de mim, depende do espectador, então quando uma pessoa chega de frente para a pintura, ela se questiona sobre o que está vendo. Para mim, faz sentido deixar as nuances abertas e cada um construir e participar a seu modo do que ali está retratado”, finaliza.

O curador Paulo Azeco traduz bem o trabalho do artista: “sua produção eclode de forma visceral a partir de uma intensa pulsão criativa, que é baseada em sua experiência figurativa anterior no grafitti; mas que se manifesta do desejo psíquico e assume resposta numa abstração forte, segura, quase sólida, que ultrapassa as barreiras entre qualquer imposição formalista ou de gênero”.

Rena Machado nascido, criado e residente do subúrbio carioca, teve sua inserção nas artes visuais através do graffiti, tendo como sua primeira experiência de ateliê a rua. Seu trabalho tem morada no hiato entre a figuração e a abstração que propõe uma visualidade híbrida na experiência da contemplação de aspectos pictóricos e gestuais em pinceladas que resgatam heranças da pintura clássica e moderna.

A poética do trabalho propõe questões empíricas que Rena sugere de maneira subjetiva em sua tríplice: social, política e espiritual. Uma síntese da experiência da existência humana, com pitadas de adrenalina adquirida nas vivências das ruas da zona norte do Rio de Janeiro.

Elvis Almeida – Enredo para redenção: sabiá, açaí, ou qualquer tipo de proteção tropical

Figura já conhecida na dotART galeria, onde realiza exposições desde 2017, Elvis Almeida criou as obras que compõem “Enredo para redenção: sabiá, açaí, ou qualquer tipo de proteção tropical” há apenas dois meses.

Em sua prática artística voltada para a pintura, o artista adota uma metodologia pessoal que não se baseia em referências reais ou imaginárias. Em vez disso, ele se expressa através de formas, cores e gestos de maneira singular e dinâmica. Suas obras transitam entre o figurativo e o abstrato, caracterizando-se por repetições de padrões circulares, pontos, linhas e listras.

As sete pinturas que integram a exposição foram pensadas como um grande desfile das escolas de samba, desde sua narrativa quanto composições: “Enquanto fazia uma das pinturas, comecei a lembrar da ideia da pintura alegórica, das alegorias. Comecei a lembrar dos carros alegóricos, das escolas de samba, dos sambistas e dos enredos e da maneira como as narrativas vão sendo construídas no decorrer de um desfile de escola de samba. Então, achei divertido a ideia de encarar cada pintura que eu estava fazendo como se fosse um carro alegórico, cada pintura representando uma Ala diferente”, explica.

Elvis Almeida nasceu em 1985 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha.  Graduou-se em Gravura na UFRJ, em 2013, e frequentou cursos de Serigrafia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e de História da Arte na ONG Redes da Maré, todos no Rio de Janeiro. Suas exposições individuais incluem: “Revelação durante o nascimento de uma gota”, pensada para a dotART galeria, mas exposta inicialmente no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2018); “Ponta Seca Torta / Faca Cega”, no Galpão Fortes D’Loia & Gabriel (São Paulo, 2017); “O cotidiano das estruturas familiares”, no Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro, 2017); “Certezas para dobrar”, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2016); “Uma cidade de xapisco dividida por um muro de cau”, na Amarelonegro Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2010).

Entre as coletivas, destacam-se: o 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, no Sesc Pompeia (São Paulo, 2017); “Pintura”, na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2017); “Um desassossego”, na Galeria Estação (São Paulo, 2016); “Oito artistas”, na Mendes Wood DM (São Paulo, 2016); “Gramática urbana”, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2012); “Arte Pará”, na Fundação Romulo Maiorana (Belém, 2011); “Reality reimagined”, na Modified Arts (Phoenix, 2010) e VI Bienal Internacional de Arte da Bolívia (La Paz, 2009).

SERVIÇO

dotART galeria

Exposições: “Rena Machado – Baluarte de Ramos” | “Elvis Almeida – “Enredo para redenção: sabiá, açaí, ou qualquer tipo de proteção tropical”

Visitação: Até 4 de novembro

Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 18h | sábado, das 10h às 13h

Local: dotART galeria (rua Bernardo Guimarães, 911, Savassi, Belo Horizonte)

Entrada gratuita

Informações: (31) 3261-3910

https://www.instagram.com/galeriadotart/

Sobre a dotART

A dotART galeria foi criada pelo casal Feiz e Maria Helena Bahmed na década de 70, hoje dirigida por Leila Gontijo e Wilson Lazaro. É uma galeria de arte pioneira na divulgação e promoção da arte em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, apresentando uma arte vanguardista com grandes apostas para o cenário cultural da cidade como Volpi, Ianelli e Mabe e Tomie Ohtake.

Fez de seu espaço um lugar para ser, pensar, produzir, experimentar, celebrar e comercializar a arte de uma forma poética. Isso possibilita, ao longo de sua trajetória, uma maior eficácia na relação entre o espectador e o objeto de arte em foco.

Através da sua programação de exposições constantemente, apresentou aos mineiros um elenco de criadores com diferentes linguagens e suportes. A larga experiência e seriedade na parceria com novos valores fizeram da galeria também um posto avançado da produção mais atual da arte no Brasil e no mundo. Ao longo desses mais de 40 anos, vários artistas já passaram pela galeria, que tem um acervo cuidadoso e especial que transita entre o acadêmico, moderno e o contemporâneo.

Total
0
Shares
Deixe um comentário
Próximo Artigo

Quer negociar suas dividas? Cuidado com os golpes!

Artigo Anterior

O valor dos torneios de esports: unindo jogadores em todo o mundo

Relacionados