Médico brasileiro publica resultados de pesquisa sobre tratamento precoce do COVID-19



O Cardiologista, Gilmar Reis coordenou o ensaio clínico intitulado: efeito do tratamento precoce com hidroxicloroquina ou lopinavir e ritonavir-sobre o risco de hospitalização entre pacientes com Covid-19

Desde o ano passado, muito vem sendo discutido sobre o uso da hidroxicloroquina e outros medicamentos, no tratamento precoce da COVID-19. Mesmo não sendo recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a comercialização do remédio ganhou força no Brasil em 2020, aumentando em 107% nas vendas do produto.

Para oferecer à população uma informação mais precisa sobre o uso do medicamento, um grupo de pesquisadores brasileiros liderados pelo  cardiologista Gilmar Reis conduziram um ensaio clínico multicêntrico o qual avaliou o benefício de  hidroxicloroquina ou lopinavir e ritonavir em pacientes com quadro recém diagnosticado de COVID-19. Tais medicamentos apresentavam resultados promissores e estudos retrospectivos observacionais sugeriam um benefício destes medicamentos, entretanto a ausência de estudos prospectivos, randomizados e controlados por placebo não permitiam as conclusões definitivas sobre o papel destes fármacos no tratamento de pacientes com COVID-19. “É importante estes ensaios clínicos pois diversas variáveis podem interferir com uma avaliação isenta acerca de medicamentos em uso para tratamento da COVID-19”, comenta o cardiologista.

A pesquisa em que o médico conduziu foi direcionada a pessoas com quadro de síndrome gripal aguda e que procuraram as Unidades Básicas de Saúde e Pronto-Atendimentos das cidades participantes. “Trata-se de um estudo genuíno, com foco na atenção primária do SUS, onde mais de 80% da população  brasileira recebe seus cuidados em saúde”, salienta o pesquisador.

Dez cidades aceitaram participar da pesquisa e aproximadamente 685 pacientes foram incluídos entre Junho e Setembro de 2.020. Segundo o pesquisador, por ocasião da primeira análise interina do estudo o comitê independente de monitoramento de dados e segurança decidiu por recomentar a interrupção das duas medicações em avaliação devido a futilidade. “As medicações não apresentaram resposta diferente do grupo placebo, não se sustentando eticamente a continuidade da pesquisa, motivo pelo qual o Comitê independente recomendou a interrupção da pesquisa”, esclarece o especialista.

 

Eficácia não comprovada

Segundo informações constatadas no estudo, não foram encontrados dados comprobatórios que diferenciam a resolução dos sintomas da Covid-19 usando a hidroxicloroquina e placebo juntos ou lopinavir-ritonavir  do grupo que utilizou placebo nem tampouco a redução das hospitalizações.

Ademais, em alguns casos, houveram também eventos adversos associados ao uso de hidroxicloroquina. Segundo os dados publicados, 5,3% dos pacientes em uso de hidroxicloroquina necessitaram de interromper a medicação devido a efeitos colaterais considerados medicamente importantes.

Este ensaio clínico foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e financiado pela Fundaçãso Bill & Melinda Gates através de um “research award” em parceria com a Washington University, a qual também conduziu um estudo em Hidroxicloroquina em pacientes com sintomas de COVID leves. O pesquisador também contou com a co-autoria de cientistas renomados da McMaster University, os quais deram todo o suporte acadêmico para o estudo, em conjunto com a Washington University. Segundo o que consta nos dados publicados, a pesquisa contribuiu para corroborar a crescente evidência  de que ambos os medicamentos não devem ser usados no tratamento do Coronavírus em fase inicial, com sintomas leves.

De fato a pesquisa é mais um ensaio clínico randomizado que demonstra a ineficácia da Hidroxicloroquina em COVID-19, somando-se a outros estudos randomizados. “Ao propor um ensaio deste porte pensamos sempre na possibilidade dos fármacos serem benéficos e mudarem a história natural da doença. Entretanto não é raro a situação de dados observacionais não serem confirmados nos estudos randomizados”, pontua o pesquisador.

A pesquisa pode ser lida na íntegra e foi publicada no JAMA Open Network Journal, do grupo editorial JAMA, um dos mais importantes do mundo em publicações na área Médica e pode ser acessado através do seguinte link:  https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2779044

 

Fonte: Gilmar Reis, Cardiologista e especialista em Clínica Médica e Medicina Intensiva, é o pesquisador principal desta pesquisa diretor técnico da CARDRESEARCH (@dr_gilmarreis).

Foto: Internet.

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