Marcelo Henrique
Quanto mais se sofisticam os aparelhos eletrônicos com acesso à Internet, maior a capacidade de produção, pelas pessoas, de um universo humano significativamente diverso, mas paralelamente importante, bem ao nosso lado. E não se trata do anunciado metaverso, tão prenunciado pelas gigantes da tecnologia. Estou falando do mundo irreal – cada vez mais vendável – edificado nas redes sociais, onde as personagens são ideais, sempre perfeitas, e construídas com o apoio de muita tecnologia de vídeo o fotografia.
Há pouco tempo, quando nos deparávamos com artistas, a sensação era de se estar na presença daquele ídolo quase inatingível, muito distante de nossa realidade. Cultuávamos os artistas como “seres” de outra dimensão, não sujeitos aos mesmos protocolos que nós, mortais, estaríamos. Isso na época da TV, em que apenas alguns programas, chamados de “fofoca” contavam a vida pessoal dos artistas, satisfazendo a curiosidade de uma imensa legião de fãs daquelas pessoas inatingíveis. Nos dias de hoje, ao contrário, regidos pelo lema do Broadcast yourself, os novos e até veteranos artistas fazem questão de dividir com o público suas atividades cotidianas mais corriqueiras.
Para os fãs, uma saudável interação com o dia-a-dia de seus ídolos. Para a publicidade, um mar de oportunidades infinitamente superior àquelas limitadas aos trabalhos da teledramaturgia ou da música, por exemplo. Mas, para um crescente número de seguidores, o estilo de vida daquela celebridade passa ser um modelo a seguir, o que lhes faz impor a si mesmos metas insanas, muitas vezes comprometendo a higidez da pessoa. E quando esse abalo se opera na esfera mental, indivíduos acabam criando personagens que irão representa-los no mundo virtual completamente descolados de suas personalidades e condições de vida, dando azo à criação de comunidades com características paronímias, todas capazes de estabelecer um verdadeiro universo paralelo dentro da Internet.
Esse desencontro com o lastro da realidade costuma causar uma grande decepção quando esses novos ídolos ou influencers são encontrados na vida real, ao contrário do que era observado com os artistas da TV. Justamente aqueles que vivem nesse universo paralelo de uma perfeição e sucesso financeiro apenas no plano virtual, o choque costuma ser ainda maior, podendo gerar ainda mais transtornos psicológicos tanto no ídolo quanto no seu fã decepcionado. Sem olvidar daqueles que fazem de sua meta de vida tornarem-se um ídolo oco, que existe apenas nos filtros e lentes das redes sociais, completamente descolado de seu eu no mundo real.