O sentimento de que existe sempre algo de errado com a maternidade tem se agravado entre as mães durante a quarentena.
A quarentena como forma de conter a proliferação da Covid-19 tem deixado muitas mães de “cabelo em pé”. Crianças são de fato mais enérgicas, querem brincar e se ocupar de alguma atividade na maior parte do tempo. Por estarem passando quase 24 horas do dia dentro de casa, o estresse, tanto para os pequenos, quanto para os adultos, sendo cada qual com seus motivos, tem sido frequente nas famílias brasileiras. O que tem feito com que o sentimento de culpa se estreite ainda mais na maternidade, por, na maioria das vezes, não conseguirem suprir e atender aos anseios dos filhos.
Telma Oliveira é psicóloga, segundo ela, “após o parto é muito comum que apareça o chamado “blues puerperal”, em até 80% das recém-mães, que tem duração aproximada de até duas semanas. Quando estes sentimentos persistem por mais de três a quatro semanas após o nascimento do bebê, ou se alguns meses depois aparecem situações de confusão, próximos a delírios, é importante buscar apoio profissional para que o bem-estar psíquico na transição para a maternidade no ciclo gravídico puerperal receba o tratamento e a atenção adequados”.
“A maternidade não é fruto de um dom natural e a ambivalência de sentimentos é comum em todas as gestações, assim como as relações maternas. É hora de sermos mais gentis com todos e espalharmos apoio e empatia. Esse período traz muitos sentimentos. As mães muitas vezes não se sentem bem e necessitam de apoio para este momento. Você é a melhor mãe que pode ser”, elucida.
Telma explica que errar faz parte das nossas vidas, inclusive, das mães. Ela frisa que terão dias em que as mães irão gritar com os filhos, mas, na maioria das vezes, elas irão sorrir com eles. “O que importa é errar e corrigir os seus erros, isso também é uma forma de educar, pois você é o espelho de seu filho, que também vai errar e aprender com você a consertar os erros cometidos”.
De acordo com a especialista, “se hoje você gritou com ele ou falou mais grosso, isso não te faz menos mãe, te faz humana. Não é porque você foi menos paciente com ele hoje que amanhã será assim também! Todos nós somos humanos e uma mãe vai sim gritar com seu filho uma hora ou outra. Lembre-se, você é humana! Se dê uma chance!”.
Cuide de você também
A tarefa materna não é fácil. Têm seus devaneios, erros e acertos diários. Cada dia é um aprendizado novo entre mães e filhos. Uma descoberta aqui e outra ali corriqueiramente. Uma verdadeira graciosidade. Entretanto, as mães também são humanas, elas se cansam e necessitam de um tempo consigo mesmas, mesmo sendo por alguns corridos minutos. A depressão materna, se não cuidada, pode provocar sérios danos e, geralmente, é iniciada assim: no dia a dia, enquanto ela cuida de todos e esquece de si.
“Cuidar da vida, dos filhos e da casa é uma tarefa extremamente difícil. Se engana aquele que diz, “mas você está cansada de que? Você só é mãe dona de casa” pior quando se é mãe dona de casa e ao mesmo tempo precisa trabalhar fora! É uma lista enorme de dificuldades que uma mãe passa, por exemplo, às vezes você come muito mal (e quando come), o banho deixa de ser prazeroso, pelo fato de poder durar 5 minutos, porque os filhos não podem ficar muito tempo sozinhos, os filhos choram, brigam, fazem birra e no final do dia você percebe que não conseguiu cumprir todas as suas tarefas!”, exemplifica a profissional.
Se culpar e não se preocupar com suas emoções, não mudará a sua rotina, apenas te deixará exausta, tanto na parte física, quanto na parte emocional. Para esses problemas, a psicóloga dita a receita: “quando se sentir culpada ou achar que não exerce a maternidade corretamente, procure ajuda, uma amiga (o), ou alguém de confiança, para conversar, assim você terá forças para amar a si mesma e deixar a culpa de não sermos boas mães para trás”.
Ademais, Telma também destaca a relevância de um acompanhamento profissional. “Quando alguém nos ouve, especialmente um profissional, podemos deixar a cenas atrapalhar. A terapia é de suma importância para você que está cansada e impaciente, pois, quando falamos de nossos medos, nós criamos força e paciência para ouvir os medos de nossos filhos!”.
Fonte: Telma Oliveira é psicóloga e especialista em gestão de pessoas, psicologia médica, neuropsicologia, terapia sistêmica e TDAH (@telmaoliveirapsicologa).